CELSO BADIN – Quais os tipos de atuação do intérprete? Gostaria que você discorresse sobre cada um deles trazendo os pontos principais desses momentos da profissão, dando dicas de como o intérprete deve proceder durante a atuação nesses âmbitos.
JOEL BARBOSA JÚNIOR – O tradutor e intérprete de Libras/Língua Portuguesa está inserido em diferentes âmbitos sociais, sendo assim sua atuação é bastante diversificada, estando onde se encontrar um surdo precisando se comunicar ou ser comunicado. Âmbitos de atuação possíveis:
Jurídica, Religiosa, de Conferência, do Trabalho, Educacional e assim por diante.
Embora exista a possibilidade de atuar apenas em uma única área, a maior parte dos TILS não opta por essa forma de trabalho, e assume trabalhos em outras áreas, se tratando de um profissional polivalente. Isso ocorre, em parte, pela falta de profissionais num mercado crescente como este.
Em seu espaço de atuação ele deve cumprir as funções de: traduzir e interpretar, e guia-interpretar, adaptando essas funções de acordo com a necessidade do cliente.
A formação acadêmica deste profissional está descrita no Decreto 5.626/05, no texto consta que deve ser na área que forma tradutores e intérpretes de outras línguas, neste caso Letras Libras/Língua Portuguesa, ou ter a formação em uma pós-graduação na mesma área. A partir de sua preferência em atuar nesta ou naquela área esse profissional pode se especializar.CELSO BADIN – Fale a seguir, superficialmente, sobre algumas áreas de atuação, funções e formação, deste profissional recém-reconhecido legalmente.
JOEL BARBOSA JÚNIOR – Exporei algumas das mais comuns, veja:
- Intérprete Educacional:
Enquanto intérprete educacional, assim como qualquer tradutor e intérprete, o profissional tem a função de transmitir os conteúdos completos, da língua fonte para a língua alvo.
Podendo ser da Libras para a língua portuguesa e vice-versa, tanto na modalidade oral (falada – na Libras ou no português) quanto na escrita.
Utiliza-se também, em determinados momentos, de técnicas, estratégias e métodos, da pedagogia, promovendo condições ideais para que o seu cliente, surdo/surdocego, alcance o objetivo assimilando o conteúdo.
O TILS educacional não é, em momento algum, alguém que pretende competir ou retirar o aluno surdo do professor. São dois profissionais que se unem para que o aluno surdo tenha acesso ao conhecimento. Por esse motivo que os TILSs se referem ao surdo como seu cliente, e os professores se refere ao surdo como seu aluno.
O momento adequado para que o surdo seja atendido por um TILS é a partir do ensino médio, pois neste estágio o surdo já está com sua identidade estruturada, domina a Libras e tem autonomia não dependendo de vínculos para aprender, tendo maturidade para perceber que esse novo profissional, em sala, tem o papel de um tradutor e intérprete e não o papel de um professor.
Sendo assim ao TILS educacional é apresentada uma linha tênue entre o seu papel e o do professor, estando assim próximo a um espaço fronteiriço que separa estes dois profissionais. Deve, então, manter-se atento para não passar a cumprir obrigações do professor, assim invadindo aquele espaço, deixando de cumprir com as suas próprias atribuições, objetivo de sua contratação.
O TILS, por diversas vezes é convidado a cumprir outros papéis, porém ele não tem o papel de tutor, orientador, bedel (inspetor de alunos), assistente de sala, monitor, professor auxiliar, ou outro, mas sim o de tradutor e intérprete de Libras/Língua Portuguesa. Atentando para esses ponto o TILS não será sobrecarregado com responsabilidades que não dizem respeito à sua profissão, e se dedicará mais às que sim, fazem parte de suas funções e competências.
Quanto à formação, essa deve ser em Letras LIBRAS, tendo a opção de uma especialização, por exemplo, em educação, gêneros educacionais e pedagogia.
- Intérprete de Conferência:
Atuando como intérprete de conferências o TILS deve ter a consciência de que o ideal é dominar, pelo menos os conceitos básicos, de diversas áreas. Esse fato é justificado, pois os eventos podem versar sobre diversos temas, como da agricultura, da educação, da medicina, dentre outros, além do sub-tema que irá tornar o evento mais específico.
