É  consenso entre os médicos especialistas que pessoas com deficiência na audição  devem receber aparelhos auditivos em ambos os ouvidos, se assim for receitado. O  uso de um aparelho auditivo em apenas um ouvido é contraindicado por trazer  vários prejuízos. A noção espacial é danificada, principalmente em lugares  cheios e barulhentos. Ainda mais grave é a possibilidade de perder totalmente a  audição no ouvido que ficou sem o aparelho. Mas, contrariando o consenso médico,  o SUS entrou na Justiça para pagar pelo aparelho auditivo em apenas um ouvido.  E, surpreendentemente, ganhou, informou a Agência Brasil.
O  Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) derrubou a decisão que obrigava o  Sistema Único de Saúde (SUS) a fazer implantes auditivos duplos em pacientes  surdos, segundo divulgou a Advocacia-Geral da União (AGU) nesta segunda-feira.  Desde 2000, o SUS custeava o implante em apenas um ouvido, mas, em outubro de  2011, a Justiça Federal no Rio de Janeiro havia determinado que a cirurgia fosse  feita nos dois órgãos.
Para  o SUS, o implante auditivo em um dos ouvidos custa cerca de 45 mil reais por  paciente. A prótese, inserida no ouvido interno, cria o chamado 'ouvido biônico'  e é indicada a pessoas com surdez total ou quase total -- para quem os aparelhos  auditivos convencionais não são suficientes.
A  decisão da Justiça de obrigar o SUS a custear a cirurgia nos dois ouvidos  aconteceu depois de a Defensoria Pública da União (DPU) entrar com uma ação que  dizia que o implante em apenas em um ouvido causa prejuízos à audição e à  qualidade de vida dos pacientes. A Defensoria também reclamou que o SUS não  arcava com as despesas de manutenção do aparelho após a operação.
Em  outubro, o juiz de primeiro grau Iorio Forti determinou que o SUS se  responsabilizasse pelos gastos do pós-operatório dentro de quatro meses e, em  dez meses, passasse a fazer implantes bilaterais em pelo menos 30% dos pacientes  operados até agora, cerca de 2 mil.
A  União, porém, entrou com um recurso no Tribunal Regional Federal da 2ª Região  (TRF2) alegando que a decisão do juiz acarretaria altos custos sem comprovação dos benefícios médicos. O argumento foi acolhido em dezembro de 2011 pelo  Tribunal, que entendeu que "há que se conciliar a capacidade de planejamento  orçamentário do Estado com a necessidade de pleno atendimento da saúde". O caso,  porém, ainda pode ter reviravolta: a questão ainda deverá ser analisada no  mérito.
Opinião do especialista
Ricardo  Ferreira Bento
Professor titular de otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da USP
Professor titular de otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da USP
"É  um absurdo que o SUS ofereça implante em apenas um ouvido. Embora o paciente  passe a escutar, o procedimento em um só órgão pode ser prejudicial. Quando  uma pessoa passa a ter implante em um ouvido, seu processamento auditivo  cerebral, ou seja, a capacidade do cérebro de interpretar os sons, se desenvolve  apenas de um lado, que é o lado do implante. Se o paciente quiser fazer a  cirurgia, um ou mais anos depois, em outro ouvido, não adiantará nada, já que  ele não terá mais o processamento auditivo.  Além  disso, passar a escutar apenas de um lado pode prejudicar a noção espacial,  principalmente em lugares muito cheios e com muito barulho."


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