Reis (1997) observou em seus estudos com pais que o que mais os
angustia com relação ao filho surdo não é a surdez, mas as dificuldades
comunicativas acarretadas por esta. Infelizmente, os pais ainda sofrem
por causa desse obstáculo existente na sua relação com o filho surdo,
conseqüência do direcionamento oral, clínico e educacional inserido na
vida da criança surda. Se os pais recebessem orientações adequadas
quanto à importância da LIBRAS para o desenvolvimento da criança, sobre
as possibilidades que essa língua oferece para a criança se comunicar
com eles de forma clara, contar-lhes sobre suas brincadeiras, aprender
seus ensinamentos e adquirir conhecimento, com certeza seriam poupados
dessa criança e de seus pais transtornos e prejuízos, e principalmente
os problemas emocionais a que estes são submetidos.
É imprescindível para essa criança e para sua família que o contato
com a língua de sinais seja estabelecido o mais rápido possível. Quando a
família aceita a surdez e a LIBRAS como uma modalidade comunicativa
importante e passa a utilizá-la com a criança, esta irá apresentar
condição para realizar novas aquisições, impulsionando seu
desenvolvimento lingüístico. A família, então, exerce papel determinante
para o estabelecimento da língua de sinais, como língua funcionante no
discurso da criança surda nos primeiros anos de vida. Quando a criança
não recebe o suporte familiar, apresentará, muitas vezes, resultados
insatisfatórios quanto ao desenvolvimento de linguagem e comunicação, o
que irá afetá-la emocionalmente. A família é o alicerce para a criança e
quando esta base não está firme advirão conseqüências para o
desenvolvimento, gerando comportamentos agressivos e frustrações.
Segundo Kyle (1999), a língua de sinais é natural para o surdo, pois é
adquirida de forma rápida e espontânea, por isso a criança surda
precisa ter acesso à língua de sinais o mais cedo possível, antes mesmo
do seu ingresso na escola. Daí a necessidade de a criança surda, filha
de pais ouvintes, bem como de sua família terem contato com adultos
surdos, usuários de língua de sinais. Cárnio et al. (2000) ressaltam que
não se pode negar que a crianças surdas filhas de pais ouvintes serão
expostas constantemente à língua oral. Dessa forma algumas dessas
crianças poderão adquirir simultaneamente a língua de sinais e a língua
de seus pais. O bilingüismo possibilita ao surdo adquirir/aprender a
língua que faz parte da comunidade surda. O trabalho bilíngüe
educacional respeita as particularidades da criança surda, estabelecendo
suas capacidades como meio para essa criança realizar seu aprendizado.
Esta proposta também oferece o acesso à língua oral e aos conhecimentos
sistematizados, priorizando que a educação deve ser construída a partir
de uma primeira língua, a de sinais, para em seguida ocorrer a aquisição
da segunda língua, o português (oral e/ou escrito).
O Projeto de Educação Bilíngüe para os Surdos busca a aceitação da
surdez sem almejar transformações culturais e de identificação do
sujeito surdo. Segundo essa proposta, o indivíduo ao adquirir uma língua
natural é capaz de se desenvolver plenamente, vivenciando, aprendendo e
se comunicando, além de se identificar com sua cultura. Assim, a
concepção bilíngüe lingüística e cultural luta para que o sujeito surdo
tenha o direito de adquirir/aprender a LIBRAS e que esta o auxilie, não
só na aquisição da segunda língua (majoritária), mas que permita sua
real integração na sociedade, pois ao adquirir uma língua estruturada o
surdo pode criar concepções e oportunidades, participando ativamente do
convívio em seu meio.
Dentro dessa proposta, Lacerda & Mantelatto (2000) afirmam que o
bilingüismo visa à exposição da criança surda à língua de sinais o mais
precocemente possível, pois esta aquisição propiciará ao surdo um
desenvolvimento rico e pleno de linguagem e, conseqüentemente, um
desenvolvimento integral. Um dos grandes benefícios do bilingüismo para o
surdo é a oportunidade de utilizar concomitantemente os recursos das
duas línguas adquiridas, mas é importante entendermos a ressalva de Góes
(1999), ao referir-se à limitação da surdez para o aprendizado da
língua oral.
Decorrente desse fato podem surgir dificuldades quanto ao seu uso, o
que porém não impossibilita a aquisição em alto nível da modalidade
escrita. Mas para que o indivíduo surdo seja aceito como bilíngüe é
preciso que ocorra primeiro a aceitação da LIBRAS pela sociedade, na
qual esta não é tida como língua, e sim como "gestos" e "mímicas",
desconhecendo-se sua estrutura lingüística, bem como seus constituintes
fonológicos, morfológicos e sintáticos.
Compartilhamos da idéia de Reis (1997) de que a linguagem será
construída nas interações estabelecidas pela criança, pois a aquisição
do sistema lingüístico surge da reorganização de seus processos mentais.
A autora também afirma que a linguagem apresenta grande importância na
formação da consciência, promovendo a ampliação da percepção de mundo,
assegurando o processo de abstração e generalização, sendo, então, o elo
de transmissão de informação e cultura entre a criança e o mundo.
Telles (1998, p. 7) afirma que "a formação do pensamento
representacional é assegurada pelo desenvolvimento processual harmônico
da função simbólica, sendo a linguagem uma das mais satisfatórias". Com
isso a autora refere que por intermédio das significações e concepções
construídas por meio de um desenvolvimento pleno do sujeito, este é
capaz de fazer parte integrante das relações que constroem e fortalecem
sua cultura e comunidade.
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