Comparando minhas audiometrias de 2002 e 2012
Há tempos que queria publicar esse post. Nas figuras abaixo estão as minhas audiometrias de 2002 e de 2012, ou seja, elas têm 10 anos de intervalo. A deficiência auditiva progressiva
não perdoa, como dá pra comprovar só de olhar os desenhos. Como sou um
zero à esquerda nessa parte técnica, pedi que a super fonoaudióloga Mirella Horiuti explicasse pra gente em bom e simples português. Sou eternamente grata à Mirella pela paciência que ela teve comigo em 2010 e 2011 (na verdade incomodo a Mi até hoje) na fase inicial de adaptação dos meus aparelhos auditivos, quando tudo o que eu queria era atirá-los pela janela ou pisar em cima até esmagar! Rsrsrsrs!
O que amo na Mi é que ela não curte choramingos, pelo contrário, se tem
um problema vamos dar um jeito de resolvê-lo custe o que custar.
Passamos do relacionamento fono-paciente e acabamos amigas de infância. É
por essas e outras que considero 1.000% importante confiar no fonoaudiólogo e ter com ele uma relação bacana, porque só a gente sabe o quanto sofre até poder encarar um par de aparelhos auditivos com amor e não com ódio.
Pausa para uma constatação dramática sobre este quadro da dor sem moldura: queria dar um tiro na audiometria de 2012.
“Hoje acordei com uma missão importante. Tentar explicar da maneira mais clara possível a progressão de uma perda auditiva. Mas, como qualquer workaholic fui verificar meus emails antes. Deparei, então, com o email do Crônicas da Surdez falando sobre a progressão de perda auditiva e todos os sentimentos envolvidos nela. Foi um “wake up call” para mim! Pensei em quantas vezes, nós, fonoaudiólogos,
falamos para nossos pacientes que a perda auditiva piorou… E talvez não
da melhor maneira possível. Vale lembrar que para considerar que uma
perda auditiva realmente piorou a audiometria deve ter sido realizada no
mesmo equipamento e de preferência com o mesmo profissional. Por que
tudo isso? Simplesmente pois há diferenças de calibrações entre os equipamentos e também entre os profissionais que fazem o exame, principalmente a parte do teste que tem fala, a famosa logoaudiometria.
Existem algumas normas que ajudam a definir se a perda auditiva realmente piorou. Descrevi algumas delas abaixo.
NR 7 – PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO DE SAÚDE OCUPACIONAL (107.000-2)
4.2.3. São considerados sugestivos de
agravamento da perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora
elevados, os casos já confirmados em exame audiométrico de referência,
conforme item 4.1.2., e nos quais a comparação de exame audiométrico
seqüencial com o de referência mostra uma evolução dentro dos moldes
definidos no item 2.1 desta norma, e preenche um dos critérios abaixo:
a) a diferença entre as médias
aritméticas dos limiares auditivos no grupo de freqüência de 500, 1.000 e
2.000 Hz, ou no grupo de freqüências de 3.000, 4.000 e 6.000 Hz iguala
ou ultrapassa 10 dB(NA);
b) a piora em uma freqüência isolada iguala ou ultrapassa 15 dB(NA).
LAUDO AUDIOLÓGICO – GUIA DE ORIENTAÇÃO DO FONOAUDIÓLOGO
Classificação da perda auditiva de acordo com o grau (Lloyd e Kaplan, 1978) que considera a média de tons puros dos limiares de via aérea entre 500, 1.000 e 2.000 Hz.
Média Tonal
|
Denominação |
? 25 dBNA | Audição normal |
26 – 40 dBNA | Perda auditiva de grau leve |
41 – 55 dBNA | Perda auditiva de grau moderado |
56 – 70 dBNA | Perda auditiva de grau moderadamente severo |
71 – 90 dBNA | Perda auditiva de grau severo |
? 91 dBNA |
Perda auditiva de grau profundo
|
Classificação do IPRF – Logoaudiometria (Jerger, Speaks e Trammell, 1968)
Resultado do IPRF | Dificuldade de compreensão da fala |
100% a 92% | Dificuldade de compreensão da fala |
88% a 80% | Ligeira/discreta dificuldade para compreender a fala |
76% a 60% | Moderada dificuldade para compreender a fala |
56% a 52% | Acentuada dificuldade para acompanhar uma conversa |
abaixo de 50% | Provavelmente incapaz de acompanhar uma conversa |
Do ponto de vista clínico, não gosto de nenhuma delas mas sim de uma combinação. Ao meu ver, considero um piora auditiva
se encontro um aumento de limiar maior que 10 dBNA e associado à uma
piora de entendimento de fala, no mesmo equipamento e de preferência com
o mesmo profissional.
Voltando à minha missão, resolvi colocar os audiogramas da minha grande e querida amiga Paula em forma de tabela para facilitar a visualização.
Analisando friamente, sim, temos uma piora na audiometria.
Para os limiares auditivos, quanto maior o valor numérico, maior o
grau de perda auditiva. Para a logoaudiometria, quanto maior o valor
numérico, melhor é a compreensão de fala em condição ideal (ou seja,
dentro da cabina acústica e numa intensidade/volume confortável). No
caso da Paula, evoluímos de um grau de perda severo para um profundo com piora importante de entendimento de fala.
Mas, para mim, o mais importante não está aí e sim descobrir se houve
piora na performance com aparelhos auditivos. Só assim poderei melhorar
as regulagens. Existem diversos testes para isso.
Com o uso do Pure Carat os limiares da minha amiga (em campo livre) sobem e se utilizarmos o mesmo critério, o grau de perda se torna leve.
Sempre que me deparo com a piora de uma audiometria,
gosto de explicar o seguinte para meu paciente: “A audiometria é como
se fosse uma foto da sua audição. É uma informação estática, que separa o
que se escuta do lado direito do esquerdo. Ela é muito importante em
termos diagnósticos e fornece muitas informações ao médico. Mas ela não
reflete o que acontece com sua comunicação no dia-a-dia, ou seja, como
seus ouvidos reagem aos sons intensos, à presença de ruído, etc…. A
audiometria não leva em consideração seu entendimento de fala com a
ajuda de outras pistas como a visual e a contextual. Você pode ter um
IPRF muito ruim e se comunicar muuuuito bem apoiado em outras pistas. É
tudo questão de identificarmos as dificuldades e trabalharmos juntos para reduzí-las ao máximo.”
A quem interessar possa, indico a Mirella Horiuti (CRFA 6485/SP) de olhos fechados. Ela foi Gerente de Produto na Siemens durante muitos anos, e hoje é proprietária de três revendas desta marca no Estado de São Paulo. Seguem os endereços:
Marília – Avenida Santo Antônio, 4050 Fone: (14) 3413-5010/3413-5312
Araçatuba – Rua Tiradentes, 818 sala 5 Fone: (18) 3623-7141
São José do Rio Preto - Rua XV de novembro, 4425 Fone: (17) 3364-3070/3364-7030
PS: não poderia deixar de citar nesse post meu também eterno agradecimento à Lu Bettega e à Michele Garcia (hoje professora do Departamento de Fonoaudiologia da UFSM) por toda paciência e apoio em 2010 e 2011. E também à Inaê Costa Rechia, que é quem regula meus AASI aqui em Santa Maria e tem uma paciência infinita comigo. Um beijo super gigante no coração de todas vocês! ???
PS.2: entenderam agora porque eu digo que quando coloco meus AASI sinto como se tivesse saído do térreo e ido parar no décimo andar?
http://cronicasdasurdez.com/comparando-minhas-audiometrias-de-2002-e-2012/
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