Sempre que for contratado para esse trabalho, o profissional deve fazer pesquisas a partir da temática do evento, dos temas das palestras e, principalmente, ter acesso ao resumo dos palestrantes, para estudar. Este estudo proporciona uma interpretação de melhor qualidade e mais adequada à língua alvo. Infelizmente a maior parte dos organizadores de eventos ignoram essa necessidade.
Em todos os âmbitos de trabalho o TILS deve ser acompanhado por um TILS de apoio, porém esse apoio é ainda mais indispensável em situações como esta, a de interpretação em eventos.
O apoio tem a responsabilidade de perceber alguma informação, principal, que foi perdida, e ao olhar do TILS atuante, entender o que ocorreu, ou seja, se por algum motivo, o TILS atuante perder alguma informação, o TILS em apoio irá auxiliá-lo passando a informação perdida ou ajustando a informação equivocada. Para tanto o TILS em apoio deve estar atento, focando seu olhar o tempo inteiro no TILS em atuação. Após 20 ou 30 minutos eles revezam entre si. Em eventos de até duas horas são contratados dois profissionais, em eventos de até cinco horas são necessários três intérpretes e em eventos acima de cinco horas devem ser contratados cinco intérpretes.
O revezamento é necessário, pois após certo tempo o desempenho do TILS sofre uma queda considerável, e pode começar a não acompanhar corretamente o que está sendo dito, ele pode talvez passar a filtrar apenas algumas partes da mensagem. Isso prejudica a seus clientes (surdos/surdocego ou ouvintes). O revezamento deve ocorrer de 20 em 20 minutos ou de 30 em 30 minutos, devendo ficar o intérprete X como atuante, o Y como apoio e o Z recompondo as energias. Durante seu momento de intervalo, porém fica assistindo ao evento, para quando for sua vez de revezar, estar a par do encaminhamento dado por exemplo com relação ao espaço referencial e a linha das apresentações dos convidados. Quando ocorre o revezamento seguinte, fica o Y como atuante o Z como apoio e o X se reestruturando fisicamente.
Esse profissional faz a formação básica em Letras LIBRAS, podendo ingressar em uma complementar o mais ampla possível, que ensine princípios e conceitos de diversas áreas do conhecimento.
- Intérprete Social/Público:Quando atua como intérprete público, interpreta, normalmente, de maneira particular, atendendo ao individuo, e não a um coletivo. Sendo assim interpreta seu cliente em enlaces matrimoniais, separações, velório, ou em instituições financeiras, órgãos públicos, lojas comerciais, na compra de ingresso para um teatro, compra de passagem em rodoviária, aeroportos, em farmácia, reuniões de família, festas de família, no processo de solicitação de isenção nos transportes públicos, ou seja, resolução de situações do dia-a-dia que dizem respeito ao indivíduo.
Este profissional precisa ter uma rede, de relacionamentos (network), bem estruturado e disponibilidade de tempo, quase que o período integral, pois o seu cliente (surdo/surdocego ou ouvinte) poderá solicitar seus serviços em qualquer momento, porém mais freqüentemente no horário comercial. O ideal é manter uma agenda on-line, para que os clientes possam verificar a disponibilidade e ali mesmo requisitar o serviço.
O problema encontrado é que a remuneração nem sempre é a esperada, pois o cliente, não dispõe de um orçamento como o de uma grande empresa, logo pode pagar um valor mínimo pelos préstimos do TILS. O ideal seria uma parceria com empresas, para patrocinar esse serviço, que deveria ser ofertado por uma Central 24h de TILS, do poder público. Como não temos ainda esse serviço público a opção é solicitar os serviços de um intérprete social.
- Intérprete Jurídico:
O TILS que estiver atuando na área da justiça transmite as informações antes, durante e após a audiência. Antes da audiência ele faz a intermediação, os combinados, entre o cliente surdo e seu advogado/defensor, durante a audiência ele interpreta o que é falado pelas partes e pelo juiz, ao término da audiência o TILS, muitas vezes, é requisitado a uma nova interpretação sobre as resoluções. O TILS é contratado pelo fórum, como perito, e recebe uma intimação para comparecer a audiência sempre que for audiência daquele tal processo, ou seja, ele fica vinculado. E assina os autos do processo como responsável pelo que interpretou, ou seja, por ele passa a soltura ou prisão, por exemplo, de um réu surdo.
