‘Meu nome é Jaciana Bezerra, tenho 27 anos e sou mãe da Júlia, de 2 anos e 3 meses. Ela foi diagnosticada com surdez profunda bilateral. No próximo dia 09/01/14, a Júlia estará fazendo seu primeiro implante coclear, aqui na nossa cidade, Natal/RN.
Graças a Deus, temos um médico muito respeitado aqui, que atende pelo
SUS, tem uma equipe maravilhosa de fonoaudiólogas e que vem nos ajudando
muito. E o que é melhor, e pouca gente sabe, aqui não tem aquela
“temida” fila do SUS, crianças são implantadas muito rapidamente aqui.
Decidi te enviar uma “carta” que escrevi, para que um dia minha filha
possa ler, e sentir um pouco do sentimento que passamos ao descobrir sua deficiência auditiva.
Espero que goste, e que ajude a alguma mãe, pai, familiar que esteja
passando pelo mesmo que nós. Quando descobrimos a surdez dela, fiquei um
pouco sem saber com quem conversar, como as pessoas iriam receber essa
notícia, e me encontrei aqui no seu blog e no da Lak Lobato, fiquei imensamente feliz de poder “conhecer” casos de sucesso e de famílias felizes, apesar de tudo. Você é um grande exemplo. Um beijão e sucesso!
Filha,
Há 2 anos e 2 meses atrás, você nasceu e minha vida mudou.
Quer dizer, nossas vidas mudaram, a minha e a do seu pai. Quando você
nasceu, tivemos uma mistura de emoções e sentimentos muito grande. Medo,
ansiedade, insegurança, e no meio de tudo isso, um amor brotou sem que
nos pudéssemos entender de onde vinha tanto amor, se a gente tinha
acabado de te conhecer. Daí em diante, esse amor só aumentou, vibramos
com cada descoberta sua, cada choro seu, corríamos para ver o que te
perturbava, a cada sorriso “banguelo”, sorríamos junto com você, a cada
passo meio “desengonçado”, a cada queda, a cada balbucio, a cada dente
que nascia… E assim, esperamos dia após dia a sua primeira palavrinha,
mamãe, papai, vovó, vovô… qual seria? Ansiedade a mil, e nada da
primeira palavrinha sair. Até que seu pai e eu, decidimos ir a sua
pediatra e na guia de encaminhamento para a fonoaudióloga, ela escreveu
assim: “pais ansiosos” e era exatamente o que a gente sentia, ansiedade,
uma ansiedade imensa de ouvir você falar uma palavrinha se quer.
Começamos a cansativa rotina de médicos, um atrás do outro, cada um que
desse uma opinião contrária a outra, e nós pais de primeira viagem,
confusos com tudo que estava acontecendo, fomos ficando cada vez mais
tensos, inseguros e frustrados. Até que fomos encaminhados para um exame
chamado Bera, que tanta gente ouviu sair da minha boca, pois foram 4
exames repetidos para não haver dúvidas. O que a gente mais
temia, foi diagnosticado. Ouvimos de um médico sem preparo, e sem
sentimento algum, assim na lata, que a nossa filha era surda, e que
teríamos que aprender a linguagem dos sinais, se não ela se tornaria uma
criança sem comunicação. E achando pouco o baque na notícia,
ainda perguntou se pretendíamos ter um segundo filho, para fazermos
exames, por que um outro filho poderia nascer com o mesmo problema.
Ficamos em choque, e o médico não percebeu em nenhum minuto como estava
nosso semblante depois de tudo que ele dizia, e continuava a falar, e um
filme passava em nossas cabeças… Ela não ouvia nada, nunca
ouviu nenhuma música que cantamos para ela dormir, nunca ouviu eu
falando que a amo, nunca ouviu a nossa voz….nosso sentimento naquela
hora foi o pior possível, mas se der para descrever em uma única palavra
nosso sentimento, sem dúvidas, foi de impotência. Impotência
de não poder fazer nada para reverter àquela situação, pois era algo que
não estava ao nosso alcance. Choramos, choramos e choramos durante
dias, ficamos totalmente abalados emocionalmente, não tinha como não
olhar para ela e não pensar que ela nunca tinha ouvido a nossa voz.
Começamos a nos perguntar o porquê de ser com a nossa filha, seria um
castigo? Ela que era tão desejada, tão planejada e tão esperada por
todos, sendo ela a primeira neta materna e paterna, um verdadeiro
tormento achar uma explicação, onde não há explicação. Gravidez normal,
bebê saudável, teste da orelhinha normal, nenhum parente na família com
surdez… Depois da fase mais difícil, (a aceitação) e de conversar com
alguns médicos e ver que aquele “problema” tinha solução, paramos de
lamentar e começamos a agradecer a Deus por nossa filha ter sido a
escolhida, e por nós termos a sorte de ser pais dela, uma criança
especial, mas que nos ensinará muito mais do que se ela fosse
completamente perfeita. Aprendemos a aceitar essa nova fase que iriámos
passar, pois se é da vontade de Deus, e está nos planos dele, é por que é
o melhor para nós. Foi aí que ouvimos falar pela primeira vez do
Implante Coclear, comecei a pesquisar vídeos no YouTube, matérias em
jornais, blogs (até que encontrei o seu), procuro me informar de todas as maneiras a
respeito do IC, para nós foi uma luz no fim do túnel, uma grande
esperança de que nossa filha tenha uma vida normal, e apostamos todas
nossas expectativas nele. Uma amiga deixou a seguinte frase
para mim no facebook, uma frase do Papa Francisco que se encaixou
perfeitamente naquilo que estávamos sentindo: “Deus dá as batalhas mais difíceis aos seus melhores soldados.”
E dali em diante, tudo que faríamos seria em prol da saúde dela, era
para te ver ouvindo, e ouvir suas palavras pela primeira vez. Fomos ao Dr. Rodolpho Penna,
e depois de tantas notícias pessimistas, saímos de seu consultório,
pela primeira vez com o coração cheio de esperança e confiança, de que
você minha filha, teria uma vida normal, seria uma criança feliz, e nos
daria muitas felicidades, pois você teria sua audição e aprenderia a
falar como qualquer criança de 2 anos no auge do aprendizado.
Não foi fácil, não é fácil e não será fácil tudo que ainda teremos que
enfrentar, mas o amor que sentimos por você nos faz ter forças para
lutar, uma força tão grande que nem sei explicar de onde vem, só sei que
isso é amor, um amor imenso e infinito que sentimos por você.
De sua mãe: Jaciana’
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