A história do Câmpus Palhoça Bilíngue, desde os primeiros movimentos para implantar a educação de surdos na então Escola Técnica Federal de Santa Catarina (ETF-SC) no início dos anos 1990 até os dias atuais, é contada em um documentário produzido por servidores do IFSC e lançado nesta semana, durante 2º Seminário Nacional de Educação Bilíngue Libras-Português (SNEB).
Com 1h06min de duração, o vídeo, chamado “Esse é o meu sinal – Câmpus Palhoça Bilíngue!” traz cerca de 20 entrevistas com pessoas que participaram da construção da educação de surdos no IFSC – como gestores, professores, técnicos administrativos, ex-estudantes da instituição e seus familiares – e imagens antigas e atuais. O vídeo será publicado em breve no canal do Câmpus Palhoça Bilíngue no YouTube, mas um teaser dele já está disponível no canal (confira a seguir) e no perfil do câmpus no Instagram.
Todo o trabalho – desde o roteiro, a captação de imagens, as entrevistas, a tradução para língua de sinais (Libras) e a dublagem dos depoimentos dos surdos – foi feito por servidores do Câmpus Palhoça Bilíngue e da Reitoria.
A produção do documentário começou em agosto de 2022, visando as comemorações dos 10 anos de funcionamento do Câmpus Palhoça Bilíngue em sua sede atual, completados em setembro de 2023, quando uma versão prévia do documentário foi exibida. Desde então, a equipe responsável continuou trabalhando no vídeo, apresentando oficialmente em 6 de novembro, durante o SNEB, realizado em São José.
O tecnólogo em produção multimídia e audiovisual Marcelo Augusto de Freitas Faria, do Câmpus Palhoça Bilíngue, foi o diretor do documentário e conta que o roteiro foi definido após entrevistas com três professores pioneiros da educação de surdos no IFSC no Câmpus São José (na época, Unidade São José da ETF-SC) – Mara Lúcia Masutti, Paulo César Machado e Vilmar Silva – e que depois se transferiram para o Câmpus Palhoça Bilíngue.
“Toda história contada é um recorte. E não queríamos ser nós a definir esse recorte somente pela nossa cabeça”, comenta Marcelo, referindo-se à equipe de produção do documentário, que inclui servidores do câmpus e a jornalista Giovana Perine Jacques, da Reitoria. As informações colhidas nas entrevistas balizaram os aspectos da história do câmpus que o vídeo iria contar.
O documentário mostra a origem da educação de surdos no IFSC, que começa com a entrada do primeiro estudante surdo da então Unidade São José da ETF-SC (hoje Câmpus São José do IFSC), Fernando Ranzolin Nerbass, que integrou a primeira turma do curso técnico em Refrigeração e Climatização (chamado Refrigeração e Ar Condicionado na época), em 1988.
Fernando e seu pai, Sérgio Martinho Nerbass, são entrevistados no vídeo, assim como os professores Mara (português), Paulo (biologia) e Vilmar (matemática), que começaram a pensar em como adaptar o ensino depois da entrada de Fernando e de outros estudantes surdos na unidade de São José no início dos anos 1990. Para isso, foi criado o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação de Surdos (Nepes).
O vídeo também aborda a luta dos movimentos de surdos e dos educadores para conseguir a criação de cursos de línguas de sinais e de formação de professores bilíngues, além do sonho de ser criada uma escola bilíngue. Inicialmente, o então Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina (CEFET-SC, nome que o atual IFSC teve de 2002 a 2008) iria implantar uma unidade especializada em educação de surdos em São José. No entanto, dificuldades encontradas no relacionamento com a prefeitura do município na época – fato que é relatado no vídeo – levaram a unidade a ser implantada na vizinha Palhoça, dando origem ao Câmpus Palhoça Bilíngue.
O câmpus funcionou em estrutura provisória de 2010 a 2013, em instalações cedidas pela Faculdade Municipal de Palhoça (FMP). A sede atual, no bairro Pedra Branca, foi inaugurada em 26 de setembro de 2013, no Dia Nacional do Surdo – data que faz referência à criação da primeira escola para surdos do Brasil, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), no Rio de Janeiro, em 1857.
Desde então, o Câmpus Palhoça Bilíngue tornou-se referência em educação de surdos para o país, recebendo estudantes de toda a Grande Florianópolis e até de outras regiões de Santa Catarina e de outros estados. Além disso, o câmpus destaca-se hoje na produção de material didático bilíngue (Libras-português) e na formação de profissionais para a educação de surdos em todo o Brasil, por meio do ensino a distância.
“Foi graças aos recursos obtidos com os projetos de elaboração de material didático que conseguimos adquirir equipamentos bons que permitiram produzir o documentário com a qualidade que ele tem”, destaca Marcelo de Freitas, o diretor da obra.
Com formação em Cinema, Marcelo tinha uma produtora de vídeos em Uberlândia (MG) antes de tornar-se servidor federal e já possuía experiência com documentários. O do Câmpus Palhoça Bilíngue, porém, trouxe um desafio extra para ele e a equipe: adaptar a linguagem cinematográfica para os surdos.
Além de legendas e da presença de um intérprete de Libras em todas as cenas do vídeo, o enquadramento dos entrevistados, a transição entre cenas e o uso de imagens para cobrir as entrevistas tiveram que ser pensados de maneira que não dificultasse a compreensão dos surdos.
“Não há um manual para isso, mas, como a gente já fez muitos projetos, já tínhamos uma bagagem”, comenta o operador de câmera de cinema e televisão Felipe Garcia Freitas, que também tem formação em Cinema e atuou como diretor de fotografia do documentário. Os professores surdos do câmpus ajudaram na construção da linguagem do vídeo, atuando como “consultores”.
A relações-públicas do Câmpus Palhoça Bilíngue, Sônia Regina de Oliveira Santos, que trabalhou na produção do documentário, avalia que ele pode, além de ser uma fonte de registro histórico, ser usado por pessoas que estudam a área de educação de surdos. E ela resume o sentimento de todos os que atuaram nos últimos dois anos na produção da obra: “é a concretização de um sonho”.
FONTE:
https://www.librasol.com.br/documentario-conta-a-historia-do-campus-palhoca-bilingue/
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