RYBENINHA
DÊ-ME TUA MÃO QUE TE DIREI QUEM ÉS
“Em minha silenciosa escuridão,
Mais claro que o ofuscante sol,
Está tudo que desejarias ocultar de mim.
Mais que palavras,
Tuas mãos me contam tudo que recusavas dizer.
Frementes de ansiedade ou trêmulas de fúria,
Verdadeira amizade ou mentira,
Tudo se revela ao toque de uma mão:
Quem é estranho,
Quem é amigo...
Tudo vejo em minha silenciosa escuridão.
Dê-me tua mão que te direi quem és."
Natacha (vide documentário Borboletas de Zagorski)
SINAL DE "Libras"
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Pure Carat, meu grande amor
Eu sei o que é ouvir muito bem com
os dois ouvidos. Sei o que é não ouvir com ouvido nenhum. Sei o que é
ouvir muito bem com dois aparelhos auditivos. Agora sei também o que é
ouvir apenas com um aparelho auditivo. Em breve saberei como é ouvir com
um aparelho auditivo e um implante coclear. E claro que também vou
testar como é ouvir apenas com um implante coclear. Quem sabe, um dia,
saberei como é ouvir com dois implantes cocleares.
Nessa longa jornada, que começou quando eu tinha uns cinco anos de idade, tive muitos casos de ódio por aparelhos auditivos
– aquela babaquice do ‘intracanal invisível’ , AASI’s mal adaptados,
fonoaudiólogas interessadas somente em $$, etc. Fazendo uma
retrospectiva, percebo claramente que o Pure Carat foi – e ainda é, pois é ele que uso no ouvido esquerdo – o meu grande amor. Esse aparelho auditivo me fez reaprender a amar ouvir música,
coisa que já tinha deixado de lado há muito tempo. Me permitiu estar
tantas vezes no trânsito e de repente ouvir E entender alguma palavra em
inglês. Me fez sentir normal ao me deixar me conectar com meu notebook e
assistir vídeos no YouTube enquanto ouvia as músicas direto nele. Me
fez sentir segura todas as vezes em que viajei sozinha. Me trouxe
felicidade ao cancelar aquele barulhão horroroso de vento (vento + AASI=
the horror) em lugares como praia, fazenda e piscina. Me deu nós no
coração ao me permitir ouvir os resmungos chorosos do meu cachorrinho.
Me surpreendeu ao me deixar ouvir a torneira do banheiro pingando. Não
me deixou sentir medo quando precisei ficar sozinha em casa. Me fez dar
boas gargalhadas ao ouvir as vozes de personagens de meus seriados
favoritos pela primeira vez. E, graças a ele, pude, mesmo com
surdez profunda, gravar para sempre na cabeça e no coração os timbres
das vozes da minha família, dos meus amigos e de pessoas que foram muito
especiais na minha vida.
Só de escrever isso, eu choro. É uma mistura de agradecimento com gratidão eterna.
Ainda bem que fui capaz de deixar minha teimosia de lado, voltar a usar
aparelhos, me apaixonar por eles e, assim, ter passado os últimos anos
estimulando meu nervo auditivo e minha memória auditiva – se não fosse
isso, não acho que teria sido candidata ao IC. Sempre soube que amava
profundamente meu Pure Carat, mas a ficha só caiu
aquela vez em que perdi o par horas antes de uma viagem. Me desesperei,
fui procurar no lixo, tremia que nem vara verde só de pensar em mim sem
eles. Durante muito tempo até hoje – e durante muito tempo ainda – eles foram e serão meus melhores amigos.
Meu dia só começa depois que ‘visto’ meu Pure. Me sinto inteira, me
sinto gente, me sinto em paz. Sem eles, me sinto nua e totalmente
desprotegida.
Hoje o Pure direito
voltou do conserto (foto acima). Na véspera da minha cirurgia de IC ele
parou de funcionar, o que chegou a parecer um sinal de ‘estou me despedindo antes de não ser mais necessário‘. Não posso mais usá-lo, mas olho pra ele e sinto uma pontada no peito de saudade de tudo o que ele me dava. Tenho esperança de que o IC vá me dar mais ainda, mas meu amor pelo Carat é eterno e incondicional. Talvez quem também o use entenda um pouco o meu sentimento…
http://cronicasdasurdez.com/pure-carat-meu-grande-amor/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+CronicasSurdez+%28Cr%C3%B4nicas+da+Surdez%29
Surda oralizada morando e trabalhando na Bélgica
‘Oi, Paula, estou entrando no seu blog. Ganhei de presente, de uma prima, um exemplar do seu livro e eu adorei. Parabéns! Você tem coragem! Agora vou contar a minha historia.
