O medo
é uma emoção universal e fundamental à nossa sobrevivência. Ele é um
sinal de alerta e aparece quando a nossa sobrevivência esta sob ameaça.
Apesar de sua importância como fator de proteção à nossa própria
integridade, o medo é desconfortável e incômodo.
A negação e o pânico
A negação funciona como um mecanismo de defesa
que nos impede de entrar em contato com o sofrimento. No entanto,
negar o medo e se focar apenas em emoções positivas é inconsequente,
porque nos impede de acionar nossos recursos para lidar com situações
que exigem uma ação na vida.
A negação nos paralisa, ela impede que tomemos as atitudes necessárias para continuar em frente e enfrentar os desafios que virão.
O oposto da negação é o pânico,
quando o medo se torna desproporcional ao evento e nos imobiliza. O
medo deixa de ser um sinal alerta para se tornar uma sensação constante
que mina a nossa coragem de ir adiante. Precisamos nos proteger desse
sentimento, criando um filtro interno que nos possibilite colocar
energia nas nossas ações perante a vida.
O medo é inerente à surdez
Temos
que conviver com a falta ou diminuição da audição, sentido diretamente
relacionado à nossa capacidade de apreender o mundo e nos relacionarmos.
Vivemos diariamente em contato com diversos medos: de perder alguma
informação importante, de ser incapaz de realizar certas atividades, de
ser discriminado ou desvalorizado em nossos potenciais, de não ser
acolhido, de não ter acessibilidade, de não conseguir se comunicar e se
relacionar, de não conseguir emprego, etc…
Crises são momentos decisivos, é quando somos testados em nossos limites e potenciais. Nesse sentido, enquanto surdos que ouvem,
conhecemos o sentido dessa palavra ao pé da letra. A nossa vida é um
teste constante da nossa capacidade de adaptação e superação. Faz parte
da nossa condição desenvolver resiliência,
a capacidade de superar as adversidade e de ser por elas fortalecidos. A
vida nos ensina que a importância de mudar e se renovar
constantemente.
Freqüentemente
um momento de crise é também um período de grandes descobertas, quando
não conseguimos manter o antigo modo de fazer as coisas e entramos numa
curva acentuada de aprendizado e crescimento. Além disso, é nas crises
que a nossa empatia e solidariedade são mais intensamente ativadas.
Saber que temos um grupo de pertencimento e que temos com quem contar
nos fortalece.
O coronavírus
O coronavírus igualou a humanidade na condição de vulnerabilidade.
É hora de encontrarmos a nossa força, de nos apropriarmos dos recursos
internos que já foram desenvolvidos pelos desafios da nossa própria
condição. O imponderável não é novidade na nossa história, já estamos
acostumados a traçar uma nova rota quando o caminho conhecido se mostra
inviável.
Já
aprendemos a tirar proveito dos inevitáveis momentos de isolamento e
silêncio para nos conectarmos com nós mesmos. A nossa experiência de
força, coragem e solidariedade são fundamentais nesse momento desafiador
em que precisamos nos isolar fisicamente para nos protegermos. Vamos
usar a tecnologia que nos permite sermos surdos que ouvem a nosso favor para nos conectarmos uns aos outros.
Este é o momento de seguirmos em frente com coragem e inspirarmos o mundo a se transformar num lugar melhor.
Post escrito pela psicóloga Alice Mathiason Lewi que atende em São Paulo e também é usuária de aparelhos auditivos (seu email de contato é alewi@uol.com.br )
https://cronicasdasurdez.com/surdez-medo-coronavirus/
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