A compreensão do fracasso escolar enquanto processo psico-social
complexo está muito além das evidências dos altos índices de evasão e
reprovação escolar, principalmente no 1º grau. Embora a natureza das
disfunções na aprendizagem deve ser considerada como conseqüência de
inúmeros fatores, e não a como a causa primeira do fracasso escolar, a
idéia de fracasso escolar nos leva a uma relação direta entre distúrbios
de aprendizagem e fracasso escolar. De fato, dificuldades, transtornos,
distúrbios e problemas de aprendizagem são expressões muito usadas para
se referir às alterações que muitas crianças apresentam na aquisição de
conhecimentos, de habilidades motoras e psicomotoras, no
desenvolvimento afetivo e outras. Assim, levanta-se a seguinte questão:
se a reversão do quadro do fracasso escolar na ordem social do contexto
educacional brasileiro já é tão trabalhosa e penosamente difícil de se
solucionar, o que esperar então dos quadros alarmantes de altos índices
de reprovação e evasão escolar das pessoas portadoras de deficiências e,
sobretudo, no caso do presente trabalho, dos surdos?
Qualquer aluno que não aprende não realiza nenhuma das
funções sociais da educação, acusando sem dúvida o fracasso desta e, ao
mesmo tempo, sucumbindo a esse fracasso (Paim, 1989). Apesar dessa
constatação, não podemos inserir todos os que têm dificuldades para
aprender num mesmo grupo e tratá-los como se fossem iguais.
Assim, que critério utilizar para identificar os grupos? Miklebust (1971) propõe que tal classificação se realize com base na “manifestação” mais
evidente e que produz o maior impacto sobre a criança. Assim, para os
portadores de deficiências mentais, é o atraso mental sua maior
afetação, responsável pelas dificuldades generalizadas para
aprendizagens acadêmicas, motoras e sociais. Para os portadores de
deficiências sensoriais, as afecções mais evidentes são a cegueira ou a
surdez ou ainda a surdocegueira; para os portadores de problemas de
conduta, os transtornos emocionais. Todos esses constituem o alunado da
Educação Especial, juntamente com os superdotados que não apresentam,
necessariamente, dificuldades de aprendizagem. Há, porém, um outro grupo
de alunos com dificuldades para aprender, cuja afecção mais evidente é a
deficiência da aprendizagem, apesar de adequadas inteligência, visão,
audição, capacidade motora e equilíbrio emocional.
Estudos sobre a neuropsicologia da aprendizagem demonstram que, nesse
grupo, a generalizada integridade orgânica convive com a deficiência na
aprendizagem. Esta pode manifestar-se como dificuldades motoras ou
psicomotoras, de atenção, memorização, compreensão, desinteresse,
escassa participação e problemas de comportamento.
Esse numeroso grupo de crianças brasileiras de diferentes camadas
sociais é que tem feito crescer os percentuais de analfabetos, de
repetentes, dos que abandonam precocemente a escola e daqueles que, por
vezes, são indevidamente encaminhados à Educação Especial. É para eles
que novos modelos de atendimento especializado devem ser implantados no
1º grau regular, contribuindo para promover a qualidade do ensino,
evitando-se o aumento do já enorme contingente que compõe o fracasso
escolar.
POR QUE MUITOS ALUNOS SURDOS FRACASSAM NA ESCOLA?
® Cerca de 80 a 90% dos surdos do país não concluem/concluíram o 1º grau;
® Junto com o agravante da surdez, as teorias da carência cultural e
as crítico-reprodutivistas são fatores a mais que comprometem ainda mais
o desempenho escolar dos surdos;
® Há uma abordagem “omissa” da Educação acerca das diferenças
culturais e características individuais generalizadas entre surdos
oralizados e não oralizados, onde para cada um dos grandes grupos de
surdos requer-se práticas pedagógicas diferenciadas;
® Qual o principal fator agravante que contribui para o fracasso
escolar dos surdos? Os problemas lingüístico-cognitivos. Por quê? Um
bebê que nasce surdo balbucia como um de audição normal, mas suas
emissões começam a desaparecer à medida que não tem acesso à estimulação
auditiva externa, fator de máxima importância para a aquisição da
linguagem oral. Assim também, não adquire a fala como instrumento de
comunicação, uma vez que não a percebendo, não se interessa por ela, e
não tendo “feed back” auditivo, não possui modelo para dirigir suas
emissões. Assim, na concepção geral do uso do método oralista
(obviamente isso não é uma regra geral):
Surdez® falta de estímulos auditivos ® não domina uma
língua oral ® não desenvolve a linguagem durante o período crítico do
desenvolvimento humano ® sérios atrasos na linguagem e comunicação® não
desenvolve o pensamento ® graves problemas lingüístico-cognitivos ® não
atinge plenamente os estágios do desenvolvimento humano em cada faixa
etária definida pela Teoria de Piaget ® dificuldades na leitura e na
escrita ® isolamento social na comunidade ouvinte ® mais as interações
negativas de contexto sócio-histórico que se processam na escola e o
estigma/estereótipo da surdez ® atraso escolar ® dificuldades de
aprendizagem ® FRACASSO ESCOLAR!!!
Soluções? ® soluções pedagógicas diferenciadas para cada grupo de
surdos, estimulação e diagnóstico precoce da surdez. Reconhece-se, aqui,
que se deve permitir ao surdo, se assim ele o reivindica, o direito de
acesso à sua língua natural, que é a língua de sinais. A língua de
sinais assume outro contexto de estruturação gramatical altamente
complexa que permite ao surdo um “tipo” diferente de pensamento, baseado
nas possibilidades inteiramente visuais (concepção espaço-temporal e
esquema corporal). Embora haja sérias divergências quanto ao melhor
método para a aquisição da linguagem ao surdo, a maioria dos educadores e
surdos concordam no modelo do Bilingüismo como o melhor método de
acesso à linguagem e educação do surdo.
muito interessante esse blog, gostei!
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