Escola do Futuro da Tapera tem Libras como componente curricular e outras 16 unidades do município utilizam a língua no cotidiano
O Brasil tem 17,3 milhões de pessoas acima de dois anos com algum grau de deficiência, apontam dados da PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2019. O levantamento mostra ainda que 1,3% da população com 14 anos ou mais tem deficiência auditiva e que a quantidade de pessoas com essa deficiência também aumenta conforme avança a idade: cerca de 1,5 milhão de pessoas que participaram da ação tinha mais de 60 anos. O dado corresponde a 4,3% dos idosos do país.
O panorama registrado pelo estudo destaca a importância da inclusão de pessoas com deficiência desde os primeiros anos de vida. Segundo pesquisadores de todo o mundo, entre eles Marilyn Daniels, uma das mais reconhecidas nesta área, é preciso trazer para as crianças a realidade de quem tem deficiência para que, desta forma, seja possível sensibilizá-las para as diferenças.
Aumentam ainda as pesquisas que revelam os ganhos positivos do aprendizado de Línguas de Sinais por pessoas sem deficiência auditiva. Marilyn Daniels, por exemplo, ressalta que a Língua de Sinais é um fator significante no desenvolvimento cognitivo, melhorando as habilidades de atenção das crianças ouvintes, a discriminação visual e a memória espacial.
No Brasil, um projeto que ainda tramita no Senado busca incluir a Língua Brasileira de Sinais nos currículos escolares para todos os alunos, não apenas os surdos. O PL 5.961/2019, apresentado pela senadora Zenaide Maia, foi inspirado na primeira ideia legislativa apresentada em Libras no portal e-Cidadania, por uma estudante do Distrito Federal.
Ao justificar a ideia, a estudante Anne Drielly, de Santa Maria (DF), lamentou a falta de comunicação entre surdos e ouvintes. “Quando o surdo usa Libras e o ouvinte não, não há como eles se comunicarem”, explicou. De acordo com a estudante, se houvesse o ensino de Libras também para ouvintes, a comunicação nas escolas seria facilitada.
Em Florianópolis, essa inclusão já é realidade em 17 unidades educativas da rede municipal de ensino, que utilizam Libras em seu cotidiano, seja em colégios ou núcleos de educação infantil.
Libras é componente curricular na Escola da Tapera
Uma destas unidades é a Escola do Futuro da Tapera, onde todos estudantes do ensino fundamental podem aprender Libras. A disciplina é oferecida como componente curricular a 140 estudantes do primeiro ao quinto ano. Como atividade complementar, no contraturno, para 180 estudantes dos anos finais, há o Clube de Libras, um espaço pensado para o ensino da língua com os recursos necessários e professores com formação adequada.
A diretora da Escola Municipal Tapera, Melize Daniel, destaca que a Libras possui características específicas. “Além de ser reconhecida em todos os aspectos linguísticos, como morfologia, sintaxe e pragmática, se diferencia do português na medida em que se apresenta na modalidade gestual-visual, portanto, composta por um conjunto de movimentos e expressões captados pela visão”, explica.
O secretário de Educação de Florianópolis, Maurício Fernandes Pereira, acrescenta que a prefeitura busca oferecer um sistema educacional cada vez mais inclusivo. “É de suma importância que todos da comunidade escolar possam ampliar seus olhares em relação à língua ofic ial das comunidades surdas”, destaca.
Em outras três unidades educativas do município de Florianópolis, as escolas Mâncio Costa, localizada no bairro Ratones; Intendente Aricomedes da Silva, na Cachoeira do Bom Jesus; e Osmar Cunha, em Canasvieiras, o sistema para o ensino de Libras é similar ao da EBM Tapera. Além destas, as crianças atendidas no Núcleo de Educação Infantil Doralice Maria Dias, na Vargem do Bom Jesus, também têm acesso à Língua Brasileira de Sinais.
Na escola da Tapera, as aulas de Libras ocorrem desde sua inauguração, no início de 2020. A professora Vanessa Gonzato é surda e trabalha com um intérprete, o professor Valdelúcio Fernandes Marques. Eles atuam no ensino regular e nos projetos da rede municipal de ensino.
