RYBENINHA

RYBENINHA
SINAL: BEM -VINDOS

DÊ-ME TUA MÃO QUE TE DIREI QUEM ÉS



“Em minha silenciosa escuridão,
Mais claro que o ofuscante sol,
Está tudo que desejarias ocultar de mim.
Mais que palavras,
Tuas mãos me contam tudo que recusavas dizer.
Frementes de ansiedade ou trêmulas de fúria,
Verdadeira amizade ou mentira,
Tudo se revela ao toque de uma mão:
Quem é estranho,
Quem é amigo...
Tudo vejo em minha silenciosa escuridão.
Dê-me tua mão que te direi quem és."


Natacha (vide documentário Borboletas de Zagorski)


SINAL DE "Libras"

SINAL DE "Libras"
"VOCÊ PRECISA SER PARTICIPANTE DESTE MUNDO ONDE MÃOS FALAM E OLHOS ESCUTAM, ONDE O CORPO DÁ A NOTA E O RÍTMO. É UM MUNDO ESPECIAL PARA PESSOAS ESPECIAIS..."

LIBRAS

LIBRAS

LIBRAS

LIBRAS
"Se o lugar não está pronto para receber todas as pessoas, então o lugar é deficiente" - Thaís Frota

LIBRAS

LIBRAS
Aprender Libras é respirar a vida por outros ângulos, na voz do silêncio, no turbilhão das águas, no brilho do olhar. Aprender Libras é aprender a falar de longe ou tão de perto que apenas o toque resolve todas as aflições do viver, diante de todos os desafios audíveis. Nem tão poético, nem tão fulgaz.... apenas um Ser livre de preconceitos e voluntário da harmonia do bem viver.” Luiz Albérico B. Falcão

QUANDO EU ACEITO A LÍNGUA DE SINAIS

QUANDO EU ACEITO A LÍNGUA DE SINAIS
“ A língua de sinais anula a deficiência e permite que os sujeitos surdos constituam, então, uma comunidade linguística minoritária diferente e não um desvio da normalidade”. Skliar

terça-feira, 14 de maio de 2013

Bi-implantada, filha e mãe de deficientes auditivas – e um exemplo de vida!

