Surdo-Mudo refere-se a um indivíduo que não ouve, assume a sua identidade surda, é um cidadão, tem seus direitos e cumpre seus deveres, e tem fluência em sua própria língua, a Libras, e conhece a cultura surda. Não tem a necessidade de aprender a oralizar (ler os lábios e falar), é a sua opção.
Convive com surdos, apenas, não com ouvintes. Tem dificuldade de assimilar a língua portuguesa, de uma forma fluente, como é exigido pela sociedade, porém consegue utilizar o português de maneira básica, sem muita coerência gramatical.
Surdo é o termo eleito pela comunidade surda como denominação, ao referirem-se a eles. Entretanto a sociedade nega-se a utilizar o este termo, optando pelo termo deficiente auditivo ou pessoa com necessidade especial e ainda surdo-mudo.
Surdo oralizado, sinalizado e usuário de bimodalismo são termos específicos, e jargão, utilizado por linguístas pesquisadores, profissionais e estudantes da área da surdez, não sendo termos amplamente divulgados em publicações, artigos e nas mídias do cotidiano. Sendo assim grande parcela da sociedade desconhece esses termos e seus significados.
Como surgiu o termo “Mudo”, um pouco de história:
>> Em meados de 1881, existiam professores surdos, que ministravam suas aulas, em diferentes disciplinas, por meio da língua de sinais. Ocorre que nesse mesmo período padres (ouvintes) se mostraram contrários aos surdos-mudos, e decidiram selecionar alguns surdos para ensiná-los a falar, obrigando-os a aprender a articulação orofacial. O intento desses padres era acabar com o uso da língua de sinais por surdos. Com o tempo aumentou o número de surdos que oralizavam, e então os padres conquistaram o poder necessário para retirar os professores surdos de seu cargo.
>> Antes disto, em 438 a 322 A.C., aproximadamente, Aristóteles, na Grécia, havia criado o termo surdo-mudo, que significava ser incapaz de ouvir e de falar. De acordo com registros feitos por Aristóteles, em sua percepção os surdos eram pessoas com desenvolvimento mental suficiente para responder às perguntas ou entender discursos. Dizia-se que o surdo era alguém inferior. Os ouvintes não conseguiam não conseguiam manter uma convivência com os surdos, pois faltava-lhes o conhecimento da língua de sinais, e imperava a falta de comunicação. Essa história seguiu, passando por milagres que Jesus fazia. Ele curava pessoas surdas e as fazia ouvir. No período D.C os padres também diziam que o surdo não tinha alma, que não podia rezar para falar com Deus.
>> Reis e rainhas, da época, casavam entre seus familiares, para manter a riqueza entre os seus. Ocorre que começaram a nascer bebês surdos. Nesses casos vinha o bispo, que orientava ao rei e a rainha, pais do surdo, dizendo que um filho surdo, incapaz de se comunicar com as pessoas da cidade, por meio da fala (articulação orofacial), não teria direito a herança.
Os pais transferiam a herança para os filhos ouvintes que ficavam com a responsabilidade pela parte financeira e por cuidar do irmão surdo.
Surdo-mudez é um termo apresenta o significado de alguém incapaz de se casar, de dirigir um carro, de ler/escrever/falar oralmente (em língua portuguesa), de adquirir uma linguagem funcional e desenvolvimento cognitivo, além de muito mais outras idéias pejorativas embutidas neste termo.
>> A sociedade é constituída, majoritariamente por pessoas que ouvem (ouvintes), se confundem com o fato de a pessoa ser surda, e a vêem como alguém incapaz, e sua língua de sinais como algo bonito de se apreciar, como uma arte, e entendem que este sujeito é capaz de estudar até o ensino fundamental, tira carta de motorista numa auto-escola e outras conquistas, porém sempre tendo como foco conquistas simples.
>> Acreditam que o surdo tem grande dificuldade de alçar altos vôos, assumindo cargos importantes numa empresa, tendo uma boa profissão.
