RYBENINHA

RYBENINHA
SINAL: BEM -VINDOS

DÊ-ME TUA MÃO QUE TE DIREI QUEM ÉS



“Em minha silenciosa escuridão,
Mais claro que o ofuscante sol,
Está tudo que desejarias ocultar de mim.
Mais que palavras,
Tuas mãos me contam tudo que recusavas dizer.
Frementes de ansiedade ou trêmulas de fúria,
Verdadeira amizade ou mentira,
Tudo se revela ao toque de uma mão:
Quem é estranho,
Quem é amigo...
Tudo vejo em minha silenciosa escuridão.
Dê-me tua mão que te direi quem és."


Natacha (vide documentário Borboletas de Zagorski)


SINAL DE "Libras"

SINAL DE "Libras"
"VOCÊ PRECISA SER PARTICIPANTE DESTE MUNDO ONDE MÃOS FALAM E OLHOS ESCUTAM, ONDE O CORPO DÁ A NOTA E O RÍTMO. É UM MUNDO ESPECIAL PARA PESSOAS ESPECIAIS..."

LIBRAS

LIBRAS

LIBRAS

LIBRAS
"Se o lugar não está pronto para receber todas as pessoas, então o lugar é deficiente" - Thaís Frota

LIBRAS

LIBRAS
Aprender Libras é respirar a vida por outros ângulos, na voz do silêncio, no turbilhão das águas, no brilho do olhar. Aprender Libras é aprender a falar de longe ou tão de perto que apenas o toque resolve todas as aflições do viver, diante de todos os desafios audíveis. Nem tão poético, nem tão fulgaz.... apenas um Ser livre de preconceitos e voluntário da harmonia do bem viver.” Luiz Albérico B. Falcão

QUANDO EU ACEITO A LÍNGUA DE SINAIS

QUANDO EU ACEITO A LÍNGUA DE SINAIS
“ A língua de sinais anula a deficiência e permite que os sujeitos surdos constituam, então, uma comunidade linguística minoritária diferente e não um desvio da normalidade”. Skliar

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Soprano, funcionária pública e surda oralizada

