RYBENINHA

RYBENINHA
SINAL: BEM -VINDOS

DÊ-ME TUA MÃO QUE TE DIREI QUEM ÉS



“Em minha silenciosa escuridão,
Mais claro que o ofuscante sol,
Está tudo que desejarias ocultar de mim.
Mais que palavras,
Tuas mãos me contam tudo que recusavas dizer.
Frementes de ansiedade ou trêmulas de fúria,
Verdadeira amizade ou mentira,
Tudo se revela ao toque de uma mão:
Quem é estranho,
Quem é amigo...
Tudo vejo em minha silenciosa escuridão.
Dê-me tua mão que te direi quem és."


Natacha (vide documentário Borboletas de Zagorski)


SINAL DE "Libras"

SINAL DE "Libras"
"VOCÊ PRECISA SER PARTICIPANTE DESTE MUNDO ONDE MÃOS FALAM E OLHOS ESCUTAM, ONDE O CORPO DÁ A NOTA E O RÍTMO. É UM MUNDO ESPECIAL PARA PESSOAS ESPECIAIS..."

LIBRAS

LIBRAS

LIBRAS

LIBRAS
"Se o lugar não está pronto para receber todas as pessoas, então o lugar é deficiente" - Thaís Frota

LIBRAS

LIBRAS
Aprender Libras é respirar a vida por outros ângulos, na voz do silêncio, no turbilhão das águas, no brilho do olhar. Aprender Libras é aprender a falar de longe ou tão de perto que apenas o toque resolve todas as aflições do viver, diante de todos os desafios audíveis. Nem tão poético, nem tão fulgaz.... apenas um Ser livre de preconceitos e voluntário da harmonia do bem viver.” Luiz Albérico B. Falcão

QUANDO EU ACEITO A LÍNGUA DE SINAIS

QUANDO EU ACEITO A LÍNGUA DE SINAIS
“ A língua de sinais anula a deficiência e permite que os sujeitos surdos constituam, então, uma comunidade linguística minoritária diferente e não um desvio da normalidade”. Skliar