Para concluir temos a classe dos políticos, que utilizam o termo surdo relacionado ao incapaz, no código civil, vejam:
São incapazes conforme o Código Civil:
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
Leia mais acessando o link: http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/2002/L10406.htm
O Portal Identidade orienta:Não é necessário que continuem a discutir esta temática, sobre o termo surdo-mudo, devemos sim respeitar cada pessoa em sua diferença, dentro dos conhecimentos da área da surdez.
Por exemplo:A sociedade não vê por esse prisma, mas sim pelo termo que homogeneíze todos como surdos-mudos, ou pessoas com necessidade especial.
Temos a história de dois surdos, um chamado Jon e outro Léo.
Jon não quer oralizar. Léo quer oralizar. São seres humanos e surdos. Eles têm o direito a escolha, que entenderem ser a correta: surdo ou surdo-mudo. São cidadãos, têm direito à igualdade, são seres-humanos. Um respeita ao outro em sua opção de querer ou não falar oralmente. O segundo quer ser chamado de surdo oralizado ou apenas surdo. Jon opta por ser chamado de surdo-mudo ou de surdo sinalizado.
Não há brigas ou discussões sobre como o outro decide sobre sua vida, sua escolha e opção sendo um ser humano, diferente, ele pode optar pelo termo mudo ou pessoa com necessidade especial. É uma questão difícil de se resolver, não é simples, tanto que temos visto surdos que ainda hoje discutem sobre isto.
Cada pessoa é uma pessoa diferente, cada qual tem o direito de escolha. Nós devemos sim respeitar a você, que quer ser “....”, e também respeitar a nós que queremos ser “....”, entretanto somos todos iguais, sendo todos seres humanos e convivemos numa mesma comunidade.
As pessoas ouvintes querem muito que a pessoa surda seja como a um ouvinte, tenha como modelo para si o ouvinte. Nós surdos nascemos no Brasil, aqui crescemos e vivemos, assim como os ouvintes, que por sua vez ouvem e falam, enquanto que nós não ouvimos e não falamos. Ainda assim os ouvintes exigem que sigamos um único modelo, nos adaptando para sermos como os ouvintes. Como não queremos esse modelo para seguir somos taxados de surdo-mudo ou pessoa com necessidade especial, e alguém que tem dificuldade e limite com relação a se comunicar em sociedade, sendo um incapaz.
Os ouvintes querem que os surdos sejam iguais a eles, e os tenham como um modelo a seguir. Os surdos que se adéquam a essa imposição são denominados por eles como surdos, sem a palavra mudo. Alguns chamam os surdos oralizados de deficientes auditivos, porém surge um novo problema, pois muitos dos surdos oralizados não aceitam serem chamados de deficientes auditivos. Nem se adequando à exigência o surdo é respeitado em sua opinião e escolha, pois as pessoas ouvintes, a sociedade, é ignorante, desconhecendo a área da surdez. Infelizmente!
Resistindo a esta intimidação, e nadando contra a maré, os surdo hoje se casam, tiram sua carteira de motorista, se formam no ensino superior e na pós-graduação, trabalham, compram e vendem, são proprietários de imóveis, como pessoas independentes moram sozinhos, viajam sozinhos e muito mais, contrariando ao dito no Código Civil.
Queremos deixar o termo “Mudo” no passado, pois hoje podemos ser independentes em diversos aspectos, não em todos eles, mas conseguimos viver sozinhos, somos autônomos, e não dependentes de nossos pais ou de parentes.
Se não acredita no que falo veja abaixo:
- Karin Strobel - Mestre Surda em Educação
- Shirley Vilhalva - Mestre Surda em Linguistica.
- Patrícia Luiza Ferreira Rezende - Doutora surda
- Marianne Stumpf - Doutora Surda
- Neilvado Zovico - Prof. Esp. Surdo de matemática
- Rimar Ramalho - Mestre Surdo em Traduação/Intérprete
- Vanessa Vidal - Modelo em 2 lugar de Miss Brasil Surda.
- E mais!
Fonte: http://www.portalid.com.br/sociedade.html
olá boa tarde, moro em Portugal, e trabalho em escolas com crianças e actualmente estou fazendo curso de auxiliar de Ensino Especial, e gostava imenso de aprender a linguagem das mãos. É possível?
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