Nasci totalmente surda (surdez profunda, bilateral). Sempre estudei em
escolas para ouvintes. Depois fiz vestibular, concorrendo normalmente
com os outros alunos, sem auxílio de intérpretes, entrei na Universidade Federal de Campina Grande, onde cursei Desenho Industrial.
Fiz todo o curso e só necessitei de interpretação dos sinais quando
defendi o meu projeto no trabalho de conclusão de curso. O projeto que
desenvolvi foi um brinquedo para crianças surdas. Minha
vida não era fácil pois, além de estudar, eu trabalhava no SENAI e no
Colégio das Damas, instituição de ensino que estudei desde pequenina e
que me deu o meu primeiro emprego. Sou uma pessoa corajosa e
determinada: procuro sempre realizar os meus projetos de vida. Terminei o
curso de Desenho Industrial em setembro de 2005. Aqui, na Bélgica
estou trabalhando, numa indústria de móveis, e faço parte da equipe de
design, tudo dentro da minha área. Faço desenhos técnicos e outras
coisas mais. Estou bem satisfeita.
Minha infância e adolescência foram difíceis,
pois me sentia um pouco excluída nos ambientes sociais. Desde pequenina
sempre me comuniquei com as outras pessoas através da leitura
labial, com a ajuda de fonoaudiólogas, minhas grandes amigas. Só aprendi
a língua de sinais, já quase adulta, para tentar me integrar com os
surdos da minha cidade, que só se comunicavam pela Libras. Quando
iniciei o meu curso de Desenho Industrial, fui com minha mãe para São
Paulo, para me operar e passei lá seis meses. Fiz implante coclear,
mas só consegui escutar alguns barulhos, tipo: cafeteira, campanhia,
instrumentos musicais (isso eu até escutava melhor, porque os sons
vibram e dava para eu distinguir um pouco), chuvas fortes também
percebia. Mas meu aparelho sempre apresentava problemas e como eu morava
em Campina Grande, na Paraíba, era necessário enviar o aparelho para
conserto em São Paulo e às vezes demorava para retornar. Uma das vezes
eles tiveram que substituir o aparelho e o segundo não era tão bom
quanto o primeiro. E eu não estava satisfeita. minha família ficou
triste, porque eu não quis mais usar o aparelho. Há muitos anos já não o
utilizo. Ainda tenho o implante e não sei se devo retirá-lo…
Paula, vi a foto da sua cirurgia
do implante coclear. Deu certo? Você consegue ouvir pelo telefone? Isso
eu nunca consegui. Espero que a sua cirurgia tenha êxito e que você
consiga escutar todos os sons que eu jamais cheguei a ouvir. Hoje estou conformada porque, mesmo surda, me considero uma vencedora.
Fiz vestibular e estudei na universidade sem ajuda de intérpretes.
Trabalho na minha área, em outro país, que me deu oportunidade de
emprego, sem nenhuma discriminação. Aqui tenho uma
vida igual a de todo mundo. Tenho trabalho, lazer, uma filha maravilhosa
e um companheiro, ouvinte, que me dá apoio em tudo o que eu faço. Claro
que também sinto saudades do meu país, da minha cidade, da minha
família e das minhas grandes amizades. Mas, sempre que posso, viajo para
o Brasil para matar as saudades…
Gosto demais da Bélgica, pois aqui me sinto como todas as pessoas. Sou oralizada em português, mas leio e escrevo em flamengo (holandês) e também me comunico nessa nova língua.
Não sei se oralizo bem, mas as pessoas me entendem e fico feliz em ser
compreendida. Eu moro na parte flamenga da Bélgica, próximo à Holanda,
daí a necessidade de aprender a língua daqui. Assim que cheguei na
Bélgica, fui para uma escola, para aprender o flamengo. Era uma escola
para estrangeiros e os estudantes eram ouvintes. Eu era a única surda.