Quanto aos honorários, estes são pagos normalmente por audiência, porém existem casos que o profissional recebe por seus serviços ao término do processo, e às vezes o processo chega a uma conclusão em até seis anos. Existem contratações pelas partes (advogados ou clientes), porém o ideal é o contrato pelo tribunal, e por meio de uma instituição, que possa comprovar que o profissional tem um cadastro.
Comumente o profissional que opte por essa área, encontrará surdos que nunca estudaram, oriundos de outros estados e do interior, onde não existem escolas para surdos, e onde os pais e familiares não têm acesso a conhecimentos sobre a surdez, e mantém o surdo sem estudo e sem uma língua de comunicação efetiva, comunicando-se com ele por gestos caseiros.
O juiz deve ser informado desse fato, e a ele deve ser explicado que aquele cliente não usa a Libras, e que o profissional irá tentar formas alternativas de comunicação, juntamente com outro intérprete. Sendo assim, é fator preventivo estar sempre junto com um intérprete surdo, que facilmente se comunicará, e passará as informações obtidas para o intérprete ouvinte, que as transmitirá para o juiz. No caso de crianças surdas o ideal também é estar acompanhado por um intérprete surdo. Ambos os profissionais são remunerados.
Um alerta é que o TILS não deve fazer a interpretação-voz (da Libras para o português), utilizando a primeira pessoa, ou seja, por exemplo o surdo confessa que cometeu um crime, a interpretação-voz ficará assim 'ele está confessando que cometeu o crime' e não 'eu confesso que cometi o crime'. Com isso evita-se que o escrevente coloque nos autos uma declaração feita pelo intérprete, assumindo seu crime. Isso parece impossível de acontecer, mas com a falta de conhecimento do papel do intérprete durante o processo é possível que haja algum engano, e o profissional seja arrolado de maneira equivocada, e é sempre melhor evitar.
O profissional que preferir atuar nessa área deverá ter a formação básica, que consta no Decreto 5.626/05 e uma outra formação que aprofunde o seu conhecimento em procedimentos e conteúdos jurídico.
- Intérprete na Religião:
Na religião o TILS pode ser, ou não, um participante ativo em determinada religião, acreditando ou não em seus dogmas. Obviamente o TILS tem o direito de recusar interpretações em outras religiões, se for o caso, por motivos pessoais. O ideal é que o TILS vá a qualquer local que for requisitado, procurando manter-se imparcial quando não acreditar em alguma religião ou seita, pois o objetivo é o acesso do seu cliente surdo aos conhecimentos daquela religião. O cliente tem a opção por ser da igreja católica, batista, umbandista, mórmon, da seisho-no-ie e talvez ter nascido judeu e ser praticante dos costumes e crenças.
Durante a interpretação o TILS não pode demonstrar sua opinião, nem 'encaminhar' o cliente a desacreditar no que está sendo ensinado. Ele deve sim, transmitir exatamente o que está sendo dito com a entonação, a intensidade e a estratégia que está sendo utilizada.
A contratação é feita na maior parte das vezes pelo próprio surdo, ou por familiares, mas o ideal é que a diretoria da igreja faça esse contato para combinar o pagamento. A formação pode ser uma formação mais voltada para as religiões, dogmas e crenças, procurando sempre se atualizar, e deve, preferencialmente, ter também a formação em Letras Libras.
- Intérprete na Saúde:
Nessa área a interpretação ganha proporções de vida e morte, é um trabalho que deve ser feito por um intérprete com experiência com diversos tipos de surdos, os que sabem apenas Libras, os que utilizam-se do bimodalismo (usam a Libras na estrutura do português ou o português na estrutura da Libras), os que são oralizados (falam português e fazem leitura labial), mas principalmente os surdos ainda criança e os que se utilizam apenas de gestos caseiros para se comunicar. Devo ressaltar que essa experiência deve ser primária para qualquer área em que o intérprete venha a atuar.
Nos dois últimos casos, deve ser contratado um intérprete surdo, que terá maior possibilidade de uma interpretação real do que está sendo dito por essa criança surda, ou pelo adulto com uma forma de comunicação diferenciada. Logo o intérprete surdo interpreta para o intérprete ouvinte, que por sua vez interpreta para o médico, por exemplo.
