Em
um tempo em que a tônica dentro de sala de aula é a da integração entre
alunos deficientes e não-deficientes, uma professora surda defende que,
pelo menos em relação às crianças surdas, a educação deve ser feita de
maneira separada.
Não completamente. Mas, no ensino básico, a professora Thais Ribeiro
de Oliveira Ferreira, 28, afirma que é fundamental a criança ser
ensinada, primeiramente, em Libras, a língua brasileira de sinais para,
depois, aprender o português.
Pode parecer estranho, mas se tratam, de fato, de duas línguas
distintas. E as diferenças não estão apenas no fato de uma ser oralizada
ou sonora e a outra gestual. Há muito mais para se levar em
consideração.
Uma simples entrevista, entre mim e Thais, duas pessoas brasileiras e
fluentes em português, precisou contar com o auxílio de uma intérprete,
como se a professora fosse uma estrangeira que estivesse falando
japonês, idioma desconhecido para mim.
Apesar de defender salas separadas nos primeiros anos de educação
formal, Thais afima que a integração entre surdos e ouvintes – termo
usado pelos deficientes auditivos para descrever quem escuta – deve ser
sempre estimulada.
Segundo ela, muitos surdos acabem voluntariamente se fechando em
grupos já que não conseguem se oralizar e, por isso, acabam criando uma
identidade própria.
“Cada pessoa surda tem a sua experiência de vida e sua relação com a
sociedade. Boa parte dos surdos da minha geração tem amigos ouvintes.
Minha opinião é que a integração é totalmente possível”, afirmou.
“Eu faço parte de um grupo de dança com ouvintes. Frequento uma
igreja e participo do grupo de ouvintes. A minha geração tem isso de
interagir melhor com os ouvintes”, completou, sempre por meio de uma
intéprete.
Falar com um repórter que não sabe palavra alguma em Libras é um
problema muito pequeno diante do que enfrentou para conseguir o diploma
de pedagoga e dar aulas em uma escola paulistana.
“Ainda hoje encontro dificuldades na comunicação. Às vezes vou a uma
loja ou a um restaurante e escrevo ou mostro aquilo que quero e, mesmo
assim, o atendente não compreende”, afirmou, frustrada, Thais.
Para conseguir estudar, fazer amigos, conversar normalmente com
outras pessoas e até mesmo ter uma relação normal com seus pais, que
ouvem normalmente, Thais precisou se isolar do mundo sonoro. Por mais
paradoxal que isso possa parecer, o surdo precisa se fechar em um grupo
para, enfim, começar a ter uma vida social.
Até os nove anos de idade, a jovem não sabia que pessoas surdas como
ela existiam. Quer dizer, ela até conseguia entender que havia outros
surdos no mundo, mas não imagina que viviam em grupos. Thais, até então,
tentava, com muita dificuldade, estudar em uma escola para “ouvintes” –
termo usado pelos surdos para descrever, obviamente, quem escuta.
Seus pais, como escutam, tentaram oralizá-la e, de certo modo,
tiveram êxito. Mesmo assim, a dificuldade era enorme. Foi quando o pai
de Thais ficou sabendo de uma escola para surdos no bairro de
Higienópolis, em São Paulo.
“Meus pais viam que eu vivia angustiada. As pessoas me desprezavam
porque não conseguia me comunicar direito. Quando conheci o Centro de
Educação para Surdos Rio Branco descobri minha identidade como surda”,
contou.
Então, aquelas palavras que ela sabia escrever, ficaram mais sentido. Aprender Libras foi um processo rápido. Quase natural.
Ela ficou no colégio até a quinta série, quando foi estudar em uma
escola com alunos ouvintes. A diferença é que a jovem contava com alguns
colegas da escola antiga e com uma intérprete na sala de aula.
“A inclusão com os ouvintes, então, se deu de forma diferente da
minha experiência anterior. Agora, eles tinham curiosidade para aprender
a língua de sinais, por exemplo. Comecei a me relacionar normalmente
com quem ouvia”, disse.
Ao final do ensino médio, Thais decidiu cursar pedagogia e se tornar
professora. Entrou na faculdade junto com outras duas colegas surdas e,
com a ajuda de uma intérprete, se formou.
Hoje, ela é professora-assistente na mesma escola para surdos que estudou na infância.
“Eu sirvo como modelo, mostro minha história aos alunos. Eles podem,
através daquilo que eu conquistei, perceber suas próprias capacidades”,
contou.
Agora, o novo desafio de Thais é contar sua história e inspirar
pessoas na Convenção Internacional do Rotary, que anualmente é
organizada em algum canto do mundo. Neste ano, de 6 a 9 de junho, a
conferência ocorrerá em São Paulo. Com intérprete, com gestos, de forma
escrita ou seja lá como for, tudo o que a professora quer é que os
surdos sejam ouvidos pela sociedade.
Fonte: http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/06/06/professora-surda-da-aulas-na-mesma-escola-de-surdos-em-que-estudou.htm
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