Mas aprendi, com relativa facilidade; os professores eram excelentes e
eu fazia a minha parte direitinho: estudava bem. Então não foi muito
difícil. O meu primeiro emprego aqui, foi na Prefeitura, onde eu
trabalhava com uma equipe de arquitetos e gostei demais. Eu era
estagiária e fiquei cerca de 6 meses. Em seguida vim para o meu emprego
atual. Uma empresa de móveis, com grandes projetos do tipo, hotéis,
museus, hospitais, laboratórios. Eu fico na parte de desenhos técnicos,
no setor de laboratórios e somos uma equipe grande. Alguns colegas do
trabalho aprenderam a língua de sinais – por sinal a língua de sinais
daqui é diferente da do Brasil e foi outra coisa que tive também que
aprender- , para se comunicar melhor comigo e achei ótimo, facilita
demais a minha comunicação com eles. Então, sendo bem sincera mesmo, não me sinto excluída na Bélgica. Até esqueço que sou surda…
Beijos, Laís’
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Quase um mês se passou da cirurgia de Implante Coclear…
Dia 28/10 fará um mês
que me operei. O corte já cicatrizou bem, o cabelo já cresceu um pouco.
Até o zumbido estabilizou bem depois que passei a tomar Betaserc. Agora é
só a expectativa pela ativação!
Tenho recebido tantos emails, e gostaria
de dividir um deles com vocês hoje, porque sei que muitas pessoas estão
aí atrás da tela do computador com indicação para fazer Implante Coclear e temerosas de tomar uma decisão:
‘Hoje com 13 anos da doença já estou na surdez profunda
e já estou consultando com especialistas para ver se sou candidata mas
tenho muito medo de tudo. As pessoas já riem de mim com os aparelhos
ainda mais com IC que é uma coisa que não dá pra esconder, todo mundo
vai ver e vai ficar perguntando o que é. O medico me disse que não há
outro caminho ou eu faço ou vou perder tudo a ponto de nem o IC resolver
mais pra mim. Tenho um filho de 3 anos que precisa de me ter ouvindo mas bate um medo danado.
Sou leitora assídua do Crônicas desde que eu descobri há uns 2 anos,
acompanho passo a passo de tudo que você posta. Já li seu livro muitas
vezes e fico impressionada com a força que você tem pra enfrentar tudo
isso. Lembro do que você disse uns dias atrás que pra pessoa se submeter
ao IC tem que ter a cabeça boa e eu tenho o psicológico muito frágil.
Tenho pensando muito no assunto. Acho que não tenho outra escolha a não
ser fazer. Mas pinta aquela sensação, vi você de cabeça raspadinha e
penso no meu cabelo que é grandão, nossa bate uma tristeza.’
Quando decidi começar esse blog em 2010 decidi também iniciar na minha vida uma nova e eterna fase, que brinco chamando de “Os OUTROS que se explodam way of life“. E desde então vivo a minha surdez
baseada nisso. Os olhares, os preconceitos, as perguntas nonsense e a
ignorância alheias não me incomodam e nem tiram o meu sono – pelo
contrário, somente fortalecem ainda mais essa decisão. Todo mundo tem questões mal resolvidas a respeito da sua própria deficiência auditiva; eu mesma morria de medo de fazer os exames para descobrir se era apta ao IC porque temia não ser. E a beleza da vida está em resolver todas essas questões.
