‘Oi Paula!!
Gostaria de te agradecer profundamente pelo seu blog! Ele tem me ajudado incrivelmente a lidar com todo o turbilhão emocional que é ter um diagnóstico de surdez progressiva. Deixa eu me apresentar!
Meu nome é Yasmin, tenho 20 anos, estou no 4º ano do curso de medicina e, diferente de vários relatos que li no seu blog, sou uma pessoa extremamente extrovertida!
 AMO falar! Amo me comunicar! Adoro apresentar seminários, explicar 
matéria para os colegas, conversar com os pacientes, conversar com rodas
 enoormes de amigos, adoro me expressar, opinar, escrever, falar falar 
falar… Tá imaginando o tamanho do problema? E pior.. só fui descobrir o meu problema de audição esse ano!
 No começo do ano, em janeiro, eu e minhas 3 melhores amigas fomos 
passar o mês em Porto Alegre fazendo um estágio na Santa Casa. Dessas 
amigas, duas delas estavam na otorrino. Eu SEMPRE fui adepta ao “QUÊ??”, mas achava que era ou porque eu estava distraída,
 ou porque as pessoas falavam muito baixinho. Nunca sequer cogitei a 
ideia de ter algo errado comigo! Fui uma criança extremamente 
“conversadeira” e brincalhona, sempre cheia de amigos, uma verdadeira 
matraca, minha fala é perfeita (falo um pouco rápido mas é pela 
ansiedade hehehehe), sempre fui uma ótima aluna, nunca tive problemas de
 acompanhar as aulas. Enfim, num belo dia, eu e minhas amigas estávamos 
no nosso apartamento lá em Porto Alegre, quando alguma delas fez o 
comentário: ‘Nossa, adoro essa música!’ E eu perguntei: ‘Que música? Não to ouvindo nada!‘
 Minhas amigas gelaram, trocaram olhares apavoradas.. Afinal, após 1 mês
 de estágio na otorrino, vendo casos de surdez todos os dias, e me 
conhecendo e convivendo comigo há anos (sempre ouvi música, TV, e falei 
muito alto, mas sempre julguei que era intrínseco de mim, já que é IN-CRÍ-VEL a capacidade que nós temos de negação), minhas amigas ficaram preocupadas com esse meu comentário e me falaram para fazer uma audiometria.
 Passaram os meses, esqueci o assunto. Como sou uma pessoa bem agitada e
 ansiosa, faço terapia com uma psicóloga (MARAVILHOSA! melhor pessoa do 
mundo, um anjo na minha vida) há alguns anos, e eu comentei com ela que 
minha mãe as vezes brigava comigo dizendo que eu me fazia de surda quando ela me chamava
 pela casa, e contei do incidente em Porto Alegre. Foi o que bastou! 
Apesar da minha teimosia em dizer que eu era apenas distraída, minha 
psicóloga se recusou terminantemente a tratar minha “distração” sem 
antes ter uma audiometria em mãos, pois não se trata o psíquico sem se 
descartar a doença orgânica. No fundo, acho que eu sempre soube 
que tinha essa deficiência, porque ligar para a minha otorrino e pedir 
essa audiometria foram extremamente difíceis para mim, o medo me 
assolava. Quando o resultado da audiometria chegou, meus piores temores se confirmaram. Perda auditiva neurossensorial moderada bilateral em frequências graves.
 Me odiei instantaneamente por ter feito a audiometria! Fiquei em 
pânico. Me vi como um monstro, uma pessoa extremamente diferente, uma 
deficiente, um ser imperfeito. Imagina, eu sou estudante de medicina, 
convivo diariamente com pessoas que possuem as mais diversas condições, e
 foi um choque horrível para mim, imagina para quem não lida com um meio
 mais tolerante a diversidade. Audiometria feita, perda auditiva 
diagnosticada, descobri que afinal nunca tive a fala ou comunicação 
afetadas pois a fala humana é mais nos agudos e minha perda era nos 
graves, aceitei que em algumas situações teria dificuldades, combinei 
com a otorrino de fazer outra audio em outubro para checar se era 
progressiva ou não, e esqueci – na medida do possível – a perda. Mas ela não me deixou esquecê-la.
