Muitas
 vozes foram ouvidas no plenário da Câmara dos Deputados no último fim 
de semana, quando os deputados participaram da sessão de votação do 
impeachment da presidente Dilma. Mas para a população surda, elas só 
fizeram sentido com a ajuda de quatro profissionais que traduziram para a
 Libras o que deputados falavam, gritavam e cantavam.
Para isso, 
foi montada uma verdadeira “operação de guerra” com quatro intérpretes 
se revezando a cada hora para que conseguissem dar conta do trabalho 
exaustivo que durou 12 horas na sexta-feira e 12 horas no domingo. No 
sábado eles foram liberados do trabalho. A tradução é inédita em uma 
votação de impeachment, já que o serviço de Libras funciona na TV Câmara
 somente desde 2009.
A coordenadora do programa de acessibilidade 
da Casa, Adriana Jannuzzi, explica que para ficar menos exaustivo foram 
quatro intérpretes que trabalhavam durante 15 minutos. Ou seja, os 
outros três tinham 45 minutos para descansar. Normalmente, as sessões da
 Câmara contam com dois interpretes por turno (manhã, tarde e noite).
O
 jornalista Daniel Madureira, de 31 anos, trabalha na Câmara desde o 
início do serviço de Libras, e acordou nesta segunda-feira com uma 
sensação de ressaca física e cansaço por ter que traduzir tanta coisa, 
especialmente "minha família" e "meus filhos".
— Começamos a 
interpretação juntos com a sessão, e o cansaço foi batendo. Foi 
emocionante e gratificante. Pela emoção não sentimos tanto o cansaço 
(ontem), mas tô meio tonto, e parece que vim de um Carnaval. O trabalho 
teve muita repercussão e foi incrível ter dado acesso a milhões de 
pessoas surdas. Foi incrível e um momento único da minha vida — pontua 
Daniel.
Segundo
 Daniel, já há um gesto que interprete a palavra "impeachment" (veja o 
vídeo abaixo), e quando há muita confusão é o grito que sobressai no 
microfone que é traduzido. Por exemplo, se um deputado está discursando e
 outro grita “Fora Cunha”, ele faz o gesto de que há outra pessoa 
falando e consegue dar aos surdos a dimensão do que está acontecendo. 
Mas nem sempre dá:
— Quando dá muita confusão, o que interpreto é 
‘desculpa está muita confusão’ — explica o tradutor, que em alguns 
momentos ficou quieto, indicando que não tinha como traduzir o que 
aconteceu.
Tradutora do "sim" decisivo e do discurso de posse de Dilma
Coube
 a Ester Tominaga, 56 anos, dar aos surdos a notícias de que o 342º voto
 pelo “sim” havia sido obtido e o impeachment tinha sido aprovado.
—
 Foi emocionante porque todo mundo estava acompanhando voto a voto. O 
que acho mais legal é participar do momento histórico, mas foi bem 
puxado porque tem a tensão e o cansaço físico — diz.
Ester
 conta que além de traduzir as falas como "pela minha família" e "pela 
república de Curitiba" é necessário ter a expressão de como o deputado 
fala:
— O presidente (Eduardo Cunha) estava com uma fisionomia 
serena, e a cada deputado que entrava você tinha que mudar a expressão 
para acompanhar a pessoa. Essa troca de muitas pessoas é cansativa, e a 
nossa expressão muda — explica Ester, que trabalha há mais de 15 anos 
como intérprete, sendo sete deles na Câmara.
Coube a ela traduzir 
para a linguagem brasileira de Libras o discurso de posse do primeiro 
mandato da presidente Dilma, o do segundo mandato e o deste domingo:
—
 São três momentos históricos que destaco — afirma Ester, que 
provavelmente deve traduzir também a tramitação do processo no Senado 
que deve ser transmitido pela TV Câmara.

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