Filme é protagonizado por atores surdos e mostra rito de passagem. Produção não tem qualquer legenda ou diálogo verbalizado.
O ucraniano “A gangue” tem uma peculiaridade: é inteiramente falado
em língua de sinais e protagonizado por atores surdo. A temática da
gangue juvenil já é bem saturada pelo cinema e, no fundo, representa os
ritos de passagem para a vida adulta. Sem qualquer legenda ou diálogo
verbalizado, a narrativa se constrói da fala silenciosa de suas
personagens e do som ambiente.
Isso, é claro, causa, num
primeiro momento, desconforto no público, que intuitivamente acompanha o
desenrolar da trama. Depois, o longa, escrito e dirigido por Miroslav
Slaboshpitsky, traz outros tipos bem maiores de desconforto – em seu
sexo explícito e na violência, deixando a falta de falas em segundo
plano.
Sergey (Grigory Fesenko) chega a um internato para surdos, um lugar
como outro internato que tanto se vê no cinema: disciplina rígida,
uniformes e uma tensão e disputa entre personagens. Mas o jovem quer se
encaixar, fazer parte do grupo, por assim dizer. Se comportam conforme
mandam as regras da instituição durante o dia, mas à noite se
transformam, liderados por um deles (Alexander Osadchiy); roubam
dinheiro e bebidas.
Quando
finalmente é aceito, Sergey começa sua escalada rumo ao topo da gangue.
Primeiro junta dinheiro para passar a noite com uma das garotas da
escola, Anya (Yana Novikova) – e os dois se tornam amantes, o que
resulta em algumas das cenas gráficas do longa. A garota e sua amiga
Svetka (Rosa Babiy) querem imigrar para a Itália, mas o sonho é
interrompido por uma gravidez inesperada – no que resultará em outro dos
“momentos fortes” do filme.
Ganhador de três prêmios no Festival de Cannes do ano passado – entre
eles o principal da competição paralela Semana da crítica –,
Slaboshpitsky não tem pudores em mostrar a violência – especialmente
perto do final – como a única saída para suas personagens. É o refúgio
deles, é uma espécie de última forma de expressão que encontraram. É
cruel, mas, ao mesmo tempo, faz um certo sentido: mas seria a única
forma que eles têm para “gritar”? É claro que não.
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
Fonte/Editado: http://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2015/05/estreia-ucraniano-gangue-e-inteiro-falado-em-linguagem-de-sinais.html
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