Aulas são todas dadas em libras, que é a língua materna dos surdos.
Segundo o Inep, número de candidatos surdos no Enem cresceu 35%.
Um professor da rede estadual de São Paulo começou neste semestre um
cursinho pré-vestibular gratuito voltado exclusivamente para preparar
estudantes surdos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a Fuvest. As aulas são realizadas aos sábados em uma escola estadual da Vila Matilde, na Zona Leste da Capital (veja no vídeo acima).
Rafael Dias Silva, professor de biologia, química e física, diz que
pretende oferecer aos alunos a oportunidade de aprenderem diretamente na
sua língua materna, a Língua Brasileira de Sinais (Libras), e não por
meio de interlocutores ou intérpretes de professores que dominam apenas o
português.
O professor Rafael Dias Silva criou um curso
pré-vestibular em São Paulo só para alunos surdos(Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
"Hoje infelizmente o vestibular bloqueia esse aluno, faltam mecanismos
para esse aluno entender como funciona o vestibular", explicou o
professor em entrevista ao G1.
O Enem será realizado em 8 e 9 de novembro, e dos 8,7 milhões de
inscritos, mais de 3 mil solicitaram atendimento especial para surdos ou
com alguma deficiência auditiva. O número é 35% maior do que o de
surdos inscritos no Enem de 2013.
As aulas do cursinho tiveram início no dia 30 de agosto com seis
professores que usam a linguagem brasileira de sinais no diálogo com os
alunos.
Jovem quer ser engenheiro
Os jovens Lucas dos Santos Silva e Vanessa Gonçalves de Araújo, de 19 anos, são dois dos 12 estudantes do terceiro ano do ensino médio que estão matriculados na primeira edição do curso. Eles pretendem fazer vestibular para engenharia e administração, respectivamente. Vanessa tem surdez severa desde o nascimento. Lucas perdeu a audição progressivamente aos seis anos, depois de bater a cabeça durante uma brincadeira.
Os jovens Lucas dos Santos Silva e Vanessa Gonçalves de Araújo, de 19 anos, são dois dos 12 estudantes do terceiro ano do ensino médio que estão matriculados na primeira edição do curso. Eles pretendem fazer vestibular para engenharia e administração, respectivamente. Vanessa tem surdez severa desde o nascimento. Lucas perdeu a audição progressivamente aos seis anos, depois de bater a cabeça durante uma brincadeira.
No primeiro dia de aula, os dois estudantes contaram ao G1
que, pela primeira vez, estavam sendo ensinados diretamente na sua
primeira língua e explicam que há uma diferença grande entre ter um
professor que se comunique na linguagem de sinais e estar em uma sala de
aula com um professor falando em português e recebendo a tradução por
meio de um intérprete.
Segundo os jovens, muitas vezes o conteúdo explicado pelo professor
acaba se perdendo na interpretação do interlocutor. Além disso, quando
todos os alunos se comunicam na mesma língua –no caso, libras–, eles
conseguem se ajudar no entendimento de um tema. "Tem a questão da
palavra, tem a troca com o outro. Um conhece uma palavra e o outro não",
explicou Lucas, com a ajuda do professor Rafael. Além de cursar o
ensino médio, o jovem trabalha em um supermercado, mas um dia pretende
atuar como engenheiro na construção civil.
Vanessa Gonçalves e Lucas dos Santos Silva são surdos e neste ano vão prestar o Enem e a Fuvest
(Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
Aulas gratuitas e professores surdos
O professor diz que o curso aumenta a facilidade do ensino do conteúdo do vestibular para os estudantes surdos. "Você garante maior clareza por estar na língua deles", afirmou. Uma das principais defasagens dos alunos, segundo ele, é justamente a produção de texto e a língua portuguesa.
O professor diz que o curso aumenta a facilidade do ensino do conteúdo do vestibular para os estudantes surdos. "Você garante maior clareza por estar na língua deles", afirmou. Uma das principais defasagens dos alunos, segundo ele, é justamente a produção de texto e a língua portuguesa.
Além de ajudar nos estudos, ele diz que o objetivo é também dar ao
grupo maior contato com todo o processo da realização de provas com as
da Fuvest e do Enem, que eles não têm costume de fazer e, por isso,
acabam ficando em desvantagem em relação aos demais candidatos. "Falta
preparo desse aluno, dar conhecimentos prévios para na hora da prova ele
fazer leitura e compreensão daquilo que está sendo solicitado. E é
importante melhorar a auto-estima desses meninos, que muitas vezes ficam
perdidos", explicou.
O curso é grátis para os alunos e é financiado pela empresa Libras na
Ciência, que Rafael mantém em uma incubadora do campus na Zona Leste da
Universidade de São Paulo (USP). As aulas são realizadas na Escola
Estadual Dom João Maria Ogno aos sábados, como parte do programa Escola
da Família.
Dois dos docentes também são surdos. "É importante eles terem um
professor surdo que conseguiu vencer obstáculos e está lá na ponta. Fiz
questão de chamar colegas", explicou o professor. "Eles não têm heróis,
não têm ninguém em quem se espelhar."
Atendimento especial no Enem
Apesar do crescimento de alunos surdos inscritos no Enem 2014, em relação a 2013, a quantidade absoluta ainda é pequena: a variação foi de 2.460 para 3.330, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
Apesar do crescimento de alunos surdos inscritos no Enem 2014, em relação a 2013, a quantidade absoluta ainda é pequena: a variação foi de 2.460 para 3.330, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
Segundo o relatório pedagógico das edições de 2009 e 2010, divulgado
pelo Inep no início do mês, 2.850 surdos ou deficientes auditivos
fizeram as provas em 2009, número que caiu para 2.098 no ano seguinte.
Na nota técnica sobre o atendimento diferenciado do Enem, o Inep afirma
que, durante a prova, o tradutor-intérprete de Libras "não se limita a
traduzir as comunicações orais, mas deve auxiliar na compreensão dos
textos escritos".
Assim como os demais candidatos com atendimento especializado, os
estudantes surdos podem solicitar até 60 minutos a mais para fazer as
provas nos dois dias do Enem.
No último Enem, seis estudantes de Curitiba que têm deficiência
auditiva conseguiram na Justiça Federal conseguiram na Justiça Federal o
direito de refazer as provas. Eles afirmaram que foram prejudicados
porque, segundo os estudantes, os interpretes de Libras, que
acompanharam a realização da prova, não traduziram enunciados e
respostas. Apenas foram repassadas orientações quanto à realização do
exame, como a cor de caneta que deveria ser usada.
http://g1.globo.com/educacao/enem/2014/noticia/2014/09/professor-cria-cursinho-para-o-enem-e-fuvest-so-para-alunos-surdos.html?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=g1
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