Alguns não admitem que precisam usar aparelhos auditivos. Outros morrem
de vergonha de usá-los. Muitas pessoas passam longos anos escondendo a
sua surdez, e o mais triste é que não escondem dos outros, que a notam
perfeitamente, escondem é de si mesmos. Nesse momento milhares de
pessoas estão em depressão porque não aceitam o fato de que não ouvem
mais como antes. Outros milhares, em depressão pelo zumbido. Enfim, são
muitas questões. E, como disse no livro e vivo repetindo aqui, a grande
lição é lutar contra tudo isso e dar um jeito de encontrar qualidade de
vida e ser feliz. Compartilhei o email acima porque me dói um pouco o
coração perceber que uma leitora tão antiga, tão fiel e tão querida está
se apegando a questões bobas (cabelo, o que os outros vão achar, etc) e
esquecendo da mais importante de todas: o seu filho precisa que você ouça para que você possa protegê-lo. A surdez nos deixa a um oceano de distância da pessoa que está no quarto ao lado!! E fica a pergunta:
se você tem indicação para fazer o implante coclear e não fizer por
ficar focada só no que não importa ou por achar que é frágil (coisa que
você certamente não é, a gente não sabe a força que tem até que nossa
única alternativa é ser forte) o que é que você vai responder pro seu
filho quando ele crescer e lhe questionar sobre isso? Imagine ele te
dizendo: “Mãe, você não fez a cirurgia pois não queria cortar o cabelo e ficava preocupada com o que estranhos iriam dizer/pensar?”. Pois é. Talvez seja hora de rever as suas prioridades. Espero que você foque no que importa e não perca mais energia com bobagens! Um beijo.
http://cronicasdasurdez.com/quase-um-mes-se-passou-da-cirurgia-de-implante-coclear/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+CronicasSurdez+%28Cr%C3%B4nicas+da+Surdez%29
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
DEFENDEMOS O DIREITO DAS CRIANÇAS SURDAS CRESCEREM BILÍNGUES
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=426250174148200&set=a.262447570528462.46870.252479294858623&type=1&theater
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
6º Encontro de Surdos e Intérpretes (Lençóis Paulista - SP)
6º Encontro de Surdos e Intérpretes (Lençóis Paulista - SP)
Dias 19 e 20 de Outubro de 2013
Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Ministério de Madureira
Rua: Princesa Izabel, Vila Capoani – Lençóis Paulista
Informações: (14) 9.9629-1552 / (14) 3263-6978
e-mail: gilwerneck@hotmail.com
Dias 19 e 20 de Outubro de 2013
Igreja Evangélica Assembléia de Deus – Ministério de Madureira
Rua: Princesa Izabel, Vila Capoani – Lençóis Paulista
Informações: (14) 9.9629-1552 / (14) 3263-6978
e-mail: gilwerneck@hotmail.com
Cursos promovidos por DOT Educação Especial - SÃO PAULO
http://www.portalsme.prefeitura.sp.gov.br/anonimosistema/detalhe.aspx?List=Lists%2FHome&IDMateria=1536
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Fdserj - Federação Desportiva de Surdos do Estado do Rio de Janeiro
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=217816465053664&set=at.157222154446429.1073741826.157204231114888.100002679070142&type=1&theater
Semana de Inclusão e Diversidade do Senac Consolação tem audiodescrição, legenda open caption e LIBRAS
- Com os recursos de acessibilidade de audiodescrição, legenda open caption e tradução em LIBRAS o evento possibilita uma participação ainda mais completa do público com deficiência visual e auditivaSão Paulo, 26 de setembro de 2013 – De 1 a 5 de outubro, o Senac Consolação realiza a Semana Senac de Inclusão e Diversidade. Ao longo da programação, que promoverá o diálogo e o compartilhamento de experiências sobre inclusão social e educacional, tendo como tema principal o mercado de trabalho, diversidade profissional e valorização da competência, recursos de acessibilidade como a audiodescrição, legenda open caption e tradução em LIBRAS serão desenvolvidos, paralelamente, para que o público com deficiência visual e auditiva participe efetivamente.Na Semana Senac de Inclusão e Diversidade, explica a coordenadora do Setor de Responsabilidade Social do Senac Consolação, Maria Aparecida Capellari, a Iguale Comunicação de Acessibilidade fará a audiodescrição ao vivo do Workshop de Inclusão que abrirá o evento, no dia 1º. Esta atividade, que objetiva sensibilizar para promover a inclusão da pessoa com deficiência, terá informações, vivências e reflexões sobre o assunto, proporcionando o convívio em condições de igualdade entre pessoas com e sem deficiências. Por isso, a audiodescrição se faz essencial neste momento, para que mais pessoas conheçam o que, como funciona e quais são seus benefícios.A audiodescrição ao vivo, feita pelos audiodescritores da Iguale, estará também disponível em outras palestras ao longo do evento. Já dos dois filmes em cartaz na sessão pipoca, o Intocáveis terá a audiodescrição e open caption da Iguale e o Colegas, da empresa Tagarellas Produções. Em sua 8ª edição, a Semana Senac de Inclusão e Diversidade do Senac Consolação oferece pelo segundo ano consecutivo a audiodescrição e pela primeira vez a legenda open caption na atividade chamada de sessão pipoca”. Já a tradução em LIBRAS é algo que acompanha o evento desde 2005. Segundo Maria Aparecida, ao incluir a audiodescrição nas palestras busca-se mostrar, principalmente para quem ainda desconhece, como funciona e quais são os seus diferenciais no quesito acessibilidade para quem tem a deficiência visual.