O intérprete deve ter a formação do Decreto (5.626/05) e uma especialização podendo ser na área da saúde, da biologia e também de procedimentos médicos. O próprio hospital deve arcar com os honorários do intérprete, e a contratação deve ser por meio de uma instituição, para comprovar o cadastramento do profissional, ou um contrato como funcionário do próprio hospital, que convocará uma banca de especialistas em surdez e interpretação em Libras para a seleção de um intérprete surdo e um ouvinte.
- Intérprete:
Nesse momento o profissional está atuando com duas línguas na modalidade falada, ou seja, a língua portuguesa oral para a Libras oral (a Libras como uma língua usa o termo ‘fala’ para se referir ao momento em que se expresse algo por meio dela, logo falar em Libras é totalmente correto utilizar), e vice-versa.
Essa forma é mais comum de vermos no trabalho desses profissionais.
- Guia-intérprete:Uma das funções, previstas na Lei 12.319/10, é justamente a de guia-intérprete, para atender ao sujeito surdocego. A instituição que ministra o curso de formação em guia-interpretação, em São Paulo, é a Ahimsa (sitio:
CELSO BADIN – E o que vem a ser a sigla CODA?
JOEL BARBOSA JÚNIOR – Essa sigla quer dizer Crianças Ouvintes Filhas de Pais Surdos.- CODA:
Esse profissional tem a Língua de Sinais como sua primeira língua, pois convive com pais surdos.
Existem CODAs que não convivem com os pais, e têm sua primeira língua o português.
Mas no primeiro caso, se ele se tornar um profissional, terá mais habilidade com relação a uma percepção cultural, e de questões da comunidade surda, e poderá utilizar esse fato estrategicamente, para transmitir o conteúdo da língua alvo para a língua fonte. Sendo assim são excelentes TILS.
Em 2012 haverá a Conferência Internacional de CODAs (http://coda-international.org/blog/), em Miami, Flórida.
Estes eventos são importantes para criar uma rede de contatos e proximidade com relação à identidade, bi-cultural, com outras pessoas que também são filhas de pais surdos.http://www.ahimsa.org.br).
O guia-intérprete faz a tradução e a interpretação, e também guia seu cliente, que não é apenas surdo. Sendo assim como guia deve estar junto no período integral, desde a saída da casa do surdocego até o seu retorno.
Ou seja, na hora do almoço, ida ao banheiro, lanche etc.
Muitas vezes nos deparamos com surdocegos com uma forma de comunicação diferenciada e específica daquele sujeito. As formas mais comuns são a Libras-Tátil, Alfabeto Manual Tátil e o sistema Braille Tátil, porém existem diversas outras formas, como por exemplo, o Tadoma (leitura labial pelo tato).
Sendo assim o profissional deve sim fazer um curso para obter esses conhecimentos específicos, além da formação em Letras Libras.
Existem intérpretes surdos que optam pela guia-interpretação, enquanto o intérprete ouvinte faz a interpretação o intérprete surdo observa e retransmite para o surdocego.
CELSO BADIN – Agora, por favor, fale sobre o que é função de um tradutor, de um intérprete e de um guia-intérprete.
JOEL BARBOSA JÚNIOR – Ser tradutor, para os profissionais de línguas orais, é, muitas vezes, uma profissão totalmente diferente de ser intérprete. No caso do TILS esses dois momentos estão sempre juntos.
- Tradutor:Enquanto está trabalhando como tradutor, o profissional, lida com ao menos uma das línguas na modalidade escrita, ou seja, da Libras para o português escrito, do português escrito para a Libras, da escrita de sinais para o português escrito ou falado. Exemplos de atuação como tradutor são vistos em avaliações, quando lhe é requisitado ler o que o surdo respondeu e interpretar oralmente para que o avaliador entenda essa escrita típica de muitos surdos.
E ainda interpretar o enunciado das questões da prova, interpretar ou escrever uma carta, email ou trabalho de conclusão de curso, e assim por diante, no dia-a-dia sempre existe essa demanda.
Logo o intérprete deve possuir um conhecimento aprofundado da língua portuguesa, por exemplo, de redação, sabendo também quais são os gêneros textuais.
