Com um orçamento modesto de dez milhões de dólares, o filme “CODA – No Ritmo do Coração” foi um filme “impossível de fazer”, disse a argumentista e realizadora Siân Heder, num evento organizado pela publicação Variety.
“A logística foi tão difícil”, afirmou a cineasta. “Foi um filme impossível de fazer com o tempo e os recursos que tínhamos. Sentíamos que a qualquer momento tudo se podia desmoronar”.
A história centra-se numa família de surdos em que Ruby (Emilia Jones) é o único membro que consegue ouvir. O acrónimo CODA designa, em inglês, filhos ouvintes de pais surdos (‘Child of Deaf Adults’), um tema raramente abordado por Hollywood que agora chegou aos Óscares.
“É uma história muito bonita para mostrar a nossa cultura”, considerou o ator surdo Daniel Durant, que interpreta o papel de Leo. A intensidade emocional do filme tem sido destacada pela crítica, numa temporada de prémios com várias nomeações e distinções.
“Houve uma jornada artística no filme, mas também uma consciencialização de quão ignorados e marginalizados estes atores incríveis têm sido”, afirmou Siân Heder. “Sinto que é essencial mandar esta porta abaixo”.
A cineasta disse mesmo que fazer este filme mudou a sua vida e caracterizou o processo criativo como “caloroso e saciante”, elogiando as qualidades pessoais dos atores. “Quero ser uma aliada desta comunidade e contar mais histórias de pessoas que foram marginalizadas”.
Com um orçamento tão baixo, explicou a realizadora, foi necessário filmar em condições extremas. O barco de pesca onde a família trabalha na história só aguentava dez pessoas de cada vez e não tinha casa de banho, o que obrigou a protagonista Emilia Jones a usar um balde para fazer necessidades.
“Foi tão difícil e sujo. E todos alinharam nisto”, disse Heder, referindo que a fasquia estava sempre muito elevada porque se alguma coisa corresse mal, como a rede não apanhar peixe no tempo de filmagem, não havia forma de repetir.
A falta de recursos tornou o sucesso de “CODA” surpreendente para toda a equipa, que viu o filme ser a sensação do festival de Sundance em 2021 e depois comprado pela Apple TV+ por 25 milhões de dólares. Na temporada de prémios, não só venceu Melhor Elenco nos Prémios do Sindicato dos Atores (SAG), como está nomeado para o Óscar de Melhor Filme.
“Éramos mesmo um filme muito pequenino e independente”, sublinhou Emilia Jones, recordando a emoção da vitória nos Prémios SAG. “Não tínhamos muito dinheiro, não tínhamos muito tempo, e todos os filmes com os quais estávamos nomeados tinham dinheiro e tempo. Foi incrível que nos tenham reconhecido”.
Além de Jones, o filme é protagonizado pelos atores surdos Troy Kotsur, Daniel Durant e Marlee Matlin, que foi a primeira atriz surda a ser nomeada e a vencer o Óscar de Melhor Atriz em 1987, pelo seu papel em “Filhos de um Deus Menor”.
“É uma jornada maravilhosa e deliciosa. Demorámos muito tempo a chegar a este ponto”, sublinhou Marlee Matlin, no mesmo evento. “Agora sabem que há atores surdos. Mas, ao mesmo tempo, queremos ser apenas conhecidos como atores, surdos ou não”.
Troy Kotsur, que venceu o prémio de Melhor Ator Secundário nos SAG, nos Prémios da Associação de Críticos e nos BAFTA, tornou-se o segundo ator surdo (e o primeiro homem surdo) a ser nomeado aos Óscares.
“Acredito que estas nomeações estão mesmo a fazer a diferença”, afirmou, contando que tem recebido várias propostas em Hollywood no seguimento do sucesso do filme. “Vejo Hollywood a tentar fazer algo novo. E isto é só o princípio”.
“CODA – No Ritmo do Coração”, que passou pelas salas de cinemas e se encontra disponível na Apple TV+ em Portugal, tem um argumento adaptado do filme francês “La Famille Bélier”, de 2014. Está nomeado para o Óscar de Melhor Filme, Melhor Argumento Adaptado (Siân Heder) e Melhor Ator Secundário (Troy Kotsur).
FONTE: https://observador.pt/2022/03/19/como-coda-passou-de-filme-impossivel-a-candidato-ao-oscar-de-melhor-filme/
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