 Eu tinha uma dificuldade HORROROSA de ouvir dois professores meus que 
tem o tom de voz bem grave e falam baixinho. Dois professores 
maravilhosos de neurologia. Como eu paguei muitos micos na aula deles 
com o infame “QUÊ?!’, um dia fui pedir desculpa para um deles, porque 
para quem não entende a perda auditiva, parece que você ta distraída e 
sem prestar atenção na aula. Nisso, o professor conversou com meu pai 
(que é amigo dele) e recomendou uma visita ao Dr. Luiz Lavinsky. A partir daí minha vida mudou! O Dr. Luiz é uma das pessoas mais atenciosa que eu conheci,
 repassa passo por passo, explica tim tim por timtim, sabia que eu era 
estudante de medicina então me explicava absolutamente tudo, me mostrava
 os meus exames dando uma aula junto… maravilhoso! Descobri meu 
diagnóstico: otosclerose coclear bilateral. Ninguém da família tem. Aparentemente, a primeira sou eu. Foi
 outro choque saber que a perda era progressiva, porém confesso que 
fiquei mais angustiada de saber que posso passar essa doença para minhas
 filhas no futuro, do que comigo mesma. Não sei porque, mas 
tinha enfiado na minha cabeça que minha perda era estável, que eu ia me 
adaptar àqueles decibéis a menos e ser feliz. Peguei uma quantidade 
vergonhosa de livros de otorrino, audiologia, e muitos muitos artigos, e
 comecei a estudar sobre AASI, otosclerose, surdez. Foi aí que me deparei com seu blog! A princípio quando o Dr. Luiz sugeriu o uso de AASI, eu queria morrer, achava que eram esteticamente horrorosos. Porém, depois que conheci seu blog (e ainda descobri que você também é paciente da Clínica Lavinsky), me identifiquei demais e liguei o “I DONT CARE” modo de vida! Afinal, um monte de gente é deficiente visual e é dependente de óculos para enxergar, e mesmo assim enxerga mal.. Porque o óculos é tão bem aceito e os AASI não?!
 Hoje faz 1 semana que comecei o teste domiciliar para AASI. Fiz uma 
seleção de prótese e estou usando o PURE, da Siemens. AMEI… Fiquei emocionada com o tanto de barulhos que eu tinha perdido…
 O folhear dos livros! O microondas e a geladeira não são 
eletrodomésticos silenciosos!!!!! Claro, que eu chego da aula exausta 
(cerebralmente), o silêncio é um tanto quanto reconfortante, as vezes é 
bom me recolher no meu silêncio e na minha cabeça, é incrível como a 
rua, as salas, as conversas são altas. Mas estou dando 100% de mim no processo de adaptação. Estou consciente que, dentro de alguns anos, precisarei do implante coclear, e você tem sido minha maior inspiração. MUITO OBRIGADA PAULA! Você não tem ideia do quanto você está me ajudando a aceitar, superar e lidar com os meus amendoins-gêmeos! Que Deus continue te iluminando e ajudando a desmitificar todos os tabus e preconceitos que permeiam a surdez. Espero um dia poder cruzar com você na sala de espera do Dr. Lavinsky!
Beijos, Yasmin’
Será que preciso comentar que me lavei chorando?? Quando alguém me diz que não faço idéia do quanto estou ajudando a aceitar, superar e lidar com a surdez, só consigo pensar em dizer ‘e você não sabe o quanto ler isso me emociona’!
 Sinto um alívio enorme por saber que todas as tristezas, medos, choros e
 desatinos sofridos quase sempre em silêncio por causa da deficiência auditiva não foram em vão. Afinal,
 eu NÃO tinha com quem conversar, nenhum amigo com o mesmo problema, e 
na minha época isso não era falado abertamente e sem frescura como hoje.
 Poder dar a ajuda que sempre quis ter e nunca encontrei quando precisei
 me conforta muito e me faz até esquecer todo o sofrimento solitário. Obrigada a cada um de vocês por me ajudarem a transformar esse blog numa grande família. <3 p="">
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