Por Lydia Denworth
Quando descobri que meu filho não podia ouvir, percebi que na verdade era eu que não estava, de fato, escutando.
Antes que meu filho mais novo, Alex, fizesse dois anos, nós descobrimos que ele tinha uma perda auditiva significativa que tendia a piorar.
Algumas semanas mais tarde, me vi no ginásio da escola que meus outros
dois filhos frequentavam. Estive nesse ginásio dezenas de vezes para
vários eventos – aplaudindo e torcendo, conversando com outros pais e
então seguindo em frente com o resto do meu dia. Nesta manhã, minha
rotina foi abalada. O barulho das crianças ecoou das arquibancadas.
Quando as crianças quietas pegavam o microfone era difícil ouvi-las.Tudo isso era normal, mas eu nunca tinha notado antes. Agora, eu estava
ouvindo o mundo de um jeito diferente, imaginando-o através dos ouvidos
– e dos aparelhos auditivos – do Alex, que um dia poderia ser um
estudante aqui. Ter um filho surdo, eu percebi, iria me ensinar a ouvir.
Uma vez que comecei a ouvir, comecei a
aprender. A pesquisa veio naturalmente – sou jornalista – e se tornou o
meu mecanismo de enfrentamento. Através de livros, conferências e
conversas com todos os especialistas possíveis, comecei a entender o
poder do som – como a fala dos pais, dos cuidadores e dos professores
molda a linguagem falada de uma criança; e então, como a linguagem
falada de uma criança a ajuda a aprender a ler. Eu também vi e ouvi mais
claramente os efeitos nocivos do alter ego do som, o barulho – a
indesejada cacofonia do nosso mundo industrial, ou efeito amplificado de
várias pessoas falando ao mesmo tempo, ou a música muito alta e
invasiva.
O que mais me impressionou foi o que o som não importa muito para as crianças ouvintes, como meus dois filhos mais velhos.
A partir do minuto em que nasce, cada experiência que uma criança tem
está sendo gravada pelo seu cérebro. O som, ou a ausência dele, é parte
desta experiência. Os neurônios fazem conexões uns com os outros, ou
não; o sistema auditivo se desenvolve, ou não, baseado nessa
experiência. O som é essencial para qualquer um que esteja aprendendo a
falar e ouvir – e isso inclui todas as crianças ouvintes bem como as
totalmente surdas e as que usam aparelhos auditivos e implantes
cocleares, que enviam sinais sonoros diretamente para o nervo auditivo.
Antes que descobríssemos que o Alex não
podia ouvir, ele estava usando todos os sinais visuais disponívels –
sorrisos e caretas, mãos balançando, dedos apontando – para que seu
mundo fizesse sentido. Por um tempo, ele compensou bem o suficiente para
nos deixar achar que ele ouvia, mas não conseguiu mais uma vez que seus
colegas começaram a falar.
Tanto a quantidade quanto a
qualidade das palavras que as crianças ouvem em seus primeiros anos de
vida afetam o desenvolvimento da sua linguagem. Com o passar do
tempo, como as crianças vão tendo mais experiências auditivas, o
processamento auditivo nos seus cérebros acelera e se torna mais
eficiente. A repetição, o ritmo, a poesia, a música e até o Dr.Seuss
ajudam as crianças a aprender a língua ao fazê-las ouvir por padrões.
Essa prática de escuta em seguida forja as redes neurais necessárias
para a leitura porque a capacidade de fazer com o que se ouve faça
sentido e quebrar a fala em sílabas e fonemas é a base da leitura. Como
uma criança reage ao som – o quão eficientemente seu cérebro processa o
som – no primeiro dia do jardim de infância está relacionada com quantas
palavras por minuto uma criança será capaz de ler na quarta série. Isso
mostra que os problemas com o processamento do som são aquele velho
aparelho ajudou 20 crianças, e não apenas uma. O mesmo valeu para os
carpetes e cortinas e para a idéia de cobrir as pernas de metal das
cadeiras. De acordo com a Acoustical Society of America, os níveis de
ruído em muitas salas de aula são tão altos que aqueles com audição
normal conseguem ouvir apenas 75% das palavras lidas de uma lista.
Outra coisa aconteceu. As necessidades do Alex sutilmente mudaram algumas dinâmicas do grupo, encorajando um novo nível de atenção.
Ouvintes não precisam olhar quando alguém está falando para entender o
que dizem, mas surdos precisam. Embora o AASI e o IC do Alex permitissem
que ele ouvisse sem olhar, ele se beneficia de pistas visuais, e na
sala dele foi dada uma lição de língua de sinais americana a respeito da
necessidade de contato visual. A coisa mais bonita a respeito
de olhar para alguém enquanto a pessoa fala é que, em vez de parecer que
está prestando atenção, você provavelmente está prestando atenção.
Prestar atenção importa num nível mais
profundo. A capacidade de prestar atenção nas crianças se desenvolve com
o tempo, assim como a linguagem. E como a linguagem, a atenção seletiva
– do tipo que as crianças precisam em sala de aula – é afetada pela
experiência. Com a prática você se torna melhor. Neurocientistas
provaram que quando as crianças prestam atenção elas aprendem. Focando
em algo específico – uma voz por vez ou seu livro em vez de seu amigo –
resulta em maior resposta do cérebro, medida pela atividade elétrica
mesmo em crianças tão pequenas quanto as de três anos. Essa resposta
maior ajuda a construir redes entre os neurônios e treina o cérebro para
aprender.
O Alex está agora na sexta série na
mesma escola. Eu não posso mudar a acústica da cafeteria, mas na sala de
aula, todo início de ano tratamos de relembrar os professores dele para
que parem e escutem. Nós os encorajamos a amplificar o som, por
exemplo, lembrando-os de olhar para os alunos em vez de olhar para o
quadro, e para diminuir o ruído mantendo as portas sempre fechadas.
Em casa, os meninos costumam fazer o
dever de casa na mesa da cozinha enquanto eu faço o jantar e
ocasionalmente entrei em cena para oferecer sugestões ou fazer perguntas
– muitas vezes sem deixar o que estava fervendo no fogão. Não faço mais
isso. Desligo o rádio e calo meus filhos mais velhos e então me sento
próxima ao Alex (ou qualquer um dos meus filhos que precise de ajuda) e dou a ele minha atenção total. Ele aprende melhor e eu aprendo mais sobre ele. Gostaria de nunca ter feito isso de modo diferente do que tenho feito.
http://cronicasdasurdez.com/criar-uma-crianca-surda-faz-o-mundo-soar-diferente/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+CronicasSurdez+%28Cr%C3%B4nicas+da+Surdez%29
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTE AQUI NO BLOG!!!
SEU COMENTÁRIO FAZ TODA DIFERENÇA!!!
Um comentário é o que você pensa, sua opinião, alguma coisa que você quer falar comigo.
BJOS SINALIZADOS.