quarta-feira, 4 de março de 2015

Saia do armário da surdez

Hoje em dia fico chocada quando tomo conhecimento de alguém que morre de vergonha da própria surdez mas, há alguns anos atrás, eu fui essa pessoa. Sei exatamente quais são os sentimentos envolvidos nesse processo, e o que me deixa mais feliz é também saber que a etapa final dele é a auto-aceitação. Ninguém passa a vida sentindo vergonha de não ouvir, isso é certo. O diagnóstico definitivo da minha deficiência auditiva bilateral foi aos 16 anos, e ela já estava no grau severo. Em vez de levar um susto e sair correndo em busca de ajuda lembro que minha única preocupação foi: “Ai, meu Deus! Como é que vou esconder esse super segredo do mundo inteiro a partir de hoje?”
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Por causa do blog e do livro tive a oportunidade de conhecer vários adolescentes e crianças que são exemplos de boa convivência com a própria deficiência auditiva. E quando os encontro sinto um arrependimento profundo e doído pelo o modo como lidei com a minha durante tantos anos. Porque passei tanto tempo fingindo que o problema não era comigo? Porque nunca tentei conversar sobre isso com ninguém? Porque sempre achei que as pessoas me julgariam mal quando soubessem que eu não ouvia? Porque me rendi à facilidade do afastamento do convívio social em vez de tentar me integrar com meus amigos e colegas?
Tantos questionamentos! A única certeza que tenho é que deveria ter buscado o auxílio de um psicólogo nesse processo pois isso teria me ajudado muito naquela época. Que bom que hoje existem vários psicólogos aptos a atender surdos oralizados e que bom que eles são capazes de nos conduzir de um modo mais rápido até a linha de chegada da auto-aceitação.
Como não adianta chorar sobre o leite derramado, só me resta usar este espaço para escrever e tentar abrir os olhos e a mente daqueles que ainda estão nessa fase. Vamos lá?
NEGAÇÃO
Você pode negar o quanto quiser, rogar praga para quem bem entender, xingar Deus e todo mundo, arrancar os cabelos, chorar… que sua surdez vai continuar no lugar em que está. Não vai desaparecer sem deixar vestígios como num passe de mágica. Portanto, negar o óbvio é, sem meias palavras, perda de tempo. Você é surdo, ponto. Algumas pessoas dão bola para terminologias ‘politicamente corretas’ – eu não sou a mínima para isso, pouco me importo que me chamem de surda ou de deficiente auditiva, só não me chamem de pessoa portadora disso ou daquilo ou de pessoa com problema de audição. Impossível não querer estrangular alguém após receber nosso diagnóstico mas, na boa, foram nossas células ciliadas que pararam de funcionar, não os nossos neurônios. Então o jeito é colocá-los para funcionar e ir em busca de qualidade de vida daqui para a frente! Dica: perca o menor tempo possível com raiva do diagnóstico e negando o fato de que você não escuta e corra atrás do prejuízo o mais rápido que puder. Tenha em mente que se adaptar a um aparelho auditivo ou implante coclear e outros leva um BOM tempo, portanto, gaste o seu com isso.
VERGONHA
Assim que você consegue parar de negar que não escuta para si mesmo, precisa enfrentar ‘os outros’, que na nossa cabeça parecem monstros ou enormes dragões invencíveis. Poxa, vamos raciocinar melhor? ‘Os outros’ são nossos pais, amigos, colegas, professores, namorados/maridos. Ou seja, pessoas que supostamente irão nos apoiar e nos dar força para enfrentar essa jornada. Sentir vergonha deles? Sério? Quando paramos para analisar isso com autocrítica suficiente acabamos por compreender que essa vergonha nada mais é do que o nosso próprio preconceito, que projetamos nos outros sem perceber. Podem acreditar: nem 5% das pessoas efetivamente irão se importar com a ‘notícia bombástica’ da sua surdez. Elas têm mais o que fazer da vida. Você descobrirá rapidinho quem são seus amigos/parentes espertos e inteligentes: são aqueles que lhe colocarão pilha para que você busque a sua reabilitação auditiva. Digo e repito sem cansar que vergonha MESMO é sentir vergonha de algo que você não controla. No caso, a surdez. Lembro que na minha adolescência, quando alguém me chamava e eu não ouvia isso me fazia sentir a última das criaturas, um lixo total. Chorava de raiva! Mas usar os meus aparelhos auditivos para poder ouvir as pessoas que era bom, nada. A gente sente uma coisa (quer ficar em paz com a surdez) e faz outra (tem vergonha de usar AASI – e daí, vai ouvir como?). Mas eu prometo que um dia sentimento e ação se conectam e as coisas passam a fluir melhor. Entretanto…você precisa se esforçar para isso.
ACEITAÇÃO LEVE
Nunca me esqueço do quanto eu ficava possessa se alguém me chamasse de surda na adolescência. Era uma ofensa gravíssima. A ironia é a seguinte: a gente quer que os outros nos aceitem incondicionalmente, mas nós mesmos não somos capazes de fazer isso. Por isso falo que antes da auto-aceitação de fato, passamos por uma fase de aceitação leve. Nela, ‘aceitamos’ a nossa surdez, porém, com restrições. Durante esta fase me recordo de ter uma relação ridícula com meus aparelhos auditivos – eu me forçava a detestá-los e dizia bobagens como ‘são uma droga’, ‘não adiantam nada’, ‘me irritam e não vou usar’. Queria que as pessoas aceitassem a minha perda auditiva enquanto eu ainda não conseguia fazer isso!! Também lembro de ser tão, mas tão teimosa, que até a minha mãe tinha medo de tocar no assunto comigo. Ela nunca me disse algo como “Paguei uma fortuna por esses AASI e você não quer usar? Ahhh, mas vai!”, coisa que eu hoje faria se fosse com uma filha minha sem dó nem piedade. Quando a palavra ‘surda’ para de lhe incomodar, é porque você está quase chegando lá!
A LIBERTAÇÃO
Meu grito de liberdade (demorô) foi quando caiu a ficha de que eu tentava loucamente disfarçar algo que todo mundo percebia nitidamente. A surdez é indisfarçável, lamento dizer. Agora que uso um implante coclear é que percebo isso com todas as letras. Esse negócio de ser surdo e achar que é possível esconder isso dos outros me lembra de uma piadinha ótima do Facebook: o que você come escondido aparece em público. Tal e qual!!!
Ah, e porque “Saia do armário da surdez!“? Porque uma vez o Ricardo Freire do Viaje na Viagem publicou no Estadão uma crônica linda sobre o que ele tinha sentido ao ler o livro Crônicas da Surdez, e fez um comparativo interessante entre este tema e o da homossexualidade. E faz todo o sentido! Tentar viver uma vida dupla, mentir, fingir e esconder dos outros algo que faz parte de você é uma grande bobagem. Saia JÁ do armário da surdez se você ainda estiver nele! É cansativo demais viver em estado de alerta, viver disfarçando algo que está escrito na sua testa em letras coloridas e luminosas!! A única pessoa que acha que você ainda escuta…é o seu eu teimoso! Portanto, assuma-se. A vida fica mais fácil e mais leve.
Sei que muitos pacientes e fonos se importam com a ‘discrição’ em termos de aparelhos auditivos – em termos de implante coclear, ainda é impossível ser discreto. A minha opinião sobre este tema permanece a mesma: quem se aceita de verdade não dá a mínima para isso. Como alguém pode pensar em sentir vergonha de usar um AASI ‘visível’ se é ele que irá lhe permitir ouvir? Muita autocrítica nessa hora, hein! Eu pego no pé porque isso não tem cabimento. Aquele velho papo de ‘ah, mas não quero que as pessoas saibam, é algo íntimo, se souberem vão me julgar incapaz‘ apenas denota a vergonha que VOCÊ sente do assunto. Os outros? Ah, eles estão preocupados com mil outras coisas, e sua orelha não é uma delas. Vai por mim…

 http://cronicasdasurdez.com/saia-do-armario-da-surdez/

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