JOEL BARBOSA JÚNIOR – O tradutor e intérprete de Libras/Língua Portuguesa está inserido em diferentes âmbitos sociais, sendo assim sua atuação é bastante diversificada, estando onde se encontrar um surdo precisando se comunicar ou ser comunicado. Âmbitos de atuação possíveis:
Jurídica, Religiosa, de Conferência, do Trabalho, Educacional e assim por diante.
Embora exista a possibilidade de atuar apenas em uma única área, a maior parte dos TILS não opta por essa forma de trabalho, e assume trabalhos em outras áreas, se tratando de um profissional polivalente. Isso ocorre, em parte, pela falta de profissionais num mercado crescente como este.
Em seu espaço de atuação ele deve cumprir as funções de: traduzir e interpretar, e guia-interpretar, adaptando essas funções de acordo com a necessidade do cliente.
A formação acadêmica deste profissional está descrita no Decreto 5.626/05, no texto consta que deve ser na área que forma tradutores e intérpretes de outras línguas, neste caso Letras Libras/Língua Portuguesa, ou ter a formação em uma pós-graduação na mesma área. A partir de sua preferência em atuar nesta ou naquela área esse profissional pode se especializar.CELSO BADIN – Fale a seguir, superficialmente, sobre algumas áreas de atuação, funções e formação, deste profissional recém-reconhecido legalmente.
JOEL BARBOSA JÚNIOR – Exporei algumas das mais comuns, veja:
- Intérprete Educacional:
Enquanto intérprete educacional, assim como qualquer tradutor e intérprete, o profissional tem a função de transmitir os conteúdos completos, da língua fonte para a língua alvo.
Podendo ser da Libras para a língua portuguesa e vice-versa, tanto na modalidade oral (falada – na Libras ou no português) quanto na escrita.
Utiliza-se também, em determinados momentos, de técnicas, estratégias e métodos, da pedagogia, promovendo condições ideais para que o seu cliente, surdo/surdocego, alcance o objetivo assimilando o conteúdo.
O TILS educacional não é, em momento algum, alguém que pretende competir ou retirar o aluno surdo do professor. São dois profissionais que se unem para que o aluno surdo tenha acesso ao conhecimento. Por esse motivo que os TILSs se referem ao surdo como seu cliente, e os professores se refere ao surdo como seu aluno.
O momento adequado para que o surdo seja atendido por um TILS é a partir do ensino médio, pois neste estágio o surdo já está com sua identidade estruturada, domina a Libras e tem autonomia não dependendo de vínculos para aprender, tendo maturidade para perceber que esse novo profissional, em sala, tem o papel de um tradutor e intérprete e não o papel de um professor.
Sendo assim ao TILS educacional é apresentada uma linha tênue entre o seu papel e o do professor, estando assim próximo a um espaço fronteiriço que separa estes dois profissionais. Deve, então, manter-se atento para não passar a cumprir obrigações do professor, assim invadindo aquele espaço, deixando de cumprir com as suas próprias atribuições, objetivo de sua contratação.
O TILS, por diversas vezes é convidado a cumprir outros papéis, porém ele não tem o papel de tutor, orientador, bedel (inspetor de alunos), assistente de sala, monitor, professor auxiliar, ou outro, mas sim o de tradutor e intérprete de Libras/Língua Portuguesa. Atentando para esses ponto o TILS não será sobrecarregado com responsabilidades que não dizem respeito à sua profissão, e se dedicará mais às que sim, fazem parte de suas funções e competências.
Quanto à formação, essa deve ser em Letras LIBRAS, tendo a opção de uma especialização, por exemplo, em educação, gêneros educacionais e pedagogia.
- Intérprete de Conferência:
Atuando como intérprete de conferências o TILS deve ter a consciência de que o ideal é dominar, pelo menos os conceitos básicos, de diversas áreas. Esse fato é justificado, pois os eventos podem versar sobre diversos temas, como da agricultura, da educação, da medicina, dentre outros, além do sub-tema que irá tornar o evento mais específico.
