Por Marcus Tavares
Lutar pela melhoria e pela conscientização da qualidade da educação
de surdos é a principal meta, deste ano, do Instituto Nacional de Surdos
(INES). A informação é do ex-aluno e professor Paulo André Bulhões,
atual diretor geral do INES. Há um ano no cargo, Paulo quer valorizar a
Língua Brasileira de Sinais (Libras) e mais do que isso: quer que ela
seja, de fato, a língua de instrução dos estudantes surdos.
Em entrevista ao CONEXÃO ESCOLAS, Paulo explica que “é uma questão de representatividade, como é a questão, por exemplo, dos negros ou dos índios. Não queremos excluir as pessoas ouvintes, só queremos que as crianças e os jovens surdos sejam educados, primeiramente, numa concepção identitária, cultural e linguística do universo de surdos”. De acordo com Paulo, mais do que uma escola, o INES é um centro de referência da Educação de surdos. Em 150 anos, Paulo é o primeiro surdo que ocupa a direção geral do INES.
Acompanhe:
Em entrevista ao CONEXÃO ESCOLAS, Paulo explica que “é uma questão de representatividade, como é a questão, por exemplo, dos negros ou dos índios. Não queremos excluir as pessoas ouvintes, só queremos que as crianças e os jovens surdos sejam educados, primeiramente, numa concepção identitária, cultural e linguística do universo de surdos”. De acordo com Paulo, mais do que uma escola, o INES é um centro de referência da Educação de surdos. Em 150 anos, Paulo é o primeiro surdo que ocupa a direção geral do INES.
Acompanhe:
CONEXÃO ESCOLAS – Qual o balanço que o senhor faz do COINES realizado no final do ano passado?
Paulo André Bulhões – Foi um evento que trouxe mais uma vez a questão do bilinguismo e da inclusão. Todas as experiências apresentadas no COINES pelos palestrantes brasileiros e estrangeiros, pessoas surdas e a maioria doutores, têm como foco a continuidade do trabalho. O trabalho da experiência pedagógica bilíngue, inclusive para a inclusão das pessoas surdas dentro da sociedade, não é novo. O problema é a “barganha linguística” dos profissionais que relutam em aceitar a instrução da Libras como a primeira língua dos alunos surdos na sala de aula. O INES possui várias publicações sobre bilinguismo “em construção”, mas os profissionais que trabalham com os surdos não mudam e nem leem as publicações acadêmicas das pessoas surdas. O movimento surdo quer que os professores ouvintes usem a Libras como língua de instrução conforme orienta, por exemplo, o decreto 5.626/05, itens das leis 13.005/14, 10.436/02, 10.098/00 e o decreto 9.508/18. A implementação do sistema bilinguismo dependerá da vontade dos gestores educacionais. É uma questão política.
CONEXÃO ESCOLAS – Qual é o posicionamento do INES?
Paulo André Bulhões – Queremos valorizar a Libras e que ela seja, de fato, a língua de instrução de nossos estudantes. Todos os sistemas curriculares, o Projeto Político Pedagógico, o Plano de Desenvolvimento Individual e outros documentos foram pensados e “normalizados” por pessoas ouvintes e, de certa forma, visando pessoas ouvintes e não as pessoas surdas.
CONEXÃO ESCOLAS – A educação de surdos no país carece então deste direcionamento?
Paulo André Bulhões – Há muita luta contra o sistema de “ouvintismo” porque se continua olhando os surdos como “pessoas deficientes”. Antropologicamente e linguisticamente, somos pessoas capazes tanto quanto as pessoas ouvintes. Aqui no Brasil, possuímos cerca de 35 doutores surdos e 92 mestres surdos que podem, por exemplo, avançar muito na educação de surdos. Para mudar o sistema, basta convidar as pessoas surdas para serem membros da direção de cada unidade escolar para discutir a proposta da implementação do ensino bilíngue, conforme preâmbulo “o” da convenção internacional de pessoas deficientes (Decreto 6.949/10). Desta forma, acreditamos que a educação dos surdos vai avançar bastante. E há um outro problema: a evasão escolar. A taxa é bem alta tanto na Educação Básica quanto no Ensino Superior. Conforme apontam os dados do IBGE, de 2010, 92% de pessoas surdas estão excluídas do sistema de ensino. E o que parece, as instituições não estão preocupadas em resolver este problema.
Paulo André Bulhões – Foi um evento que trouxe mais uma vez a questão do bilinguismo e da inclusão. Todas as experiências apresentadas no COINES pelos palestrantes brasileiros e estrangeiros, pessoas surdas e a maioria doutores, têm como foco a continuidade do trabalho. O trabalho da experiência pedagógica bilíngue, inclusive para a inclusão das pessoas surdas dentro da sociedade, não é novo. O problema é a “barganha linguística” dos profissionais que relutam em aceitar a instrução da Libras como a primeira língua dos alunos surdos na sala de aula. O INES possui várias publicações sobre bilinguismo “em construção”, mas os profissionais que trabalham com os surdos não mudam e nem leem as publicações acadêmicas das pessoas surdas. O movimento surdo quer que os professores ouvintes usem a Libras como língua de instrução conforme orienta, por exemplo, o decreto 5.626/05, itens das leis 13.005/14, 10.436/02, 10.098/00 e o decreto 9.508/18. A implementação do sistema bilinguismo dependerá da vontade dos gestores educacionais. É uma questão política.
