Criado em 2012 e aberto à comunidade, grupo de estudos na Faculdade de Educação aborda temas relacionados ao ensino em Libras
Segundo o
decreto federal nº 5.626, de 2005, escolas de todos os níveis devem
garantir condições para o ensino de crianças que possuam deficiência
auditiva, e como uma das formas de tornar essa acessibilidade possível, o
mesmo decreto institui como obrigatório o ensino de Libras (Língua
Brasileira de Sinais) nos cursos de licenciatura. Na Faculdade de
Educação (FE) da USP, a atual responsável pelo ensino da língua aos
futuros pedagogos é a professora Cassia Geciauskas Sofiato, que visando a
expandir as discussões sobre o assunto, criou em 2012 o Grupo de
Estudos Libras em Questão (Geslique).
Cassia conta que o Geslique surgiu da necessidade, apontada
pelos alunos da disciplina de Libras, de se aprofundarem na questão,
indo além do que pode ser abordado em apenas um semestre. O grupo conta
com encontros mensais, cada qual com um palestrante, que tratará de
algum aspecto relacionado ao ensino de libras e educação de surdos. “O
convidado fala sobre o tema e, ao final, temos um período para debate e
perguntas. Também fica a indicação de uma leitura recomendada”,
explica a professora.
A princípio voltado apenas para alunos da FE, o Geslique
hoje funciona como uma atividade de extensão, sendo aberto a qualquer
interessado em participar. Segundo Cassia, o grupo recebe um público
bastante variado: são professores da rede pública, intérpretes,
profissionais de saúde, e até mesmo alunos de outras faculdades. “Tem
sido muito bacana a presença de todas essas pessoas, porque as trocas
enriquecem bastante”. A professora ainda ressalta a importância de
difundir o que é ensinado na USP a toda a sociedade. “Compartilhar esse
conhecimento que está sendo produzido é uma responsabilidade que nós
temos”, diz. “Muitas coisas que são discutidas no grupo são levadas para
outros espaços, e a finalidade é justamente essa: causar uma
mobilização, fazendo com que as pessoas construam essas propostas nos
locais de onde elas vêm”.
Inclusão no ensino público
Para alunos surdos, Cassia explica que há dois modelos de
escolas: as inclusivas comuns, nas quais os estudantes com deficiência
auditiva participam das aulas juntamente com os demais e têm o português
como língua de instrução; e as escolas bilíngues, onde a Libras é a
primeira língua, sendo o português trabalhado apenas na modalidade
escrita. “Nas escolas bilíngues, a língua de sinais é usada nas aulas, e
inclusive é ensinada também, para que seja aprimorada”, diz. “Já nas
escolas regulares, ela circula, mas não é a língua principal na sala de
aula”.
Contudo, no Brasil, ainda são poucas as escolas bilíngues
nas quais a Libras é a língua de instrução, de modo que muitas vezes os
pais precisam optar pelo ensino regular. Para a docente da FE, a
adaptação dos alunos a uma escola comum depende de suas características
individuais e da opção linguística feita pela família, isto é, se na
infância a criança teve mais contato com a língua de sinais ou com o
português. “Cada aluno tem sua singularidade: alguns podem apresentar
mais dificuldade em escolas comuns porque não têm domínio da língua
portuguesa”.
De qualquer forma, uma vez que o direito à educação está
previsto em lei, cabe às escolas se organizarem para receberem alunos
com deficiência. “É direito do aluno estar na escola, então esse aluno
precisa ser recebido e devem ser oferecidas a ele condições adequadas
para que ele possa se desenvolver como qualquer outro”. Para Cassia, a
presença de intérpretes de Libras em vários espaços da sociedade também
seria muito importante. “Um interprete poderia fazer a mediação entre os
ouvintes e os surdos”, argumenta Cassia. “Mas sabemos que isso não é
possível em todos os lugares”.
Sobre a formação de professores para trabalhar com alunos
surdos, ela afirma que, apesar da obrigatoriedade do ensino de Libras
nas licenciaturas, os docentes devem buscar formação complementar.
“Numa disciplina não é possível dar conta de todas as questões
envolvendo esse público-alvo, é muita coisa para se trabalhar”, diz.
Segundo a pesquisadora, algumas redes de ensino chegam a oferecerem a
seus professores formação continuada na área, o que é um aspecto
positivo. “As escolas de uma forma ou outra têm discutido essas
questões”, afirma.
Cassia avalia que, apesar dos desafios ainda presentes na
educação de surdos, muito já se avançou nos últimos anos. A professora
ressalta que tal avanço é gradual, pois exige ajustes e rupturas. “Eu
vejo como um processo de construção”, aponta. “Temos muitos desafios a
serem vencidos ainda, mas também temos boas perspectivas, com espaços
que hoje se mobilizam para fazer um trabalho interessante”.
http://www.usp.br/aun/exibir.php?id=6712
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