Sempre que for contratado para esse trabalho, o profissional deve fazer pesquisas a partir da temática do evento, dos temas das palestras e, principalmente, ter acesso ao resumo dos palestrantes, para estudar. Este estudo proporciona uma interpretação de melhor qualidade e mais adequada à língua alvo. Infelizmente a maior parte dos organizadores de eventos ignoram essa necessidade.
Em todos os âmbitos de trabalho o TILS deve ser acompanhado por um TILS de apoio, porém esse apoio é ainda mais indispensável em situações como esta, a de interpretação em eventos.
O apoio tem a responsabilidade de perceber alguma informação, principal, que foi perdida, e ao olhar do TILS atuante, entender o que ocorreu, ou seja, se por algum motivo, o TILS atuante perder alguma informação, o TILS em apoio irá auxiliá-lo passando a informação perdida ou ajustando a informação equivocada. Para tanto o TILS em apoio deve estar atento, focando seu olhar o tempo inteiro no TILS em atuação. Após 20 ou 30 minutos eles revezam entre si. Em eventos de até duas horas são contratados dois profissionais, em eventos de até cinco horas são necessários três intérpretes e em eventos acima de cinco horas devem ser contratados cinco intérpretes.
O revezamento é necessário, pois após certo tempo o desempenho do TILS sofre uma queda considerável, e pode começar a não acompanhar corretamente o que está sendo dito, ele pode talvez passar a filtrar apenas algumas partes da mensagem. Isso prejudica a seus clientes (surdos/surdocego ou ouvintes). O revezamento deve ocorrer de 20 em 20 minutos ou de 30 em 30 minutos, devendo ficar o intérprete X como atuante, o Y como apoio e o Z recompondo as energias. Durante seu momento de intervalo, porém fica assistindo ao evento, para quando for sua vez de revezar, estar a par do encaminhamento dado por exemplo com relação ao espaço referencial e a linha das apresentações dos convidados. Quando ocorre o revezamento seguinte, fica o Y como atuante o Z como apoio e o X se reestruturando fisicamente.
Esse profissional faz a formação básica em Letras LIBRAS, podendo ingressar em uma complementar o mais ampla possível, que ensine princípios e conceitos de diversas áreas do conhecimento.
- Intérprete Social/Público:Quando atua como intérprete público, interpreta, normalmente, de maneira particular, atendendo ao individuo, e não a um coletivo. Sendo assim interpreta seu cliente em enlaces matrimoniais, separações, velório, ou em instituições financeiras, órgãos públicos, lojas comerciais, na compra de ingresso para um teatro, compra de passagem em rodoviária, aeroportos, em farmácia, reuniões de família, festas de família, no processo de solicitação de isenção nos transportes públicos, ou seja, resolução de situações do dia-a-dia que dizem respeito ao indivíduo.
Este profissional precisa ter uma rede, de relacionamentos (network), bem estruturado e disponibilidade de tempo, quase que o período integral, pois o seu cliente (surdo/surdocego ou ouvinte) poderá solicitar seus serviços em qualquer momento, porém mais freqüentemente no horário comercial. O ideal é manter uma agenda on-line, para que os clientes possam verificar a disponibilidade e ali mesmo requisitar o serviço.
O problema encontrado é que a remuneração nem sempre é a esperada, pois o cliente, não dispõe de um orçamento como o de uma grande empresa, logo pode pagar um valor mínimo pelos préstimos do TILS. O ideal seria uma parceria com empresas, para patrocinar esse serviço, que deveria ser ofertado por uma Central 24h de TILS, do poder público. Como não temos ainda esse serviço público a opção é solicitar os serviços de um intérprete social.
- Intérprete Jurídico:
O TILS que estiver atuando na área da justiça transmite as informações antes, durante e após a audiência. Antes da audiência ele faz a intermediação, os combinados, entre o cliente surdo e seu advogado/defensor, durante a audiência ele interpreta o que é falado pelas partes e pelo juiz, ao término da audiência o TILS, muitas vezes, é requisitado a uma nova interpretação sobre as resoluções. O TILS é contratado pelo fórum, como perito, e recebe uma intimação para comparecer a audiência sempre que for audiência daquele tal processo, ou seja, ele fica vinculado. E assina os autos do processo como responsável pelo que interpretou, ou seja, por ele passa a soltura ou prisão, por exemplo, de um réu surdo.
