Atualmente, 981 crianças com deficiência auditiva participam normalmente das aulas na rede pública do Estado
Mesmo que de forma lenta, a educação inclusiva para surdos, um
direito garantido na Constituição Federal pela lei 7.853 de 1989, tem
avançado ao longo dos últimos anos no Paraná. Segundo dados do
Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional (DEEIN),
vinculado Secretaria de Educação, o Paraná conta hoje com 981 crianças
surdas frequentando as classes comuns do ensino regular (contando a rede
estadual e a edução de jovens e adultos), um crescimento de 171% em
oito anos.
Isso prova que crianças e adolescentes com necessidades especiais têm
conquistado seus direitos, embora a falta de preparo dos professores e a
dificuldade que o Estado encontra na hora de contratar intérpretes
ainda dificultem a inclusão plena.
A política de inclusão das crianças com deficiências em escolas de
ensino regular tem evoluído ao longo da última década em todo o Brasil,
especialmente a partir de 2008, com a elaboração da Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva pelo Ministério
da Educação (MEC).
Naquele ano, dos 66.511 alunos matriculados, 40.389 (60,7%) estavam
em escolas regulares, enquanto 26.122 (39,3%) frequentavam escolas
especiais. Em 2010, o número total de matriculados já havia crescido 6%,
chegando a 70.823, com 52.500 (74,1%%) surdos em escolas regulares e
18.323 (25,9%) em escolas especiais.
Segundo educadores do mundo todo, a inclusão só existe, de fato,
quando há a mistura, a convivência entre ouvintes e surdos (ou
portadores de outras deficiências) no mesmo ambiente.
“Educação inclusiva é dar acessibilidade na educação para um aluno
que tem deficiência. No caso do surdo, vai ter o acesso ao currículo, ao
conteúdo formal, na língua materna dele, que é a Libras”, explica
Fabiana Ceschin Ribas, da área de surdez do DEEIN. Segundo ela, a
educação inclusiva deve enfatizar a diversidade mais que a semelhança,
assumindo que a vivência e a aprendizagem em grupos é a melhor forma de
beneficiar a todos.
“No final das contas, quem ganha mais são os ouvintes, porque a gente
aprende com a diferença do outro. As vezes achamos que temos algum
limite, mas quando conhecemos o sujeito que tem uma deficiência
sensorial e consegue dar conta, consegue vencer, o ouvinte acaba tendo
um ganho. É como se fosse uma inspiração”, aponta Fabiana.
No Paraná, existem 250 instituições inclusivas que atendem surdos,
espalhadas por 140 dos 399 municípios do estado. Uma das referências é o
Instituto de Educação Erasmo Pilotto, localizado na região central de
Curitiba. A instituição oferece ensino em tempo integral (das 8h30 às
18h), com 14 disciplinas no currículo e aula com acompanhamento de
intérprete todos os dias para crianças a partir de 10 anos de idade até o
terceiro ano do ensino médio.
Segundo o diretor-auxiliar do Instituto Erasmo Pilotto, Lourival de
Araujo Filho, o estado hoje se coloca numa posição mais cumpridora dos
deveres no que diz respeito aos surdos. “Hoje temos pessoas que
trabalham diretamente com quem precisa dessa educação especial e os
professores têm compreendido que não podem estar alheio às pessoas com
necessidades e têm procurado se especializar”, diz.
“Mas ainda temos muito a caminhar, muito por fazer, embora o Brasil seja
um país que está na frente dos outros. Em nossa escola mesmo, por
exemplo, não temos como atender deficientes físicos, porque são s
escadas, não temos rampas. Quando falamos em sociedade inclusiva estamos
em um processo, mas o objetivo ainda est longe do alcançado.”
Surdos e ouvintes são iguais
Para que se garanta a inclusão, é necessário também garantir que
haverá comunicação. Para tanto, é preciso que tanto alunos ouvintes
quanto estudantes surdos tenham conhecimentos sobre a Língua Brasileira
de Sinais (Libras) e a própria Língua Portuguesa, a fim de formar uma
sociedade que consiga ser, de fato, inclusiva.
Em Curitiba, o Instituto Erasmo Pilotto é uma das instituições de
ensino que melhor consegue atender essa diversidade. “Aqui, alunos
surdos e ouvintes frequentam os mesmos espaços e convivem perfeitamente.
Da mesma forma que os alunos surdos aprendem língua portuguesa, os
ouvintes aprendem Libras. E isso é interessante, porque eles (ouvintes)
gostam e isso gera comunicação dentro da escola. A gente não exclui. Se
queremos uma sociedade igualitária, temos que pensar em todas as
pessoas”, diz Lourival.
Mas não é apenas nas escolas que se faz inclusão. E um exemplo é
Jacarezinho, no Norte do Paraná, onde policiais civis da 12ª Subdivisão
Policial (SDP) estão fazendo curso básico da Língua Brasileira de
Sinais. Está será a primeira delegacia do Brasil a ter policiais com
capacitação em libras.
Segundo o investigador Adjairo José Flavio de Carvalho, pioneiro no
curso de Libras, a ideia de levar as aulas aos colegas veio após uma
dificuldade no trabalho. “Passei por uma situação em que atendi uma
pessoa com deficiência auditiva e vi a necessidade de ter este
conhecimento. Foi então que comecei a fazer o curso no Instituto Federal
de Jacarezinho e apresentei a proposta ao delegado”, conta. Ideia que
foi totalmente apoiada pelo delegado-titular da 12ª SDB, Marcos Fernando
da Silva Fontes. “Com a realização deste curso, nossos policiais
poderão atender de melhor forma, realizando as demandas da polícia
judiciária”, aponta Fontes.
Em todo o Paraná, existem 31 núcleos de intérpretes mantidos pela
Secretaria Estadual de Educação, que tem aumentado os investimentos ao
longo dos últimos anos.
http://diariodosurdo.com.br/2015/06/educacao-inclusiva-para-surdos-avanca-no-parana/