A forte ênfase no papel da linguagem verbal no funcionamento
cognitivo humano gerou distintas representações, principalmente no caso
dos surdos, uma vez que a dificuldade encontrada por eles na linguagem
foi vista, por vezes, como geradora de obstáculos ao desenvolvimento do
pensamento. Um desses obstáculos seria o de que a linguagem de sinais
levaria a uma redução no universo intelectual ao mundo concreto,
restringindo, assim, as funções de caráter abstrato. Por isso, o
oralismo dominou em todo o mundo até a década de 1970. Porém, segundo
Góes (1999, p.26), as discussões teóricas sobre cognição e linguagem
começaram a alterar-se a partir da década de 80, com base em outros
aportes, tais como a teoria de L. S. Vygotski. Com isso, passa a
expandir-se uma nova proposta, que parte do pressuposto que a
comunicação deve ser privilegiada e não a língua propriamente dita.
Assim, a deficiência não torna a criança um ser que tem possibilidades a
menos, ou seja, ela tem possibilidades diferentes, e não menores (Góes,
1999, p. 34).
Partindo disso, entra em questão um novo fator, pois, junto com uma
língua distinta para os surdos, surge também uma nova cultura, ou seja,
junto ao bilingüismo, veio o biculturalismo, revelando um processo antes
ignorado, que é o processo de construção da identidade cultural surda,
uma vez que o surdo tem contato com dois grupos culturais distintos, o
ouvinte e o surdo. Assim sendo, estréia uma nova tendência, a de
vincular o processo educacional às experiências culturais dos surdos,
para que seu desenvolvimento alcance maior êxito. Como conseqüência, a
discussão sobre as formas de atenção às pessoas e aos grupos surdos tem
sido deslocada do campo da educação especial para o campo antropológico,
pois a educação deveria dar acesso aos bens culturais de acordo com as
características singulares decorrentes da surdez.
Mesmo com todo esse processo de luta pelo direito à diferença, ou
seja, por uma política afirmativa da cultura surda, no atendimento
educacional ainda se faz presente, em menor escala, a dominação da
oralização, seja ela na prática ou na memória dos que vivenciaram essa
dominação.
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