CHARLEY FOI APROVADO NO CONCURSO DA UFV - PROFESSOR DE LIBRAS
Junto
com comissão examinadora, concurso área: Língua Brasileira de Sinais.
saiu o resultado final? Fui aprovado, professor de Libras da UFV.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=467217330036539&set=a.467579893333616.1073741827.100002448271380&type=1&theater
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=467217330036539&set=a.467579893333616.1073741827.100002448271380&type=1&theater
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
Fim das APAEs
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quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Instituto de surdos oferece formação de Libras para ouvintes
Instituto de surdos oferece formação de Libras para ouvintes
- Guarda,
enfermeiro e mais 670 alunos ouvintes se matricularam no curso de Língua Brasileira de Sinais
RIO - Quando o guarda municipal Gilson Mario Marinho quer falar seu
nome sem emitir um som, ele arregala um olho, levanta a mão direita à
altura da face e faz um movimento arqueado com o dedo indicador. O
aceno, criado por um professor de Libras (Língua Brasileira de Sinais),
faz uma referência à sua sobrancelha, farta como a de um vilão de filme
mexicano.
— Eu sou o Sobrancelha Levantada. É engraçado, parece nome de índio — diverte-se. — Tem gente que, quando é “batizada”, não gosta, barganha por um nome novo. Para mim está bom.
Mesmo sem ter qualquer deficiência auditiva, Marinho, de 45 anos, estuda há um ano no Ines, o Instituto Nacional de Educação de Surdos. Construído em 1856, por iniciativa de Dom Pedro II, o centro, em Laranjeiras, é o primeiro e maior do tipo na América Latina. Tem alunos do ensino fundamental à pós-graduação.
Mas ainda que voltado primariamente à instrução de surdos, o Ines não é excludente. Oferece, desde 2000, uma formação de Libras em cinco semestres para ouvintes. Neste ano, as 672 vagas foram preenchidas em oito minutos, pela internet (a procura dobrou nos últimos três anos). Pais de alunos surdos têm prioridade. Depois, abre-se posto a funcionários públicos e de empresas privadas. Vem, por fim, o público geral. O curso, de duas aulas semanais, é gratuito.
Integrante do grupamento de rondas escolares — responsável por vistoriar escolas da rede municipal —, Marinho decidiu estudar Libras depois de se deparar com alguns alunos surdos.
— Eu me sentia incomodado de não conseguir me comunicar — lembra-se. — Além disso, sei de casos de surdos que foram presos porque o agente de segurança desconhecia a linguagem de sinais, e acabou se irritando.
Ele estuda às terças e quintas-feiras, depois do expediente. Com dois semestres de aula, aprendeu a falar “cachorro” (o sinal imita um focinho), “gato” (um bigode), “mãe” (um beijo na mão, como quem pede a benção). Descobriu que, assim como em português falado, o “sotaque” varia de acordo com a região (o gesto para “elefante” difere se feito no Rio ou em Minas Gerais). Tirou férias neste mês, para comparecer ao 11º Congresso Internacional de Educação de Surdos, que terminou ontem, em Copacabana. Se diz fascinado com a língua:
— Libras não é português, que segue padrões preestabelecidos. Para contar que comprou um carro novo, você pode falar “carro novo comprei” ou “novo comprei carro”. E os verbos são descartáveis. Não preciso dizer “eu falo Libras”. “Eu Libras” resolve.
Usou o aprendizado em uma ocasião.
— Foi num posto de saúde. Eu tinha levado uma aluna, e acabei vendo que havia um casal de surdos por lá. O homem precisava ir à farmácia, mas não conseguia pronunciar as palavras — rememora. — Dá para ver o contentamento da pessoa quando ela percebe que você também fala Libras.
