Dia desses, conversando com o marido de uma leitora do Crônicas, tive o seguinte diálogo:
- O diagnóstico dela foi horrível, pois o médico foi curto e grosso,
disse que a surdez era progressiva e que um dia ela iria perder toda a
audição. Ele podia ter sido mais suave no modo como nos comunicou o
fato.
- Mas qual foi a reação de vocês com esse tapa na cara?
- No outro dia estávamos em busca de aparelho auditivo.
- E ela está bem?
- Está 100% adaptada e feliz com eles.
Depois do papo, só consegui lembrar do dia do meu diagnóstico.
O médico não foi ‘curto e grosso’, teve a preocupação de ser delicado e
sensível até. Minha reação, qual foi? Saí do consultório e disse para a
minha mãe que nunca mais tocasse nesse assunto e voltei pra casa fingindo que não era comigo.
Passei bons anos negando o fato e prejudicando ainda mais a minha saúde
física e mental. Só busquei ajuda quando já estava quase nas últimas,
mesmo.
Não faz muito, estive numa situação em
que uma pessoa importante fez uma audiometria e constatou uma
significativa perda auditiva – por pessoa ‘importante’ leia-se uma
figura pública conhecida. Para minha surpresa, a reação da pessoa foi: “Sério?
Bem que percebi que ando colocando esse ouvido perto de quem fala
comigo. Ah, mas também, não tem problema. Depois eu vejo isso!”
Juntando alhos e bugalhos, vamos à
realidade. Por experiência própria posso dizer que um diagnóstico
‘suave’ que não mostra ao paciente o quanto ele irá se prejudicar caso
não busque ajuda, não é o ideal. A surdez envolve tanta negação
que um diagnóstico assim parece dar aval para que o paciente se sinta
no direito de negar ainda mais. A pessoa fica com aquela sensação de ‘isso não é urgente, tenho tempo‘.
O que funciona, na minha opinião, é um bom ‘tapa na cara‘.
Choque de realidade, toque de amigo, bofetão na fuça, tapa na cara,
chamem como bem preferir. Doçura não faz ninguém cair na real, falar a
verdade faz. Se eu fosse otorrinolaringologista e precisasse dizer a um
paciente que ele tem surdez progressiva (ou qualquer outra), diria o
seguinte:
- O diagnóstico é esse. Você tem duas opções:
voltar para casa e fingir que não esteve aqui ou sair daqui e procurar
reabilitação auditiva. Se você optar pela primeira, lamento dizer que
sua vida ficará cada vez mais difícil. Você vai se prejudicar em vários
níveis: físico, emocional, familiar, profissional, social e
principalmente cognitivo. E quando decidir correr atrás do prejuízo,
talvez seja tarde demais. Como lhe considero uma pessoa informada e
inteligente, acredito que você vai buscar qualidade de vida o mais
rápido possível. A adaptação a um aparelho auditivo é um processo lento e
requer muita resiliência, portanto, se me permite um conselho, não
perca tempo. Negação, raiva, depressão e fingimento não vão lhe levar a
lugar nenhum. A reabilitação auditiva vai lhe levar a incontáveis
lugares. Portanto, cabe a você tomar a melhor decisão!
Gostaria de ter ouvido isso há muitos anos atrás porque tenho consciência do preço alto que paguei por perder meu tempo.
Dou os parabéns para os médicos que têm esse tipo de atitude – eles não
estão sendo ‘ruins e grossos’ como algumas pessoas reclamam, pelo
contrário, estão dando a sacudida doída que o paciente deles precisa para cair na real e tratar a surdez com a seriedade que ela exige.
Não posso deixar de perguntar e gostaria da contribuição de vocês: como foi o seu diagnóstico e o que você fez após recebê-lo?
http://cronicasdasurdez.com/diagnostico-de-surdez-qual-e-a-melhor-abordagem/
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