A terapia com surdos é uma tarefa penosa, que requer muita dedicação e
paciência, pois além do surdo, o trabalho se estende à família, um dos
principais focos dos conflitos da pessoa surda. Poucos se dão conta da
dimensão do sofrimento psicológico e moral do surdo. A falta de
comunicação, o isolamento, o preconceito, fazem do surdo um ser
dependente do ouvinte, ainda que tenha conseguido avançar em sua
educação e desenvolvimento cognitivo. Essa dependência reduz sua
auto-estima, produzindo conflitos que muitas vezes são interpretados
equivocadamente como comportamentos típicos do surdo, como:
agressividade, intolerância, individualismo, incapacidade intelectual,
quando na verdade essa visão resulta do desconhecimento do mundo dos
surdos. Contudo, não se pode negar que a cada dia os surdos progridem em
suas conquistas e afirmação como cidadãos.
Abordagens clínicas e terapêuticas
Muitas vezes me perguntam qual a abordagem terapêutica que adoto no
atendimento ao surdo. É uma curiosidade natural. Afinal os psicólogos
seguem geralmente uma tendência teórica pela qual tem afinidade e
preferência. Mas eu afirmo que se nos limitarmos a uma única abordagem
terapêutica no caso dos surdos, vamos restringir nosso campo de ação.Há
um universo muito amplo de variáveis e especificidades no tratamento
psicológico do surdo.
É preciso considerar:
a) Faixa etária
b) Período de aquisição da surdez ( pré ou pós-lingual)
c) Nível de capacidade auditiva ( leve, moderada, severa, profunda, uni ou bilateral)
d) Outras sequelas ( motoras, neurológicas, surdocegueira)
e) Ambiente familiar
f) Nível de oralidade/ leitura labial e sinalização em língua de sinais
g) Nível socioeconômico
h) Preferências sexuais (atualmente existem associações de surdos gays)
i) Envolvimento com drogas e atividades ilícitas
Essa gama de condições e peculiaridades exigem do terapeuta uma
postura profissional eclética, além da possibilidade de ter que intervir
com aconselhamento em conflitos familiares, judiciais e nas relações de
trabalho.
Não basta, portanto, dar consultas no consultório, e torcer para que o
surdo resolva seus problemas. É fundamental que o terapeuta esteja
aberto a uma visão holística do atendido, em suas dimensões física,
mental e espiritual ( no sentido de espiritualidade e não de
religiosidade).
Não se descarta, portanto, o uso de técnicas e procedimentos da
terapia comportamental, cognitiva, gestaltista, e mesmo psicanalítica, e
de outras abordagens. Cada caso requer procedimentos próprios e
compatíveis com a especificidade do cliente. Sem falar na necessidade do
trabalho interdisciplinar, com o fonoaudiólogo, o psicopedagogo, o
psiquiatra e outros profissionais.
Na condição de terapeuta de surdos, muitas vezes precisei participar
de audiências na justiça, em processos criminais e de direito de
família, para justificar laudos, esclarecer condutas do cliente diante
do juiz, bem como visitar empresas para dialogar com empregados e chefes
ouvintes, com o objetivo de melhorar as relações de trabalho.
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