Influenciada pela língua de sinais da França, a Libras segue, na maior parte das vezes, uma lógica intuitiva. “Saudade” é dito com um movimento circular em torno do coração. “Dor” lembra a reação de quem queima o dedo numa panela. “Tablet”, palavra da nova safra, é mostrado com um roçar do indicador direito na palma da mão esquerda. Cada sinal é acompanhado de uma expressão facial que o complementa. É impossível manter uma conversa sem olhar o interlocutor.
Embora antiga, a Libras só veio a ser reconhecida oficialmente em 2005, devido ao decreto federal 5626 (hoje é, além do português, o único idioma oficial do país). Desde então, houve um aumento de políticas de inclusão. A disciplina tornou-se mandatória no curso de Fonoaudiologia; instituições federais de ensino foram obrigadas a contar com tradutores (ainda que nem sempre cumpram a meta); o Ines passou a dispor de um curso universitário.
Neste ano, a instituição criou um canal de TV pela internet e produziu um desenho animado inteiro em Libras. O número de alunos disparou.
Técnico em enfermagem do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Mario Sérgio de Souza, de 36 anos, cursa o primeiro semestre. A vontade de aprender Libras foi motivada pelo encontro com um paciente surdo, três anos atrás.
— Era uma criança de uns 7 anos. Nos comunicávamos por desenho — conta. — O menino tinha que se desdobrar para dizer o que sentia. Não dá para ter um paciente sem se comunicar com ele.
Conseguiu se matricular há dois meses, na segunda tentativa. Devido ao pequeno topete, foi “batizado” com um movimento da mão sobre a testa (o apelido em Libras é necessário para que as pessoas não tenham que soletrar letra por letra de cada nome). Convenceu um amigo do trabalho a se matricular, no próximo ano.
— No meu setor ninguém fala Libras. E no hospital também não conheço ninguém. Acho um erro — vaticina. — Deveriam ensinar Libras em escolas, como fazem com inglês e espanhol.
Supervisora da 5ª Promotoria do Idoso e da Pessoa com Deficiência, no Centro, Ana Paula dos Santos, de 35 anos, decidiu aprender Libras depois que passou a dividir a sala com o estagiário Jocsã Soares Gomes, 19 anos mais novo. Surdo desde o nascimento, Jocsã promoveu uma pequena revolução na repartição: também convenceu a recepcionista Sâmia Vieira e o assessor jurídico Marcio Luiz Ribeiro a se aventurarem na língua. De quebra, inventou sinais para cada um.
— No primeiro dia chamamos um intérprete de Libras da prefeitura, só para apresentar o trabalho a ele — lembra Ana Paula. — Depois, nos comunicamos por escrito.
Passados alguns meses, o grupo resolveu se matricular no Ines.
— Com a chegada do Jocsã, comecei a entrar em sites para aprender algumas palavras — conta Ribeiro, de 32 anos. — Descobri como se diz “bom dia”, “boa noite”, sem contar as bobeiras, como “tá paquerando” e “amo você”.
Diz que o interesse na nova língua independe da presença do estagiário:
— É uma linguagem bonita, teatral. E muita gente desse universo não consegue nos acessar. Um americano no Brasil pode aprender português. O surdo não tem essa opção.
— Eu sou o Sobrancelha Levantada. É engraçado, parece nome de índio — diverte-se. — Tem gente que, quando é “batizada”, não gosta, barganha por um nome novo. Para mim está bom.
Mesmo sem ter qualquer deficiência auditiva, Marinho, de 45 anos, estuda há um ano no Ines, o Instituto Nacional de Educação de Surdos. Construído em 1856, por iniciativa de Dom Pedro II, o centro, em Laranjeiras, é o primeiro e maior do tipo na América Latina. Tem alunos do ensino fundamental à pós-graduação.
Mas ainda que voltado primariamente à instrução de surdos, o Ines não é excludente. Oferece, desde 2000, uma formação de Libras em cinco semestres para ouvintes. Neste ano, as 672 vagas foram preenchidas em oito minutos, pela internet (a procura dobrou nos últimos três anos). Pais de alunos surdos têm prioridade. Depois, abre-se posto a funcionários públicos e de empresas privadas. Vem, por fim, o público geral. O curso, de duas aulas semanais, é gratuito.