Quanto aos honorários, estes são pagos normalmente por audiência, porém existem casos que o profissional recebe por seus serviços ao término do processo, e às vezes o processo chega a uma conclusão em até seis anos. Existem contratações pelas partes (advogados ou clientes), porém o ideal é o contrato pelo tribunal, e por meio de uma instituição, que possa comprovar que o profissional tem um cadastro.
Comumente o profissional que opte por essa área, encontrará surdos que nunca estudaram, oriundos de outros estados e do interior, onde não existem escolas para surdos, e onde os pais e familiares não têm acesso a conhecimentos sobre a surdez, e mantém o surdo sem estudo e sem uma língua de comunicação efetiva, comunicando-se com ele por gestos caseiros.
O juiz deve ser informado desse fato, e a ele deve ser explicado que aquele cliente não usa a Libras, e que o profissional irá tentar formas alternativas de comunicação, juntamente com outro intérprete. Sendo assim, é fator preventivo estar sempre junto com um intérprete surdo, que facilmente se comunicará, e passará as informações obtidas para o intérprete ouvinte, que as transmitirá para o juiz. No caso de crianças surdas o ideal também é estar acompanhado por um intérprete surdo. Ambos os profissionais são remunerados.
Um alerta é que o TILS não deve fazer a interpretação-voz (da Libras para o português), utilizando a primeira pessoa, ou seja, por exemplo o surdo confessa que cometeu um crime, a interpretação-voz ficará assim 'ele está confessando que cometeu o crime' e não 'eu confesso que cometi o crime'. Com isso evita-se que o escrevente coloque nos autos uma declaração feita pelo intérprete, assumindo seu crime. Isso parece impossível de acontecer, mas com a falta de conhecimento do papel do intérprete durante o processo é possível que haja algum engano, e o profissional seja arrolado de maneira equivocada, e é sempre melhor evitar.
O profissional que preferir atuar nessa área deverá ter a formação básica, que consta no Decreto 5.626/05 e uma outra formação que aprofunde o seu conhecimento em procedimentos e conteúdos jurídico.
- Intérprete na Religião:
Na religião o TILS pode ser, ou não, um participante ativo em determinada religião, acreditando ou não em seus dogmas. Obviamente o TILS tem o direito de recusar interpretações em outras religiões, se for o caso, por motivos pessoais. O ideal é que o TILS vá a qualquer local que for requisitado, procurando manter-se imparcial quando não acreditar em alguma religião ou seita, pois o objetivo é o acesso do seu cliente surdo aos conhecimentos daquela religião. O cliente tem a opção por ser da igreja católica, batista, umbandista, mórmon, da seisho-no-ie e talvez ter nascido judeu e ser praticante dos costumes e crenças.
Durante a interpretação o TILS não pode demonstrar sua opinião, nem 'encaminhar' o cliente a desacreditar no que está sendo ensinado. Ele deve sim, transmitir exatamente o que está sendo dito com a entonação, a intensidade e a estratégia que está sendo utilizada.
A contratação é feita na maior parte das vezes pelo próprio surdo, ou por familiares, mas o ideal é que a diretoria da igreja faça esse contato para combinar o pagamento. A formação pode ser uma formação mais voltada para as religiões, dogmas e crenças, procurando sempre se atualizar, e deve, preferencialmente, ter também a formação em Letras Libras.
- Intérprete na Saúde:
Nessa área a interpretação ganha proporções de vida e morte, é um trabalho que deve ser feito por um intérprete com experiência com diversos tipos de surdos, os que sabem apenas Libras, os que utilizam-se do bimodalismo (usam a Libras na estrutura do português ou o português na estrutura da Libras), os que são oralizados (falam português e fazem leitura labial), mas principalmente os surdos ainda criança e os que se utilizam apenas de gestos caseiros para se comunicar. Devo ressaltar que essa experiência deve ser primária para qualquer área em que o intérprete venha a atuar.
Nos dois últimos casos, deve ser contratado um intérprete surdo, que terá maior possibilidade de uma interpretação real do que está sendo dito por essa criança surda, ou pelo adulto com uma forma de comunicação diferenciada. Logo o intérprete surdo interpreta para o intérprete ouvinte, que por sua vez interpreta para o médico, por exemplo.