CONEXÃO ESCOLAS – Qual é o posicionamento do INES?
Paulo André Bulhões – Queremos valorizar a Libras e que ela seja, de fato, a língua de instrução de nossos estudantes. Todos os sistemas curriculares, o Projeto Político Pedagógico, o Plano de Desenvolvimento Individual e outros documentos foram pensados e “normalizados” por pessoas ouvintes e, de certa forma, visando pessoas ouvintes e não as pessoas surdas.
CONEXÃO ESCOLAS – A educação de surdos no país carece então deste direcionamento?
Paulo André Bulhões – Há muita luta contra o sistema de “ouvintismo” porque se continua olhando os surdos como “pessoas deficientes”. Antropologicamente e linguisticamente, somos pessoas capazes tanto quanto as pessoas ouvintes. Aqui no Brasil, possuímos cerca de 35 doutores surdos e 92 mestres surdos que podem, por exemplo, avançar muito na educação de surdos. Para mudar o sistema, basta convidar as pessoas surdas para serem membros da direção de cada unidade escolar para discutir a proposta da implementação do ensino bilíngue, conforme preâmbulo “o” da convenção internacional de pessoas deficientes (Decreto 6.949/10). Desta forma, acreditamos que a educação dos surdos vai avançar bastante. E há um outro problema: a evasão escolar. A taxa é bem alta tanto na Educação Básica quanto no Ensino Superior. Conforme apontam os dados do IBGE, de 2010, 92% de pessoas surdas estão excluídas do sistema de ensino. E o que parece, as instituições não estão preocupadas em resolver este problema.
CONEXÃO ESCOLAS – Neste
sentido, como anda a formação, capacitação e atualização em serviço dos
professores da educação de surdos?Paulo André Bulhões –
Viajando pelo Brasil é possível observar, lamentavelmente, a falta de
conhecimento dos profissionais que trabalham com os alunos surdos. O
sistema educacional é elaborado, pensado e “normalizado” por pessoas
ouvintes e, assim, não sendo adequado às pessoas surdas. Portanto, essa
formação ainda está longe do ideal. As universidades e faculdades
formam, anualmente, uma população de alunos ‘audistas’ nas mais diversas
áreas. Tal falta de conhecimento foi o que fez o “povo surdo” ser visto
como deficiente. A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é o empecilho
da comunicação dos ouvintes.
CONEXÃO ESCOLAS – Então, na avaliação do senhor, é importante que a educação de surdos tenha professores surdos e não ouvintes?Paulo André Bulhões – Sim pelo fato de a Libras ser uma língua legítima e trazer com ela toda a identidade e cultura surda que somente as pessoas surdas possuem. Trata-se de um grupo com afinidades e motivações iguais. É uma questão de representatividade, como é a questão, por exemplo, dos negros ou dos índios. Não queremos excluir as pessoas ouvintes, só queremos que as crianças e os jovens surdos sejam educados, primeiramente, numa concepção identitária, cultural e linguística do universo de surdos. Não toleramos as manipulações e usurpações às quais fomos submetidos pela ideologia dos outros. Queremos respeito e igualdade com isonomia.
CONEXÃO ESCOLAS – Então, na avaliação do senhor, é importante que a educação de surdos tenha professores surdos e não ouvintes?Paulo André Bulhões – Sim pelo fato de a Libras ser uma língua legítima e trazer com ela toda a identidade e cultura surda que somente as pessoas surdas possuem. Trata-se de um grupo com afinidades e motivações iguais. É uma questão de representatividade, como é a questão, por exemplo, dos negros ou dos índios. Não queremos excluir as pessoas ouvintes, só queremos que as crianças e os jovens surdos sejam educados, primeiramente, numa concepção identitária, cultural e linguística do universo de surdos. Não toleramos as manipulações e usurpações às quais fomos submetidos pela ideologia dos outros. Queremos respeito e igualdade com isonomia.
CONEXÃO ESCOLAS – Quais são as metas do INES para este novo ano letivo?Paulo André Bulhões – Lutar pela melhoria e pela conscientização da qualidade da educação de surdos.
Assista, abaixo, a uma entrevista exclusiva que o diretor geral
do INES, Paulo André Bulhões, concedeu ao Jornal Primeira Mão, da TV
INES.
http://hotsite.tvescola.org.br/conexaoescolas/bilinguismo-em-nome-da-inclusao/?fbclid=IwAR2j0DXg8mxnz-GZMSxxPDBhXQULn37tdkHG4yPs-hz4wVBc-RDdayFSMRQ
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