Croácia – Damir Desnica nasceu surdo e foi profissional de futebol campo e jogou no time HNK Rijeka.
A arbitragem não está aliviando para ninguém neste Brasileirão. Com a
recomendação de coibir reclamações por parte de jogadores e técnicos,
os árbitros têm distribuído cartões vermelhos ao menor sinal de cara
feia. A situação levou alguns expulsos a dizerem coisas do tipo “querem
que a gente seja mudo”. Mas será que isso adiantaria para facilitar a
vida da juizada? A história mostra que talvez não…pelo menos por um
caso.
Em novembro de 1984, o pequeno clube croata (na época, iugoslavo)
HNK, da cidade de Rijeka, entrou em campo contra o poderoso Real Madrid
no Santiago Bernabéu. A partida valia pelas oitavas de final da então
Copa da Uefa e, surpreendido na partida de ida, o time merengue
precisava reverter uma derrota de 3 a 1. Abriu 1 a 0 no placar, mas
encontrava grandes dificuldades em furar o bloqueio do HNK. Isso até o
juiz dar uma mãozinha e expulsar de campo, por reclamação, o atacante
Damir Desnica aos 30 minutos do segundo tempo. Detalhe: ele era surdo. E
praticamente mudo. Desnica não fala. Até hoje, é capaz, no máximo, de
emitir alguns poucos sons. O vídeo que abre a reportagem flagra o momento da expulsão.
Outros dois jogadores do time croata foram expulsos e o Real Madrid
acabou se classificando com uma vitória de 3 a 0. A partida entrou para a
história como um exemplo das supostas bizarrices que os árbitros de
então eram capazes de cometer em benefício do Real Madrid. A história do
jogador surdo e mudo expulso por reclamação já foi contada por jornais
espanhóis como o “Marca” e o “AS”, sendo que o último entrevistou
Desnica em 2011.
Uma
das versões sobre o que teria acontecido em 7 de novembro de 1984 é a
de que, na realidade, o croata recebeu o segundo cartão amarelo por
retardar uma cobrança de escanteio. Porém, de acordo com o “AS”,
jornalistas espanhóis relataram à época que a expulsão foi mesmo por
Desnica ter “insultado” a arbitragem. Na entrevista concedida ao jornal,
o próprio jogador garante que essa é a verdade. E conta que, mesmo
antes de chegar ao estádio, já sentia que as coisas não seriam nada
fáceis. “Sentíamos que os árbitros sempre favoreciam o Real Madrid, o
que não era necessário porque era o melhor time do mundo”, disse o
croata.
Desnica é capaz de fazer leitura labial, mas contou sua versão da
história ao jornal espanhol com a ajuda de um membro da associação local
de surdos, um jornalista local e de um bloco de notas. Ele explicou que
normalmente entendia o que a arbitragem marcava pelos gestos dos
companheiros e porque eles paravam quando algo era apontado. E, para se
ter uma ideia do que sua expulsão significou, Desnica disse que a
eliminição do time foi a maior desilusão da carreira dos jogadores do
HNK. E engana-se quem pensa que o croata teve uma carreira qualquer.
Nas
nove temporadas em que atuou pelo HNK, Desnica ajudou o time em sua
época de ouro. Encarando de frente os grandes iugoslavos Estrela
Vermelha, Partizan Belgrado, Hajduk Split e Dinamo Zagreb, a equipe
venceu a copa local em 1978 e 1979. E Desnica chegou a jogar pela
seleção iugoslava, anotando um gol na derrota para a Romênia por 3 a 2
em 1978. Ao todo, Desnica marcou 65 gols em 349 partidas e jogou também
pelo KV Kortrijk, da Bélgica, e pelo Pa?inka Pa?in, da Croácia, onde se
aposentou em 1993.
O que Desnica diria a uma criança com a mesma deficiência que ele?
“Que sim, tudo é possível. De verdade. Com esforço, dá para conseguir as
coisas na vida. É preciso aceitar que não se pode escutar, é preciso
rir e ser duro”.
http://www.surdosol.com.br/arbitro-sofre-ate-com-jogador-surdo-que-ja-foi-expulso-por-reclamacao/
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