Integrante do grupamento de rondas escolares — responsável por vistoriar escolas da rede municipal —, Marinho decidiu estudar Libras depois de se deparar com alguns alunos surdos.
— Eu me sentia incomodado de não conseguir me comunicar — lembra-se. — Além disso, sei de casos de surdos que foram presos porque o agente de segurança desconhecia a linguagem de sinais, e acabou se irritando.
Ele estuda às terças e quintas-feiras, depois do expediente. Com dois semestres de aula, aprendeu a falar “cachorro” (o sinal imita um focinho), “gato” (um bigode), “mãe” (um beijo na mão, como quem pede a benção). Descobriu que, assim como em português falado, o “sotaque” varia de acordo com a região (o gesto para “elefante” difere se feito no Rio ou em Minas Gerais). Tirou férias neste mês, para comparecer ao 11º Congresso Internacional de Educação de Surdos, que terminou ontem, em Copacabana. Se diz fascinado com a língua:
— Libras não é português, que segue padrões preestabelecidos. Para contar que comprou um carro novo, você pode falar “carro novo comprei” ou “novo comprei carro”. E os verbos são descartáveis. Não preciso dizer “eu falo Libras”. “Eu Libras” resolve.
Usou o aprendizado em uma ocasião.
— Foi num posto de saúde. Eu tinha levado uma aluna, e acabei vendo que havia um casal de surdos por lá. O homem precisava ir à farmácia, mas não conseguia pronunciar as palavras — rememora. — Dá para ver o contentamento da pessoa quando ela percebe que você também fala Libras.
Influenciada pela língua de sinais da França, a Libras segue, na maior parte das vezes, uma lógica intuitiva. “Saudade” é dito com um movimento circular em torno do coração. “Dor” lembra a reação de quem queima o dedo numa panela. “Tablet”, palavra da nova safra, é mostrado com um roçar do indicador direito na palma da mão esquerda. Cada sinal é acompanhado de uma expressão facial que o complementa. É impossível manter uma conversa sem olhar o interlocutor.
Embora antiga, a Libras só veio a ser reconhecida oficialmente em 2005, devido ao decreto federal 5626 (hoje é, além do português, o único idioma oficial do país). Desde então, houve um aumento de políticas de inclusão. A disciplina tornou-se mandatória no curso de Fonoaudiologia; instituições federais de ensino foram obrigadas a contar com tradutores (ainda que nem sempre cumpram a meta); o Ines passou a dispor de um curso universitário.
Neste ano, a instituição criou um canal de TV pela internet e produziu um desenho animado inteiro em Libras. O número de alunos disparou.
Técnico em enfermagem do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Mario Sérgio de Souza, de 36 anos, cursa o primeiro semestre. A vontade de aprender Libras foi motivada pelo encontro com um paciente surdo, três anos atrás.
— Era uma criança de uns 7 anos. Nos comunicávamos por desenho — conta. — O menino tinha que se desdobrar para dizer o que sentia. Não dá para ter um paciente sem se comunicar com ele.
Conseguiu se matricular há dois meses, na segunda tentativa. Devido ao pequeno topete, foi “batizado” com um movimento da mão sobre a testa (o apelido em Libras é necessário para que as pessoas não tenham que soletrar letra por letra de cada nome). Convenceu um amigo do trabalho a se matricular, no próximo ano.
— No meu setor ninguém fala Libras. E no hospital também não conheço ninguém. Acho um erro — vaticina. — Deveriam ensinar Libras em escolas, como fazem com inglês e espanhol.
Supervisora da 5ª Promotoria do Idoso e da Pessoa com Deficiência, no Centro, Ana Paula dos Santos, de 35 anos, decidiu aprender Libras depois que passou a dividir a sala com o estagiário Jocsã Soares Gomes, 19 anos mais novo. Surdo desde o nascimento, Jocsã promoveu uma pequena revolução na repartição: também convenceu a recepcionista Sâmia Vieira e o assessor jurídico Marcio Luiz Ribeiro a se aventurarem na língua. De quebra, inventou sinais para cada um.
— No primeiro dia chamamos um intérprete de Libras da prefeitura, só para apresentar o trabalho a ele — lembra Ana Paula. — Depois, nos comunicamos por escrito.