cris

“Olá, meu nome é Cristina Mayorquin Romeiro, tenho 53 anos e sou surda.
Sou implantada bilateral, sendo que o primeiro eu coloquei em 2007 com a equipe do Hospital São Paulo, pelo SUS. Este foi colocado no meu pior ouvido, o direito. A idéia era que eu continuasse com uso do aparelho auditivo no esquerdo, mas depois da adaptação com o IC, não consegui mais. Fiz a segunda implantação pela Unimed em 2012, em Londrina. Ainda não estou perfeitamente adaptada com este, que é muito mais moderno que o anterior. Este mês de maio/13 irei à São Paulo para substituição da parte externa do antigo, para que os dois “falem a mesma língua”. O SUS está substituindo todos os antigos. Espero que com isso eu me adapte mais rapidamente ao segundo IC.
A minha família do lado materno têm vários surdos, principalmente mulheres. Minha mãe mora comigo e sempre foi surda (bem menos do que eu) e minha única filha tem 17 anos e usa aparelho bilateral desde os 13 anos.  Cresci com o péssimo exemplo da minha mãe que “fingia” que escutava e todo mundo falava com ovo na boca. Ela só colocou aparelho unilateral na terceira idade, e até hoje tem hora que ainda finge que escutou. Eu morria de vergonha dos foras que às vezes ela dava por não estar escutando perfeitamente o que se falava. Aqui se faz aqui se paga!
Sou nascida em São José do Rio Preto/SP e vivi lá até os 17 anos.  Não me percebia deficiente auditiva, só depois que fui diagnosticada, eu e uma prima que cresceu e estudou sempre comigo, descobrimos porque na infância e adolescência ela brigava tanto comigo. Dizia que eu não prestava atenção ao que ela falava e para tudo eu respondia: Aham? Ela fazia greve de não repetir mais nada para mim. Hoje nós rimos muito disso. Bem, com 17 anos passei no vestibular para nutrição, numa escola federal, no Rio de Janeiro e lá fui eu. Morávamos em três na república e foi aí que comecei a perceber que era surda.
Na minha casa em Rio Preto era tudo amplificado por causa da minha mãe: telefone, campanhia e as conversas. Todos falavam (falam) muito alto. Tenho dois irmãos sem nenhuma deficiência. Pegava carona na surdez da minha mãe, já que todos falavam alto com ela e não percebi a minha. Mas , quando o telefone do vizinho tocando sem parar, incomodava minhas amigas e eu sequer ouvia, deduzi: tcham, eu também sou surda. Isso era 1980, fui ao médico, mas como a perda não dificultava minha vida e a medicina auditiva era incipiente nesta época, nada de aparelhos, nada de estimulação, só quando piorar,
e isso se deu em 1996, quando coloquei meu primeiro aparelho intrauricular unilateral, já morando em São Paulo.
Também nesta oportunidade meu otorrino em São Paulo, Dr. Luck , começou a pesquisar se havia algo que pudesse ser feito para estabilizar a perda. Tudo inútil. Minha fono da vida inteira ( de aparelho) sempre foi a Cecília Martineli, que adoro. Bom antes deixe me contar o que fiz de 1982 quando me formei até 1996. Formei-me em Nutrição e mudei para São Paulo, para trabalhar em Refeição Coletiva, numa multinacional francesa, onde fiquei por abençoados 20 anos. Comecei como nutricionista responsável operacional de restaurantes coletivos, onde fiquei pouco tempo e já fui transferida para a área comercial, onde fiz quase toda minha carreira. O cliente, meu interlocutor era o gerente ou o diretor de recursos humanos das grandes empresas da Grande São Paulo. Em nenhum momento tive dificuldades no trabalho. Acho que foi nesta época que comecei a ler lábios inconscientemente. Fui chefe, gerente, trabalhei pelo Brasil todo nesta função, com muito sucesso. Em 96 não deu mais. Pedi socorro e foi quando coloquei meu primeiro aparelho.
Algumas mudanças na GR e em 1999 lá fui eu morar em Salvador, no cargo de Gerente Operacional. Divorciada, sozinha com minha filha  e perdendo a audição rapidamente. Fiquei lá um ano e fui transferida para Vila Velha/ ES. Lá eu fiquei até 2004. Neste tempo troquei de aparelho umas tres vezes, sempre por um mais potente e sempre somente no ouvido esquerdo (o “menos ruim”). Em 2004, me candidatei para ser representante da Silimed, fabricante brasileira de implante se silicone. Precisava aumentar meus rendimentos. Passei no processo seletivo e foi me designada a Unidade de Vendas de Londrina e Norte do Paraná que até então era atendida por Curitiba e estava sendo desmembrada. Não conhecia Londrina, nem ninguém, mas em Dezembro de 2004 virei empresária, numa área que totalmente desconhecida para mim e para implantar um negócio.
Mas, tudo deu certo e aqui estou eu. Escutei até quando eu já conhecia todos os clientes ao vivo e pelo telefone (cirurgiões plásticos, e outros). Em 2006 não falava mais ao telefone. Atualmente falo com meu namorado e minha filha e arrisco alguns outros,mas, o meu ouvido do  telefone no trabalho, banco, TV  à cabo, etc , é a Cíntia , um anjo que Deus colocou em meu caminho e está comigo há 6 anos. Em 2007 fui implantada. Benção divina!!
Em 2011 realizei um grande sonho: ficar dias em Paris, sozinha  e assistir o famoso torneio de tênis de Roland Garros. Resolvi tudo sozinha pela internet: passagem, hotel, ticket para ver um balé na Ópera , ingressos para o torneio, etc. Fiquei 16 dias apenas flanando por Paris. Detalhe: não falo uma palavra de inglês nem de francês, mas me virei muito bem!
Sempre quis ter uma relação com a surdez diferente da minha mãe, por isso aceitei desde o começo. Passei muito apertada em algumas ocasiões, como reuniões, viagens, aeroportos, me estressava e cansava muito por estar sempre alerta (até hoje é assim). Com isso, minha filha também aceitou na boa, não esconde de ninguém e faz valer seus direitos na escola: escolhe onde sentar,  pede para abaixar ou aumentar o microfone do professor, namora, mas assim como eu detesta ambiente barulhentos e/ou com música. Também somos duas leitoras compulsivas!
Hoje posso dizer que apesar dos problemas que acompanham a surdez, como preconceito, discriminação, etc. eu venci! E ainda tenho o privilégio de tirar meus  ICs e ficar no silêncio absoluto , que às vezes é uma benção.
Paula, o que me inspirou a escrever este depoimento foi seu livro. Parabéns por ele, pelo blog. Temos tão poucas vozes falando por nós. Você é linda, inspiradora e inteligente !
Bjo no coração,
Cristina”

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