Para Vanessa, o ensino de Libras na unidade garante a inclusão desse grupo linguístico minoritário, contribuindo para disseminar mais informações sobre essa língua, para a comunicação em Libras e possibilita que o professor compreenda o estudante.
“É visível o interesse da parte dos alunos no momento da aula, sempre querendo conhecer mais sobre a cultura surda e também aprender mais sinais”, conta. “Os estudantes já relataram que gostam de aprender Libras, que pretendem usar quando encontrar um surdo, ou alguns têm parentes ou conhecidos surdos e querem ter uma comunicação mais efetiva”, complementa Vanessa.
Aproximação entre pessoas surdas e ouvintes
Naia Coral, jornalista voluntária na ASGF (Associação de Surdos da Grande Florianópolis), avalia que essa iniciativa do município pode estreitar de forma significativa a convivência de pessoas ouvintes e surdas. “Como ouvinte, percebo a importância de saber sinais básicos ao encontrar um surdo, uma surda… seja no comércio, na convivência na comunidade surda. Frequentei o Letras Libras da UFSC (Universidade Federal de SC/Bacharelado) e pude ter conhecimento sobre como a Língua Brasileira de Sinais é maravilhosa. Com sua gramática própria não é uma língua universal, cada país tem a sua língua de sinais e mesmo dentro do próprio Brasil, a língua possui sinais característicos. Nesta semana, completamos 20 anos da Lei 10.436/2002, um marco para a educação dos surdos no nosso país”, ressalta.
Nara avalia a inclusão do ensino de Libras nas escolas para todos os estudantes como uma ação de extrema importância para aproximar pessoas surdas e pessoas ouvintes, quebrando a barreira da comunicação que ainda persiste nos dias de hoje. “Imagina viver em um espaço onde as pessoas surdas possam ser compreendidas, ouvidas, por assim dizer? É algo que nos eleva como seres humanos, que nos traz pertencimento e auxilia na construção da cidadania”, afirma.
Ainda na Escola do Futuro da Tapera, o nome da unidade também está escrito em Libras. Outra ação foi grafitar o muro lateral com todo o alfabeto em Língua Brasileira de Sinais. “A ideia da grafitagem foi para dar visibilidade à língua estudada na escola, socializar com a comunidade escolar e impulsionar o interesse das pessoas que por ali passam a aprender o alfabeto desta língua”, esclarece a diretora Melize Daniel.
Educação da Capital abre curso gratuito de Libras para população
No Dia Nacional da Libras, a Prefeitura de Florianópolis, por intermédio da Secretaria de Educação, abre inscrições para um curso gratuito de Língua Brasileira de Sinais para a população. A data é comemorada em 24 de abril porque nesse dia e mês, no ano de 2002, a Lei 10.436 reconheceu a língua brasileira de sinais como meio legal de comunicação e expressão.
As inscrições para o curso básico vão até primeiro de maio e podem ser feitas pelo Portal de Formação Continuada da Secretaria de Educação. As aulas serão realizadas no Centro de Educação Continuada da Prefeitura, localizado na Rua Ferreira Lima, número 82 , Centro da Capital.
Começam no dia 2 de maio e vão até 30 de novembro. Haverá duas turmas, uma na segunda-feira, e outra, na quarta-feira, no horário das 18h30 às 20 horas. Quem cumprir 90 horas, terá direito a certificado. Para as 60 vagas, podem se inscrever pessoas a partir de 15 anos. O ministrante será o professor Daniel Carvalho , graduado em Letras -Libras com pós em Ensino e Cultura Surda.
FONTE; https://ndmais.com.br/educacao/lingua-brasileira-de-sinais-e-uma-das-disciplinas-ofertadas-na-rede-de-ensino-da-capital/
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTE AQUI NO BLOG!!!
SEU COMENTÁRIO FAZ TODA DIFERENÇA!!!
Um comentário é o que você pensa, sua opinião, alguma coisa que você quer falar comigo.
BJOS SINALIZADOS.