O intérprete deve ter a formação do Decreto (5.626/05) e uma especialização podendo ser na área da saúde, da biologia e também de procedimentos médicos. O próprio hospital deve arcar com os honorários do intérprete, e a contratação deve ser por meio de uma instituição, para comprovar o cadastramento do profissional, ou um contrato como funcionário do próprio hospital, que convocará uma banca de especialistas em surdez e interpretação em Libras para a seleção de um intérprete surdo e um ouvinte.
- Intérprete:
Nesse momento o profissional está atuando com duas línguas na modalidade falada, ou seja, a língua portuguesa oral para a Libras oral (a Libras como uma língua usa o termo ‘fala’ para se referir ao momento em que se expresse algo por meio dela, logo falar em Libras é totalmente correto utilizar), e vice-versa.
Essa forma é mais comum de vermos no trabalho desses profissionais.
- Guia-intérprete:Uma das funções, previstas na Lei 12.319/10, é justamente a de guia-intérprete, para atender ao sujeito surdocego. A instituição que ministra o curso de formação em guia-interpretação, em São Paulo, é a Ahimsa (sitio:
CELSO BADIN – E o que vem a ser a sigla CODA?
JOEL BARBOSA JÚNIOR – Essa sigla quer dizer Crianças Ouvintes Filhas de Pais Surdos.- CODA:
Esse profissional tem a Língua de Sinais como sua primeira língua, pois convive com pais surdos.
Existem CODAs que não convivem com os pais, e têm sua primeira língua o português.
Mas no primeiro caso, se ele se tornar um profissional, terá mais habilidade com relação a uma percepção cultural, e de questões da comunidade surda, e poderá utilizar esse fato estrategicamente, para transmitir o conteúdo da língua alvo para a língua fonte. Sendo assim são excelentes TILS.
Em 2012 haverá a Conferência Internacional de CODAs (http://coda-international.org/blog/), em Miami, Flórida.
Estes eventos são importantes para criar uma rede de contatos e proximidade com relação à identidade, bi-cultural, com outras pessoas que também são filhas de pais surdos.http://www.ahimsa.org.br).
O guia-intérprete faz a tradução e a interpretação, e também guia seu cliente, que não é apenas surdo. Sendo assim como guia deve estar junto no período integral, desde a saída da casa do surdocego até o seu retorno.
Ou seja, na hora do almoço, ida ao banheiro, lanche etc.
Muitas vezes nos deparamos com surdocegos com uma forma de comunicação diferenciada e específica daquele sujeito. As formas mais comuns são a Libras-Tátil, Alfabeto Manual Tátil e o sistema Braille Tátil, porém existem diversas outras formas, como por exemplo, o Tadoma (leitura labial pelo tato).
Sendo assim o profissional deve sim fazer um curso para obter esses conhecimentos específicos, além da formação em Letras Libras.
Existem intérpretes surdos que optam pela guia-interpretação, enquanto o intérprete ouvinte faz a interpretação o intérprete surdo observa e retransmite para o surdocego.
CELSO BADIN – Agora, por favor, fale sobre o que é função de um tradutor, de um intérprete e de um guia-intérprete.
JOEL BARBOSA JÚNIOR – Ser tradutor, para os profissionais de línguas orais, é, muitas vezes, uma profissão totalmente diferente de ser intérprete. No caso do TILS esses dois momentos estão sempre juntos.
- Tradutor:Enquanto está trabalhando como tradutor, o profissional, lida com ao menos uma das línguas na modalidade escrita, ou seja, da Libras para o português escrito, do português escrito para a Libras, da escrita de sinais para o português escrito ou falado. Exemplos de atuação como tradutor são vistos em avaliações, quando lhe é requisitado ler o que o surdo respondeu e interpretar oralmente para que o avaliador entenda essa escrita típica de muitos surdos.
E ainda interpretar o enunciado das questões da prova, interpretar ou escrever uma carta, email ou trabalho de conclusão de curso, e assim por diante, no dia-a-dia sempre existe essa demanda.
Logo o intérprete deve possuir um conhecimento aprofundado da língua portuguesa, por exemplo, de redação, sabendo também quais são os gêneros textuais.
FONTE:http://livialibras.blogspot.com/2011/06/entrevista-com-joel-barbosa-importancia.html
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