Estudo inédito registra sinais de Libras típicos do Nordeste
A língua de sinais praticada no Nordeste brasileiro, assim como
na língua falada, tem particularidades e expressões regionais que agora
estão devidamente catalogadas. Em pesquisa inédita realizada no
Instituto de Psicologia (IP) da USP, a especialista em Libras Janice
Temoteo percorreu os nove estados nordestinos e documentou mais de 4.200
sinais originais. “Trata-se da região com o maior índice de surdos
proporcional à população do Brasil”, conta a pesquisadora. O estudo
também traz uma inovação metodológica, com a produção de vídeos que
facilitaram a catalogação dos novos sinais.
A tese Lexicografia da língua de sinais brasileira do nordeste,
além de representar uma grande contribuição na divulgação dos sinais em
âmbito nacional, possui um grande potencial de integração a partir de
elementos próprios da cultura regional nordestina. O estudo foi
desenvolvido no Laboratório de Neurolinguística Cognitiva Experimental
(Lance), do IP, sob orientação do professor Fernando Capovilla. A
pesquisa seguiu o padrão de registro dos sinais do “Dicionário
Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira”
(Deit-Libras), cuja autoria é do próprio Capovilla e da professora
Walkiria Duarte Raphael, também do IP. A obra teve sua primeira versão
lançada em 2001, e em 2009 ganhou uma extensão com maior número de
sinais, chamando-se “Novo Deit-Libras”.
Como um dicionário de língua oral, as obras Deit-Libras contém
verbetes de “A a Z”, com o significado de cada expressão, além de
apresentarem explicações e ilustrações de como cada um dos sinais deve
ser realizado. Não se trata, portanto, apenas de um manual, mas uma obra
de referência para todos aqueles que se comunicam em Libras.
Verbetes Nordestinos
O projeto original do Dicionário foi desenvolvido a partir do contato com os próprios surdos. Consultados pelos professores, eles indicavam quais eram os sinais para cada uma das palavras ou expressões. Por uma questão de logística, a primeira versão da obra, desenvolvida no Lance, valeu-se apenas da colaboração de surdos da região de São Paulo, mais acessíveis aos pesquisadores da USP.
O projeto original do Dicionário foi desenvolvido a partir do contato com os próprios surdos. Consultados pelos professores, eles indicavam quais eram os sinais para cada uma das palavras ou expressões. Por uma questão de logística, a primeira versão da obra, desenvolvida no Lance, valeu-se apenas da colaboração de surdos da região de São Paulo, mais acessíveis aos pesquisadores da USP.
“Como cearense, nordestina, apesar de admirar muito a qualidade do
Deit-Libras, senti falta da representação do Nordeste no livro”, explica
Janice. A especialista procurou então, com orientação do professor
Capovilla, documentar e criar verbetes próprios do Nordeste brasileiro, como “Farol da Barra” (na Bahia) e “Baião de Dois”, entre outros. Para tanto, contou com a cooperação de 32 surdos espalhados em 15 cidades dos nove
estados da região. Ao todo foram captados mais de 10 mil sinais do
Nordeste, mas apenas 4.287 sinais foram registrados como exclusivos da
região.
Todo o trabalho foi divido segundo 25 categorias semânticas
determinadas por Janice, como “Culinária”, “Cultura Nordestina”, ou
“Religião”. A partir destas categorias eram reunidos surdos mais
familiarizados com certos universos, de maneira a extrair fielmente, da
própria experiência de cada um deles, os sinais de cada uma das
expressões regionais.
Registros facilitam divulgação nacional da cultura e ambiente
cotidiano próprio dos surdos nordestinos, como o Instituto Cearense de
Educação para Surdos (ICES)
Inovação Metodológica
A cada encontro com os surdos que participaram do estudo como representantes de seu estado, Janice filmava as listas de palavras para a coleta dos sinais. Divididas em categorias pré-determinadas, as gravações geraram 39 DVDs.
A cada encontro com os surdos que participaram do estudo como representantes de seu estado, Janice filmava as listas de palavras para a coleta dos sinais. Divididas em categorias pré-determinadas, as gravações geraram 39 DVDs.
“Além de representarem um importante documento da construção da obra,
os vídeos garantiram maior exatidão a catalogação dos sinais”, conta a
especialista. Isso porque, depois de prontos, todos os DVDs gravados
eram submetidos a uma espécie de comissão, formada por “juízes” surdos,
que confirmavam ou não a correspondência entre os sinais e os seus
significados, e se era mesmo de uso comum entre os surdos da região.
Para que um sinal fosse registrado, deveria passar primeiro pelo crivo
da comunidade surda local.
Integração
O trabalho de “Lexicografia” (estudo e produção de dicionários) dos sinais de Libras próprios do Nordeste conduzido por Janice tem ainda uma importância pontual. Estatísticas do IBGE apontam que a região é, proporcionalmente, líder na incidência de casos perda auditiva no Brasil, com números em torno de 6% da população total, acima da média nacional.
O trabalho de “Lexicografia” (estudo e produção de dicionários) dos sinais de Libras próprios do Nordeste conduzido por Janice tem ainda uma importância pontual. Estatísticas do IBGE apontam que a região é, proporcionalmente, líder na incidência de casos perda auditiva no Brasil, com números em torno de 6% da população total, acima da média nacional.
A especialista ressalta ainda outra importante contribuição da
pesquisa, a possibilidade de integração. “Os verbetes contêm informações
sobre coisas muito específicas de cada um dos estados participantes,
como pontos turísticos e culinária regional”, explica Janice. E conclui:
“Não é só uma questão de criar uma referência, mas também de promover a
integração e divulgar a cultura nordestina, o universo dos surdos da
região, para todo o País.”
Imagens: Marcos Santos USP/Imagens
Mais informações: email janicetemoteo@gmail.com, com a especialista em Libras, Janice Temoteo
Mais informações: email janicetemoteo@gmail.com, com a especialista em Libras, Janice Temoteo
http://www.usp.br/agen/?p=136905
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