No nosso
dia a dia podemos vivenciar situações em que pessoas denominam os que não ouvem
de “mudinho, “mudo” ou “surdo-mudo”, pois creem que todos os indivíduos surdos
são mudos. O que muitas pessoas desconhecem é que, na verdade, bem poucos
surdos são comprovadamente mudos e ainda muitos desses mudos não são surdos.
Explanemos melhor: pessoa muda é aquela que é privada de algum órgão do seu
aparelho fonador, como a falta de cordas vocais, por exemplo, o que a
impede de produzir sons. Assim, se esse indivíduo não pode produzir nenhuma
espécie de som, ele não utiliza a fala.
A fala é
uma atividade que envolve a produção de sons e não é utilizada pela grande
maioria dos surdos. Os surdos podem produzir sons, nesse caso, vistos como
ruídos ou barulhos, mas não conseguem captá-los e, assim, na maioria das vezes,
é impossível que consigam reproduzir ou produzir os sons da fala.
Quando falamos em atividade linguística oral, a fala é aprendida por meio da
audição. No caso do surdo, há uma dificuldade ou impedimento da aprendizagem
dos sons ditos linguísticos. Os surdos conseguem produzir sons vocais, mas, na
sua grande maioria, esses sons são distorcidos e difíceis de serem
compreendidos pelos ouvintes.
Há surdos
que passam anos em tratamentos com fonoaudiólogos e professores de Língua
Portuguesa para que consigam se comunicar bem por meio da fala. Os
diálogos com esses indivíduos necessitam ser estabelecidos frente a frente com
o receptor, fazendo com que o surdo possa realizar uma eficiente leitura
labial.
Muitos
imaginam que a grande maioria dos surdos realiza leitura labial. Contudo, para
que tal atividade seja executada com sucesso, são necessários anos e anos de
treino, além de o interlocutor formular as palavras com clareza, não existir
obstáculos, como bigodes ou as mãos posicionadas na frente da boca, haver uma
pequena distância entre as pessoas envolvidas no ato comunicacional e,
principalmente, muita paciência. Nem sempre a leitura labial proporciona, ao
surdo, total entendimento da mensagem, pois é fato comprovado que até o adulto
mais hábil só consegue entender 50% (talvez menos) das palavras articuladas; em
relação ao restante, é necessário que o surdo faça uso da adivinhação.
Usualmente,
encontramos surdos que não fazem uso da língua oral pelos motivos acima
citados. Para esses surdos, o meio natural de comunicação utilizado é a Língua
Brasileira de Sinais, oficialmente reconhecida por meio da Lei 10436, de 24 de
abril de 2002, que a tornou a segunda língua oficial no Brasil.
A Língua
Brasileira de Sinais (Libras) é um sistema linguístico visual, em que as
palavras são articuladas por meio de sinais, que se organizam em frases e
estas, em textos ou discursos.
A Libras,
como sistema de comunicação dos surdos, é chamada de língua e não linguagem,
pois é tão complexa como a língua oral, com características gramaticais
próprias, possuindo todos os níveis de análise das outras línguas, sua própria
sintaxe e o seu próprio vocabulário.
A
diferença mais visível em relação às línguas orais é o fato de a Libras ser uma
língua de modalidade visual-espacial: realizada por meio de gestos e expressões
com as mãos, a cabeça e o corpo, é percebida pelo receptor através da visão.
Por essa razão, a Libras é diferente de qualquer língua falada, oral-auditiva
por natureza.
Atualmente, podemos
dizer que a Libras não é conhecida pela população ouvinte e por uma parcela de
surdos, pois muitos pais ainda consideram a Língua de Sinais como primitiva, ou
inferior, à língua falada, privando os filhos de terem contato com esse
recurso. Muitos surdos se tornam adultos sem conseguir estabelecer uma
comunicação eficiente com os pais e, consequentemente, com a sociedade.
Por muito tempo, as
pessoas avaliaram mal o conhecimento dos surdos, fazendo com que se sentissem
oprimidos e incompreendidos. Essa postura vai de encontro à necessidade de ser
compreendido, inerente a todos os seres humanos. Em contraste a essa situação,
muitos surdos se sentem completamente “capacitados”, comunicam-se com os seus
pares fluentemente, possuem um nível mais elevado de autoestima e alcançam bom
desempenho acadêmico e social.
Devido aos maus
entendimentos dos ouvintes em relação aos surdos, muitos ainda desconfiam dos
ouvintes, mas quando estes se mostram sinceramente interessados em compreender
a cultura surda e a Língua de Sinais e vislumbram os surdos como pessoas
“capacitadas”, todos se beneficiam.
Andresa Vaniele Barbosa Pereira
http://oficinadelibras.blogspot.com.br/2012_05_01_archive.html
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