Passados alguns meses, o grupo resolveu se matricular no Ines.
— Com a chegada do Jocsã, comecei a entrar em sites para aprender algumas palavras — conta Ribeiro, de 32 anos. — Descobri como se diz “bom dia”, “boa noite”, sem contar as bobeiras, como “tá paquerando” e “amo você”.
Diz que o interesse na nova língua independe da presença do estagiário:
— É uma linguagem bonita, teatral. E muita gente desse universo não consegue nos acessar. Um americano no Brasil pode aprender português. O surdo não tem essa opção.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/instituto-de-surdos-oferece-formacao-de-libras-para-ouvintes-10070756#ixzz2hFyd0vmE
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São Carlos sediará Fórum Internacional de Surdocegueira e Deficiência Múltipla
São Carlos sediará Fórum Internacional de Surdocegueira e Deficiência Múltipla
09.10.2013, Planeta Universitário
Durante a Semana Nacional da Surdocegueira,
nos dias 21, 22 e 23 de novembro, a Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar) sedia o V Fórum Internacional de Surdocegueira e Deficiência
Múltipla. Como parte da programação ocorrem também o VII Encontro
Nacional de Familiares de Pessoas com Surdocegueira e com Deficiência
Múltipla e o VIII Encontro Nacional de Pessoas com Surdocegueira.
O
Fórum, que tem como foco os estudos mais recentes sobre esses tipos de
deficiência, conta com a participação de pesquisadores da Noruega,
Escócia, Canadá, Estados Unidos e também do Brasil. Destinado a
acadêmicos, profissionais, familiares e pessoas que se interessem pelos
temas, o programa do evento apresenta conferências, palestras,
mesas-redondas e minicursos.
Além da inclusão, outros assuntos serão abordados, como a Síndrome de Charge e Cognição e Linguagem na pessoa com deficiência. Haverá também uma conferência sobre inserção social, atividades ao ar livre na comunidade e a arte na educação de jovens e adultos deficientes. A programação ainda conta com mesas-redondas sobre redes de serviços, nacionais e internacionais, para apoio as pessoas com surdocegueira e deficiência múltipla. Minicursos sobre interpretação, co-docência na educação da pessoa com surdocegueira e deficiência múltipla sensorial e comunicação tátil também compõem as atividades do Fórum.
No VII Encontro Nacional de Familiares de Pessoas com Surdocegueira e com Deficiência Múltipla serão discutidas a importância da família na educação dessas pessoas. Serão abordadas a transição para a vida adulta, a participação em equipes colaborativas e o empoderamento das famílias para tomada de decisões. Já no VIII Encontro Nacional de Pessoas com Surdocegueira, a atuação nos Conselhos Municipais e Estaduais de Direitos das Pessoas com Deficiência estará em pauta, assim como a identidade e a autogestão das pessoas com surdocegueira e as suas necessidades na Universidade.
Os interessados em apresentar trabalhos no Fórum podem enviar seus resumos até 10 de outubro, próxima quinta-feira, pelo email vforuminte@grupobrasil.org.br. Os projetos deverão ser inscritos em trabalho completo nas modalidades de Comunicação Oral ou Pôster. Os interessados em participar como ouvintes devem preencher a ficha de inscrição e enviá-la para o mesmo endereço eletrônico. Tanto o formulário, como as normas para envio dos trabalhos estão disponíveis em www.ahimsa.org.br/hotsite.html.
O V Fórum Internacional de Surdocegueira e Deficiência Múltipla é realizado pelo curso de Licenciatura em Educação Especial e o Programa de Pós-Graduação em Educação Especial (PPGEEs) da UFSCar, único no Brasil, juntamente com as associações que trabalham com pessoas com deficiência. Mais informações pelo telefone (11) 5081-4633.
Falando sobre de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) no teatro Tribos em SÃO PAULO. PROGRAMA ENCONTRO
Encontro com Fátima Bernardes - Programa de Terça-feira, 08/10/2013, na íntegra:
http://globotv.globo.com/para-assinantes/encontro-com-fatima-bernardes/t/integras/v/encontro-com-fatima-bernardes-programa-de-terca-feira-08102013-na-integra/2874896/
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