MartaGainoCoral

“Olá Paula,
Acabei de ler seu livro e me identifiquei com quase todas as situações relatadas por você e pelos demais leitores. Incrível como a gente aprende sobre si mesmo a cada dia que passa, basta estarmos abertos para o mundo. Após a leitura me deu vontade de contar minha história, quem sabe também não consigo ajudar alguém, não é mesmo? Sou paulista, tenho 52 anos e moro na Bahia há 25 anos. Aqui fiz minha formação em serviço social e coincidentemente, concurso para a Secretaria da Fazenda, onde exerço o cargo de agente de tributos, acho que é equivalente a seu Técnico de Tesouro ai no Sul.
Tomei consciência de minha perda auditiva no trabalho. Um dia estava em minha mesa concentradíssima num relatório quando uma estagiária sentou-se à minha frente e perguntou se eu podia conversar com ela em particular, parei o que estava fazendo e fomos para uma salinha de reunião conversar. Ela começou dizendo que precisava de um feedback (foi assim mesmo, estagiária de pedagogia usando termos técnicos) porque estava sentindo que eu não valorizava o trabalho dela, pois toda vez que ela falava comigo eu não respondia e às vezes ela se sentia excluída e humilhada na frente dos outros funcionários e queria saber se o problema era com ela ou se era por ela ser estagiária. Fiquei estupefata com a situação, nunca em minha vida pensei que ouviria esse tipo de reclamação ou comentário de alguém, justo eu que me preocupava tanto em saber como estava o “clima” de minha equipe. Disse-lhe que devia ser impressão dela, mas ela continuava a afirmar que eu não atendia quando ela me chamava. Eu pedi desculpas e prometi que iria prestar mais atenção para que isso não acontecesse novamente, que ela não se preocupasse porque era uma ótima estagiária e seria uma grande profissional (feedback dado).
Daí que quem ficou preocupada fui eu. Naquela tarde chamei meus dois coordenadores para conversar no final do expediente, contei o caso e eles deram risada dizendo, todo mundo sabe que você deve ser surda, ela é que não te conhece e achou estranho. Fiquei irada. Como assim todo mundo sabe que eu sou surda? E ninguém me conta? Ficaram relembrando os casos em que eu não atendia o telefone, não respondia as pessoas que estavam em mesas mais distantes, e tantas outras vezes em que desistiam de falar comigo e passavam email para poder garantir que eu havia recebido o recado. Cheguei em casa e comentei com meu marido, e ele falou, grande novidade, você não entende nada do que a gente fala e ainda fica perguntando o que? hã? o que foi que você disse?
Marquei um otorrino na mesma semana, na consulta ele me virou do avesso, mandou que eu fizesse um mundo de exames e a única coisa errada que encontrou foi um desvio no septo para o que ele queria fazer uma cirurgia. Perguntei se isso ia resolver o problema do ouvido, como ele disse que não, mandei esquecer. Não foi detectado nenhum problema orgânico nem na estrutura do ouvido, não tive nenhum trauma, não caí nem bati a cabeça, nunca corri atrás do trio elétrico, então ele ficou sem poder fechar o diagnóstico, disse-me apenas que deveria ser um problema genético ou alguma infecção que eu tinha tido recentemente, e me encaminhou para uma fono para fazer uma audiometria.
Na consulta com a fono foi detectado uma perda auditiva leve a moderada de 40%, simétrica nos dois ouvidos, compatível com uma pessoa de 80 anos, e eu tinha 40 à época (em 2001) , com indicação para usar aparelhos auditivos nos dois ouvidos. Perguntei, tem cura? Ela me respondeu que não, mas que os aparelhos poderiam me ajudar a ouvir melhor e com sorte e insistência estagnar a perda, garantindo melhor qualidade de vida. Saí dali convencida de que tinha de usar os aparelhos e fui procurar onde comprar.
A única referência que eu tinha era de um senhor colega do trabalho que usava aparelhos, perguntei onde ele tinha comprado e fui na mesma clínica conhecer.  Quando a fono colocou um aparelho de teste para ver como me sentia foi um choque, comecei a ouvir meu marido falando de costas para mim, o som do teclado, ela abriu a porta e pude ouvir as pessoas conversando na recepção. Eu não tinha noção do quanto eu não ouvia, do quanto eu estava isolada dentro de minha cabeça, percebi inclusive que minhas dores de cabeça eram na realidade esse zumbido infernal que não me largava nenhum minuto!
Meu primeiro aparelho foi um par intra-canal, comprei sem dó nem piedade pois me custaram à época R$3.800,00 cada um, quinze dias depois eles chegaram e comecei a usar imediatamente. Foi uma festa lá na seção, as pessoas ficavam me testando para ver se eu estava ouvindo mesmo. Uma colega quis pegar na mão para ver como era, como funcionava, e brincavam dizendo que agora eu era uma pessoa “antenada”, por causa da anteninha que os aparelhos tinham. Enfim, eles se integraram inteiramente à minha vida e eu a eles, aliás fiquei dependente deles, não saia de casa sem. Esse amor todo durou uns dois anos, a partir dai comecei a sentir muita dor de cabeça quando usava os aparelhos e um pouco de tontura. Voltei na fono e ela me disse que meu cérebro já estava acostumado com os aparelhos e que era preciso mudar para outro tipo mais novo. Como assim mudar? E a “fortuna” que eu havia pago por aquele par? Saí indignada da clínica, coloquei os aparelhos na caixa e guardei na gaveta. Fiquei uns três anos sem usar, mas aos poucos fui voltando àquela situação de “o que você disse”? Hã?  Criou-se em mim uma resistência em aceitar que eu tinha perda auditiva e precisava usar aparelhos, me perguntava por que eu? Acho que o que mais me incomodava é que eu fazia parte do coral da empresa e era primeira soprano, não usava os aparelhos nos ensaios mas mesmo assim percebia qualquer pessoa que desafinasse no coro, os colegas se orientavam pela minha afinação, a maestrina me usava como referência nos ensaios e fazia solos nas apresentações. Como é que eu podia ser surda?
Fui a outro otorrino, fiz novamente todos os exames e ele também não conseguiu identificar a causa nem fechou o diagnóstico, mas me disse que como eu havia usado os aparelhos por um tempo meu cérebro havia reaprendido a ouvir e identificar a fala, que minha perda era específica para entender a conversação e que não tinha dificuldade com a música porque é um som puro. A conversação é modulada e como eu tenho os graves preservados e minha perda é na região dos agudos, eu entendia só metade dos fonemas, e que existiam aparelhos com tecnologia para atender as minhas necessidades. Enchi-me de coragem e fui procurar novos aparelhos. Dessa vez comprei o modelo retro-auricular que uso com olivas abertas, isto é, ouço os sons graves naturalmente e os aparelhos traduzem os agudos dentro do canal auditivo, o zumbido foi embora e estou feliz da vida!
Agora cinco anos depois da mudança de aparelhos estou pesquisando para a compra de um novo par. Com o uso diário e intenso (uso das 07:00h às 22:00h) percebi quais são minhas reais deficiências e dificuldades como atender o telefone por exemplo, entender pessoas que falam atrás de mim, falam comendo (ninguém merece!), falam rápido, passam falando sem me direcionar a palavra ou então resolvem me ajudar e falam baixinho em meu ouvido (odeio isso!). Pretendo comprar novos aparelhos com tecnologia Bluetooth ou Wifi para me conectar ao celular, aproveito e compro um smarphone novo, kkk, e vou viver a vida, porque eu mereço, aliás todos nós merecemos!
Nunca me senti deficiente, nem nunca me considerei surda e coitadinha, nunca também havia prestado atenção sobre o fato de que existem vários tipos e amplitudes de surdez e foi através de seu blog que me liguei no quanto vivi presa apenas em meus problemas, perdi tempo e oportunidades de descobrir pessoas e dicas de como superar as dificuldades que tenho passado nesses 13 anos desde que aquela estagiária chamou minha atenção para o fato de eu não ouvi-la. Tenho muitas outras histórias para contar, mas enfim, vivendo e aprendendo!
Marta Gaino

 http://cronicasdasurdez.com/soprano-funcionaria-publica-e-surda-oralizada/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+CronicasSurdez+%28Cr%C3%B4nicas+da+Surdez%29

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