Eu sei o que é ouvir muito bem com 
os dois ouvidos. Sei o que é não ouvir com ouvido nenhum. Sei o que é 
ouvir muito bem com dois aparelhos auditivos. Agora sei também o que é 
ouvir apenas com um aparelho auditivo. Em breve saberei como é ouvir com
 um aparelho auditivo e um implante coclear. E claro que também vou 
testar como é ouvir apenas com um implante coclear. Quem sabe, um dia, 
saberei como é ouvir com dois implantes cocleares.
Nessa longa jornada, que começou quando eu tinha uns cinco anos de idade, tive muitos casos de ódio por aparelhos auditivos
 – aquela babaquice do ‘intracanal invisível’ , AASI’s mal adaptados, 
fonoaudiólogas interessadas somente em $$, etc. Fazendo uma 
retrospectiva, percebo claramente que o Pure Carat foi – e ainda é, pois é ele que uso no ouvido esquerdo – o meu grande amor. Esse aparelho auditivo me fez reaprender a amar ouvir música,
 coisa que já tinha deixado de lado há muito tempo. Me permitiu estar 
tantas vezes no trânsito e de repente ouvir E entender alguma palavra em
 inglês. Me fez sentir normal ao me deixar me conectar com meu notebook e
 assistir vídeos no YouTube enquanto ouvia as músicas direto nele. Me 
fez sentir segura todas as vezes em que viajei sozinha. Me trouxe 
felicidade ao cancelar aquele barulhão horroroso de vento (vento + AASI=
 the horror) em lugares como praia, fazenda e piscina. Me deu nós no 
coração ao me permitir ouvir os resmungos chorosos do meu cachorrinho. 
Me surpreendeu ao me deixar ouvir a torneira do banheiro pingando. Não 
me deixou sentir medo quando precisei ficar sozinha em casa. Me fez dar 
boas gargalhadas ao ouvir as vozes de personagens de meus seriados 
favoritos pela primeira vez. E, graças a ele, pude, mesmo com 
surdez profunda, gravar para sempre na cabeça e no coração os timbres 
das vozes da minha família, dos meus amigos e de pessoas que foram muito
 especiais na minha vida.
Só de escrever isso, eu choro. É uma mistura de agradecimento com gratidão eterna.
 Ainda bem que fui capaz de deixar minha teimosia de lado, voltar a usar
 aparelhos, me apaixonar por eles e, assim, ter passado os últimos anos 
estimulando meu nervo auditivo e minha memória auditiva – se não fosse 
isso, não acho que teria sido candidata ao IC. Sempre soube que amava 
profundamente meu Pure Carat, mas a ficha só caiu 
aquela vez em que perdi o par horas antes de uma viagem. Me desesperei, 
fui procurar no lixo, tremia que nem vara verde só de pensar em mim sem 
eles. Durante muito tempo até hoje – e durante muito tempo ainda – eles foram e serão meus melhores amigos.
 Meu dia só começa depois que ‘visto’ meu Pure. Me sinto inteira, me 
sinto gente, me sinto em paz. Sem eles, me sinto nua e totalmente 
desprotegida.
Hoje o Pure direito 
voltou do conserto (foto acima). Na véspera da minha cirurgia de IC ele 
parou de funcionar, o que chegou a parecer um sinal de ‘estou me despedindo antes de não ser mais necessário‘. Não posso mais usá-lo, mas olho pra ele e sinto uma pontada no peito de saudade de tudo o que ele me dava. Tenho esperança de que o IC vá me dar mais ainda, mas meu amor pelo Carat é eterno e incondicional. Talvez quem também o use entenda um pouco o meu sentimento…
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